Mulher não é mais sinônimo de maternidade

Tainá Fontella
Jornalismo de Dados — UniRitter
3 min readJul 10, 2017

Por: Amanda Rossato e Tainá Fontella

Aumenta o número de mulheres que adiam a maternidade ou optam por não ter filhos.

As mulheres buscam cada vez mais reconhecimento profissional e independência financeira. Com isso, abdicam a maternidade ou adiam para dedicar mais tempo a carreira. Segundo o IBGE, em 2013, 77,9% das mulheres em idade fértil usavam métodos contraceptivos para evitar a gravidez. O que antes era praticamente obrigatório, hoje se tornou uma escolha.

“Eu não planejei ter filhos, mas planejei ter uma carreira.” É desse modo que a jornalista e apresentadora Regina Lima responde ao ser questionada sobre sua vontade em ter filhos. Atualmente à frente de um programa diário de entretenimento na Band RS, que leva o seu nome, Regina garante que a vontade de ser mãe nunca falou tão alto a ponto de abrir mão de sua carreira para realizá-lo “Não é que eu não quisesse, mas também não tinha vontade de ter filhos. Não me enxergava com um filho nos braços, não me enxergava mãe.”

A jornalista foi casada duas vezes, e explica que seus ex-maridos também tinham profissões agitadas, que não lhes davam a estrutura para que tivessem filhos. “Por treze anos trabalhei aos domingos, e não existem creches nesse dia. Depois que me separei, faltou oportunidade, pois acredito que uma criança deve ser criada pelo pai e pela mãe”, diz. Regina tem quatro sobrinhos e conta que a irmã a influenciava em ter filhos. Já a mãe da apresentadora nunca a pressionou nessa questão e respeitou a escolha da filha. Aos 50 anos, a jornalista diz não se arrepender da decisão e garante estar feliz consigo mesma e realizada profissionalmente.

O FOCO NA CARREIRA PROFISSIONAL

A doutoranda em Psicologia Social e Institucional pela UFRGS, Daniella Dell’Aglio explica que muitas mulheres optam por priorizar a carreira, pois ainda vivemos em uma sociedade que não está preparada para acolher uma mulher com filhos de forma saudável. “A vida profissional acaba por ser afetada, porque ser mãe é um trabalho exaustivo muitas vezes não reconhecido”, afirma. “Por exemplo, se uma mulher tem um bom emprego, dificilmente será bem vista se precisar faltar em caso que o filho fique doente.” Para Daniella, se houvesse apoio e política para mães, provavelmente seria mais fácil tomar essa decisão sem significar um peso tão grande.

De acordo com o IBGE, em 2010 existiam 27 milhões crianças e adolescentes de 7 a 14 anos no Brasil. Mas a quantidade deve cair para 15 milhões em 2050. Uma redução de quase 50% em relação à população de crianças e adolescentes de 2010.

A administradora Michele Migliacci, 39 anos, diz que foi criada para ser mãe e que sempre sonhou com a maternidade. Porém, esperou um momento oportuno para isso. “Queria ter condições financeiras e psicológicas de criar um filho sozinha, sem depender de um marido ou de familiares”, conta Michele. Casada há 15 anos, ela diz que sofreu forte pressão da família logo que se casou para que fosse mãe. Contrariando a expectativa, deu à luz a filha Eduarda, aos 36 anos. Possui uma carreira estável, que proporciona todo conforto que planejava. Apesar de não ter vontade de aumentar a família, considera-se uma pessoa realizada e que não se arrepende por ter esperado.

No Rio Grande do Sul, em 2000, 6,7 milhões de mulheres em idade fértil tiveram em média 2,24 filhos. Dez anos após a pesquisa, este número caiu para 3 milhões. A média também caiu: foi de 1,78 filho por mulher, segundo o IBGE. A tendência é que este número diminua ainda mais, em função do acesso das mulheres ao ensino superior e ao mercado de trabalho.

Segundo Daniella, quando se trata de maternidade, é preciso analisar as diferentes realidades. Para mulheres de classe baixa, uma gestação pode se tornar independência, uma vez que é um motivo para sair de casa.

Já mulheres de classe média/alta costumam optar por adiar a maternidade pois possuem mais condições para isso, além de acesso facilitado a métodos contraceptivos. Para a psicóloga, não passar por essa experiência não significa ser “menos mulher”, tampouco uma mulher incompleta. “É difícil falar se há um ’arrependimento’, pois existem muitas formas de ser mulher. Ser mãe pode ser uma experiência incrível para uma, enquanto para outra nem tanto”, finaliza a psicóloga.

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