O genocídio de Ruanda: a guerra que eliminou quase 1 milhão de africanos

O ano de 1994 foi marcado pela decrescente taxa de expectativa de vida no país, que chegou a 13 anos de idade

Tableau Public

O ano é 1994. O número de baixas no genocídio de Ruanda é de aproximadamente 800 mil pessoas. Porém, o período que durou o massacre — 100 dias — é estarrecedor. A guerra entre as etnias hutu e tutsi marcou a história daquela época.

A população de Ruanda era unificada até a colonização pela Bélgica, após a Segunda Guerra Mundial. Durante a administração pelo país, a população ruandesa foi dividida nestes dois grupos distintos. Apesar de não haver sequer diferença cultural, a seleção foi feita por critérios como altura, cor da pele e formato do nariz. O objetivo era destacar a parcela da população com traços mais próximos ao estereótipo europeu– neste caso, os tutsis.

Contudo, após a independência de Ruanda, em 1962, a maioria hutu iniciou um processo de marginalização da etnia tutsi, que acabaram se refugiando para países vizinhos, como Uganda. Ao longo dos anos, um grupo de exilados tutsi iniciou a formação da Frente Patriótica Ruandesa (RPF), que invadiu Ruanda em 1990. A luta durou até 1993, quando um acordo de paz foi estabelecido. O Acordo de Arusha teve mediação das Organizações das Nações Unidas (ONU) e cria um governo de transição entre hutus e tutsis.

O fim da paz

O acordo durou pouco. Em 1994, tropas hutus, chamadas Interahamwe, são treinadas e equipadas pelo exército ruandês. Mensagens de incitação de ódio e confronto aos tutsis são transmitidas pela Radio Télévision Libre de Mille Collines (RTLM) e exaltavam as diferenças entre as etnias. A “caça aos tutsis” se tornava cada vez mais explícita, sobretudo a partir de abril, em que circulava o boato de que a minoria planejava o genocídio dos hutus.

O estopim para a guerra ocorreu em 6 de abril de 1994, quando um atentado derrubou o avião em que estava o presidente hutu Juvenal Habyarimana, que sobrevoava o aeroporto da capital, Kigali. Logo a ação foi atribuída aos tutsis ligados à Frente Patriótica Ruandesa. No dia seguinte, iniciou-se o massacre. Tropas hutus avançaram contra vilarejos tutsis e cidades de todo o país. Armas e listas de alvos foram entregues a grupos locais, que sabiam exatamente onde encontrar suas vítimas. Os nomes das pessoas a serem mortas foram lidos na rádio.

Solidariedade em meio ao conflito

Apesar das incitações de ódio e da guerra declarada contra os tutsis, muitos hutus ajudaram a etnia opositora a escapar das perseguições. Um caso notório foi o do gerente do hotel Mille Collines, em Kigali. Paul Rusesabagina foi responsável pelo salvamento de cerca de 1.200 tutsis, que os escondia no interior do hotel. Sua personalidade ficou conhecida mundialmente ao ser retratado no filme “Hotel Ruanda”, de 2004.

O genocídio no país contra os tutsis causou um deslocamento de proporções gigantescas da população para campos de refugiados localizados em áreas fronteiriças, como a atual República Democrática do Congo.

A MINUAR (Missão de Assistência das Nações Unidas para Ruanda), que iniciou sua mediação de paz a fim de supervisionar o Acordo de Arusha foi incapaz de conter o banho de sangue. Ao auge do massacre, em 21 de abril de 1994, o Conselho de Segurança da ONU decide reduzir de maneira considerável o efetivo militar no país para apenas 270 homens.

Entre os combatentes que fizeram parte da guerra civil, 35 mil estavam do lado do governo de Ruanda e outros 20 mil se inseria no grupo de rebeldes. O genocídio de Ruanda só terminou em 15 de julho de 1994, quando a Frente Patriótica Ruandesa derrotou o governo e se instalou definitivamente no poder.

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