O contínuo crescimento da AIDS no RS

Vitória Garcia
Jornalismo de Dados — UniRitter
7 min readDec 5, 2017

Apesar do fácil acesso ao tratamento e a formas de prevenção, o número de jovens gaúchos com AIDS continua crescendo

Por Giulia Mello e Vitória Garcia

A cada três pessoas infectadas pela AIDS em todo o mundo, uma tem entre 15 e 24 anos. Entre os jovens brasileiros na faixa de 20 a 24 anos, a taxa de detecção dobrou entre 2005 e 2015, passando de 16,2 casos por 100 mil habitantes para 33 casos por 100 mil. Entre os jovens gaúchos de 15 a 19 anos, a taxa de detecção era de 6,4 a cada 100 mil habitantes, em 2005, em 2015 esse número aumentou para 9,8. Na faixa etária de 20 a 29 anos, a taxa era de 54,5, em 2005, diminuiu para 40,8 a cada 100 mil habitantes, em 2015.

No ano passado no Rio Grande do Sul, 625 pessoas morreram de causa básica em decorrência da AIDS (Síndrome da Imunodeficiência Adquirida). De 2004 a 2016, foram registrados 17.393 óbitos por causa básica da doença. No mesmo período, o estado apresentou uma tendência significativa de queda no coeficiente de mortalidade, saindo de 11,9 óbitos a cada 100 mil habitantes, em 2004, para 10,2 em 2015. Ainda assim, são números duas vezes maiores que os números nacionais, 5,6 óbitos a cada 100 mil habitantes, em 2015.

Fonte: Boletim Epidemiológico HIV/Aids 2016

HIV entre jovens

Das 4.500 mil novas infecções por HIV (Vírus da Imunodeficiência Humana) em 2016 em adultos, 35% ocorreram entre jovens de 15 a 24 anos, no mundo.

No Brasil, desde o início da epidemia em 1980 até 2016, foram registrados 842.710 casos de AIDS. De acordo com o Ministério da Saúde, 112 mil pessoas vivem no país com o vírus do HIV e não sabem. O crescimento da doença na faixa etária entre 15 a 24 anos preocupa. O número de jovens de 15 a 19 anos com AIDS triplicou (de 2,4 para 6,9). Já os com 20 a 24 a taxa dobrou (15,9 para 33,1). Os dados foram feitos a cada 100 mil habitantes entre os anos 2006 a 2015.

No Rio Grande do Sul, em 2015 foram notificados e registrados 812 novos casos de pessoas com AIDS (482 homens e 330 mulheres). Os dados são de jovens de 15 a 29 anos. No mesmo ano, a taxa de pessoas que contraíram a AIDS na mesma faixa etária é de 25 a cada 100 mil habitantes no estado.

No Brasil, o Rio Grande do Sul é o estado com o maior número de casos de AIDS. A incidência supera em duas vezes a média do país. A taxa de pessoas com HIV/AIDS no estado em 2012 era de 43,1 casos a cada 100 mil habitantes e em 2015, 34,7 casos. No mesmo ano, Porto Alegre registrou 74,0 casos a cada 100 mil habitantes, maior do que a taxa nacional em 2016, que é de 19,1 a cada 100 mil hab.

No ranking dos 64 municípios de residência prioritários, a capital registrava em 2004, 95,6 casos de AIDS registrados a cada 100 mil habitantes. Em 2015, o município de Charqueadas registrou a maior taxa de detecção, 83,6 por 100 mil habitantes. Confira abaixo os dez primeiros municípios com as maiores taxa de detecção de casos de AIDS, notificados no SINAN (Sistema de Informação de Agravos de Notificação).

Fonte: Boletim Epidemiológico HIV/Aids 2016

HIV entre gestantes

No Brasil, de 2000 a 2016 foram registrados 99.804 casos de HIV em gestantes. Destes, a Região Sul responde por 30,8% (30.767), enquanto que o RS registrou 18.790 casos, 18,2% do total.

O RS ocupa o 1º lugar no ranking dos estados com a maior detecção de HIV em gestantes desde 2000, atingido seu ápice em 2015, com taxa de detecção de 10,1 casos para cada 1000 nascidos vivos, a maior taxa de detecção entre os estados brasileiros.

No que se refere a AIDS em menores de 5 anos, o RS vem apresentando uma redução progressiva nos últimos anos, chegando em 2015 em sua menor taxa (5,4 casos a cada 100 mil hab.).

Fonte: Boletim Epidemiológico HIV/Aids 2016

O que é HIV?

O Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV) é o causador da Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (Aids), que ataca o sistema imunológico. Sem o tratamento antirretroviral, o HIV afeta e destrói células específicas do sistema imunológico, impedindo o organismo de lutar contra infecções e doenças. Porém, ter HIV não é a mesma coisa que ter Aids, que é o estágio mais avançado da infecção.

O primeiro registro de Aids no Brasil foi em São Paulo, em 1980, mas só foi classificado como AIDS dois anos depois. A doença que já foi considerada sentença de morte por ser desconhecida, hoje possui tratamento, porém ainda existem muitos mitos sobre as formas de transmissão. Confira no gráfico abaixo as formas de transmissão do HIV/AIDS com maior incidência de 1990 a 2009.

Formas de Transmissão (risco por exposição)

Estágios do HIV

O HIV apresenta sintomas comuns ao da gripe como, febre, garganta inflamada, aumento dos gânglios linfáticos, erupções cutâneas, de 2 a 4 semanas após a exposição. Algumas pessoas infectadas com o vírus do HIV não apresentam nenhum sintoma por até 10 anos ou mais.

A infecção pelo HIV pode não aparecer no teste, mas as pessoas que têm podem transmiti-lo em todos os estágios da doença.

Entre 2 e 4 semanas após a infecção, os sintomas são similares a gripe, essa fase é denominada síndrome retroviral aguda (ARS) ou infecção HIV primária. No entanto, nem todas as pessoas desenvolvem ARS e algumas podem não apresentar os sintomas.

O segundo estágio costuma ser chamado de infecção HIV assintomática ou infecção HIV crônica, nesta fase, o vírus ainda está ativo, mas se reproduz em níveis muito baixos.

As pessoas que adotam uma terapia antirretroviral (ART) podem viver sob a latência clínica por décadas. Já os que não estão em tratamento, essa fase podem durar cerca de dez anos.

No último estágio, o sistema imunológico já está seriamente prejudicado e vulnerável a infecções e cânceres relacionados a infecções, as doenças oportunistas. Quando as células CD4 cai abaixo de 200 células por milímetro cúbico de sangue, o quadro clínico progride de HIV para AIDS. A contagem normal de CD4 fica entre 500 e 1.600 células/mm³.

Políticas Públicas no combate a HIV/AIDS

Tratamento

Os medicamentos antirretrovirais (ARV) surgiram na década de 1980 para impedir a multiplicação do vírus no organismo. Esses medicamentos ajudam a evitar o enfraquecimento do sistema imunológico. Por isso, o uso regular dos ARV é fundamental para aumentar o tempo e a qualidade de vida das pessoas que vivem com HIV e reduzir o número de internações e infecções por doenças oportunistas.

Prevenção Combinada

A prevenção combinada é uma série de ações preventivas que fortalecem o combate ao HIV/AIDS, que inclui: uso de preservativo masculino e feminino, testagem regular, teste rápido de HIV, acesso a profilaxia pré-exposição (PrEP) e profilaxia pós-exposição (PEP), teste durante o pré-natal, testagem e tratamento de outras infecções sexualmente transmissíveis (IST) e das hepatites virais, além do tratamento para todas as pessoas.

Em maio deste ano, o Ministério da Saúde lançou o protocolo para utilização da PrEP no SUS, que no primeiro ano de implantação atingirá cerca de 7 mil pessoas que fazem parte das populações-chave.

A PrEP consiste na utilização do medicamento antirretroviral por indivíduos não infectados pelo HIV, mas que se encontram em situação de elevado risco de infecção. Já a PEP, que é distribuída pelo SUS desde a década de 1990, deve ser utilizado após qualquer situação em que exista o risco de contato com o vírus HIV.

A utilização da PrEP e PEP é indicada, particularmente, para as populações-chave: profissionais do sexo, pessoas que injetam drogas, pessoas transgêneros, homens gays, homens que fazem sexo com outros homens e seus parceiros sexuais. A PrEP e a PEP não substituem a camisinha, que continua a ser o melhor método de prevenção contra as doenças sexualmente transmissíveis (DSTs).

Metas 90/90/90

As metas 90/90/90 fazem parte da estratégia de Aceleração da Resposta para o fim da epidemia de Aids como ameaça a saúde pública até 2030, e foram estabelecidas em maio de 2014 no “I Fórum Latino-americano e do Caribe sobre o contínuo da Atenção em HIV”, na Cidade do México.

Até 2020, a expectativa é de que 90% de todas a pessoas vivendo com HIV saibam que são portadores do vírus, 90% de todas as pessoas diagnosticadas com HIV tenham acesso ao tratamento antirretroviral e que 90% de todas as pessoas em tratamento tenham carga viral indetectável.

As Organizações das Nações Unidas (ONU) reconhecem o Brasil como referência no combate ao HIV/AIDS, hoje o Brasil tem uma das maiores coberturas de tratamento antirretroviral (TARV) entre os países de baixa e média renda, com mais da metade da população (64%) vivendo com HIV e recebendo TARV, enquanto que a média global em 2016 foi de 53%. Desde 1996 o Brasil fornece tratamento gratuito para AIDS, através do Sistema Único de Saúde (SUS).

O progresso brasileiro frente às metas 90/90/90

Fonte: Boletim Epidemiológico HIV/Aids 2016

Progresso gaúcho frente as metas 90/90/90

Fonte: Boletim Epidemiológico HIV/Aids 2016

1º de dezembro: Dia Internacional da Luta contra a AIDS

A data é celebrada desde 1988 no Brasil, e tem o objetivo de conscientizar a população sobre uma das doenças que mais mata no mundo. Não apenas informar as pessoas sobre os sintomas, perigos e formas de se prevenir da doença, o Dia Mundial de Luta contra a AIDS também tem a função de auxiliar no combate contra o preconceito que os portadores de HIV sofrem na sociedade por causa da doença.

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