Educação do Estado em queda

Leticia Szczesny
Jornalismo de Dados — UniRitter
5 min readMay 13, 2017

Número de professores estaduais em exercício em Porto Alegre diminui a cada ano. Salas de aula disponibilizadas pelo governo não são utilizadas

Leticia Szczesny e Taina Flores

A pedagoga Andresa Ribeiro Basso, 40 anos, escolheu a profissão por gostar de crianças. Depois de lecionar em duas escolas e ter pouco reconhecimento como profissional da educação e um baixo salário, o que desvaloriza e desmotiva o professor, optou por largar o ofício. “Vários colegas e amigos desistiram de lecionar pelo fato do Estado não reconhecer seus profissionais e desvalorizar seu trabalho. Se eu tivesse a oportunidade de voltar a dar aulas, seria em uma instituição privada”, diz Andresa. O caso da professora não é único no Estado. O Rio Grande do Sul vem formando cada vez menos professores para atuar na área. Segundo dados da Secretaria de Educação, o número de professores em exercício nas escolas estaduais de Porto Alegre diminui a cada ano.

O motivo principal são os baixos salários ou o não pagamento dos mesmos. Assim, os estudantes, ou até mesmo os profissionais que são formados em pedagogia ou licenciatura em letras, não se sentem estimulados a trabalhar na área. Dados do Censo Escolar revelam que em 2010, 6.240 professores atuavam nas escolas estaduais de Porto Alegre. No ano seguinte menos 56 professores lecionavam nas escolas.

No intervalo de 2010 a 2013, houve um pequeno aumento no número de docentes. Em 2012, cerca de 6.284 professores trabalhavam na Capital, uma quantidade maior do que a encontrada em 2010. Já em 2013 foi totalizado o maior número de profissionais atuantes, com 6.377 professores ao todo. Contudo, houve uma queda significativa entre 2014 e 2015. Cerca de 6.091 educadores atuavam em 2014. E esse número baixou reduziu para 5.946 em 2015, uma queda de 145 atuantes.

Dados retirados do site da Secretaria Estadual da Educação

Desligamento dos professores

Segundo a presidente do Sindicato dos Professores Estaduais do Rio Grande do Sul (CEPERS), Helenir Schürer, no ano passado, em todo o Estado, cerca de 8 mil profissionais largaram a profissão. “Alguns buscando outros meios de trabalho, muitos se aposentando, com medo de perder os seus direitos. O último ano foi o que teve a maior saída de profissionais que se aposentaram”, afirma a professora. Essa queda, porém, não está relacionada a falta de alunos. É o oposto: existem alunos que não possuem professores, devido à falta dos mesmos.

No primeiro gráfico a queda no número de alunos e no segundo a queda no número de professores/Dados retirados do site da Secretaria Estadual da Educação

Ainda conforme Schürer, é preocupante a massa de profissionais se retirando das escolas, pois em sua maioria atuam com amor, mas precisam desistir de lecionar por questões financeiras. “A nossa preocupação é que quando eles se retiram, porque não tem condições de sobreviver, se abre um espaço para aqueles que não são totalmente apaixonados”. O governo tem proposto a ideia de entregar a educação para a iniciativa privada. No estado do Paraná, por exemplo, prefeituras estão realizando leilões pelo menor preço na contratação de professores. “Dai é o fim da educação; é o fim da possibilidade de desenvolvimento e crescimento de um estado”, afirma a presidente do CEPERS.

Na quinta-feira, 4 de maio, foi feita a renovação dos contratos emergenciais de 19.980 professores. A aprovação do projeto na Assembleia Legislativa ocorreu em 12 de abril deste ano. A votação ocorreu quatro meses depois do encerramento dos vínculos anteriores, situação que gerou críticas entre a oposição ao governo de José Ivo Sartori. Ainda assim, de acordo com a Secretaria Estadual de Educação, os alunos não tiveram prejuízos. Um acordo entre o Executivo e os deputados faz com que, mesmo sem a aprovação do projeto, os docentes atuem nas escolas e recebam salários. Também houve a prorrogação dos vínculos de 11 mil servidores de escola, de 900 orientadores educacionais e de 600 supervisores escolares.

Salas vazias

O governo do Estado propôs uma medida para diminuir as salas de aula poupando com os servidores que atendem os alunos. Por isso ocorre em muitas escolas, a união de turmas, diminuição de turnos e de carga horária. “Quando tu enxugas a quantidade, aumentando o número de alunos por sala de aula, é obvio que vão sobrar salas. Há uma ação direta e incorreta do governo em colocar em uma mesma turma, alunos de idades e níveis escolares diferentes”, afirma a presidente do Sindicato dos Professores Estaduais do Rio Grande do Sul. A professora ainda relata que “se tivéssemos uma política de incentivo e valorização da associação, poderíamos ter cursos técnicos aproveitando esses espaços disponíveis”.

Segundo dados do censo escolar referentes aos anos de 2010 a 2012, o número de escolas estaduais existentes no Rio Grande do Sul variou entre 3.636 e 3.649, sendo que cerca de 150 escolas não foram utilizadas. Devido ao índice de profissionais formados e não atuantes no mercado de trabalho, diversas salas de aula estão superlotadas ou foram fechadas. Nos anos seguintes, de 2013 a 2015, o número de escolas aumentou, porém, a quantidade de 300 unidades disponíveis, não foram utilizadas.

O ano de 2012, que teve o maior nível de escolas estaduais utilizadas, com 3.519 para 3.694, foi resultado do número de professores em exercício, 6.284 atuantes. O Rio Grande do Sul tem declinado com o passar dos anos no número de acadêmicos formados. 2015 foi o ano em que a crise econômica atingiu o Brasil e suas áreas de trabalhos, tanto na formação de novos profissionais quanto nos trabalhadores frequentes e até mesmo corroborou com o fechamento de dezenas de escolas do RS, que caiu de 6.091, no ano de 2014, para 5.946 em 2015.

Em razão de ter assumido a frente da Secretaria Estadual da Educação no último dia 02 de maio, o secretário Ronald Krummenauer, preferiu ter conhecimento dos números antes de conceder entrevista. Porém, os números de salas vazias são realmente preocupantes, visto que cerca de 180 ambientes escolares por ano não são utilizados. Cabe a população questionar o governo, sobre a situação.

Dados retirados do site da Secretaria Estadual da Educação

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