Os estados campeões de gastos em 2017

Lidiane Moraes
5 min readDec 2, 2017

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Saiba onde os deputados mais utilizam suas cotas parlamentares no Brasil.

Por Deise Freitas, Lidiane Moraes e Bruno Raupp

Depois do boom econômico da década passada, o Brasil não se preparou para uma eventual crise financeira. Em março, o país divulgou um relatório onde apontava estar em seu segundo ano seguido de retração no Produto Interno Bruto (PIB). O PIB diminuiu, o desemprego aumentou, a inflação permaneceu alta e a economia entrou na sua pior fase em anos. Somente agora o Brasil ensaia uma recuperação. Na última prévia divulgada pelo Banco Central, a perspectiva é de retomada — embora lenta.

Professora de economia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Rosa Chieza alerta para os problemas gerados pela crise, “Na crise, o Estado, tanto em nível estadual quanto federal, passa a ser mais demandado em função do aumento da pobreza, do desemprego, da exclusão social e, justamente na crise, a arrecadação cai. Então, que milagre é esse que o estado vai atender?”

Apesar dos cortes orçamentários efetuados pelo governo, a Câmara Federal parece passar à margem da crise. São Paulo, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Acre e Pernambuco são os campeões no ranking dos cinco estados que mais gastam. Entre os parlamentares, os deputados de Roraima, Amapá, Goiás, Distrito Federal e Amazonas aparecem no topo do ranking.

São Paulo

São Paulo possui o maior número de deputados do país, 70, devido à sua vasta população — 12,04 milhões/2016. A Cota Parlamentar do estado é fixada em R$ 37.043,53 mensal por parlamentar, valor razoavelmente baixo comparado a outros estados. Entretanto, este resultado é previsível, pois o grande número de parlamentares é o principal motivo de estar liderando o ranking. O estado gastou R$ 21.844.744,00, em 2017. O deputado campeão de gastos é Alex Manente, do PPS. Até novembro deste ano, o parlamentar gastou a quantia de R$ 416.887,53.

Mato Grosso do Sul

Com uma Cota Parlamentar de R$ 40.542,84, o Mato Grosso do Sul possui um valor maior que dois dois primeiros estados. O estado gastou R$ 2.827.477,00. O deputado que mais gastou foi Dagoberto Nogueira, do PDT, acumulando, até novembro deste ano, o valor de R$ 466.366,66.

Mato Grosso

Localizado na região Centro-Oeste, o Mato Grosso conta com uma Cota Parlamentar de R$ 39.428,03, mensal por parlamentar. Mesmo sendo possuindo bem menos deputados que São Paulo, o Mato Grosso conquista a segunda posição no ranking de estados que mais gastam com deputados. O Mato Grosso gastou R$ 3.249.847,00, em 2017. O parlamentar que mais gastou em 2017 foi Professor Victório Galli, eleito pelo PSC. O valor, até novembro deste ano, chegou à quantia de R$ 422.065,79

Acre

O Acre possui a maior Cota Parlamentar por deputado do país, com o valor de R$ 44.632,46, por mês, para cada parlamentar. O valor que o estado gastou em 2017 foi de R$ 2.576.280,00. O deputado com o maior gasto neste ano foi Wherles Fernandes da Rocha, do PSDB, com a quantia de R$ 495.910,93.

Pernambuco

Pernambuco é o menor entre o cinco primeiros estados do ranking. Com uma Cota Parlamentar fixada em R$ 41.676,80, por parlamentar — valor maior que São Paulo, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, o estado, que teve um boom em sua economia há alguns anos, hoje em dia sofre com a atual crise. Seu gasto anual com deputados foi de R$ 8.775.657,00. O parlamentar que mais gastou neste ano foi Adalberto Cavalcanti, do AVANTE/PE. A quantia acumulada é de R$ 451.502,18.

Os Estados e o descontrole de gastos

Não foram somente os estados que investiram com gastos de seus deputados. Alguns deputados aparecem no ranking dos que mais gastam em suas gestões. Acompanhando as medidas pesadas do governo na tentativa de cortar custos do país, como a Reforma da Previdência Social, estes tentam sobreviver à situação. Desenvolver medidas para acalmar os prejuízos do desequilíbrio financeiro, seja no corte de pessoal ou mesmo a estagnação de obras públicas, foram algumas das tentativas para manter a estabilidade financeira, apesar do gasto em excesso de alguns dos seus parlamentares. Veja nos quadros abaixo o quantitativo gasto por político e quais as medidas que cada estado tem tomado para escapar da crise financeira:

Roraima

Roraima lidera o ranking de deputados que mais gastam segundo os dados divulgados pela Câmara dos Deputados, mesmo contando com apenas 8 parlamentares. No total, o valor acumulado é de R$ 1.407.576,23. Em contraponto, o estado sofre com o atraso de salários, problemas com pagamento do décimo terceiro salário. O parlamentar que mais gastou no estado foi Remídio Monai, do PR, com a quantia de R$ 497.618,67.

Amapá

O estado do Amapá aparece em segundo lugar conforme os dados divulgados e também conta com apenas 8 parlamentares. O valor acumulado é de R$ 1.400.434,46. Em 2017, sofreu com atraso de obras, de fornecedores e corte em investimentos. O deputado do estado que mais gastou este ano foi Vinicius Gurgel, do PR, com a quantia de R$ 465.175,17.

Goiás

Goiás aparece em terceiro lugar com os deputados que mais gastam, entretanto, possui 17 parlamentares, o dobro do dois primeiros. O valor acumulado é de R$ 1.228.809,47. No início do ano, o governo decretou cortes em cargos para a redução de gastos. Ao todo, 1.335 cargos foram reduzidos. O parlamentar que mais gastou neste ano foi a deputada Flávia Morais, do PDT, com a quantia de R$ 401.631,37.

Distrito Federal

Mesmo não se tratando de um estado, o Distrito Federal, eixo político do país, ocupa o quarto lugar entre os deputados que mais gastam, contando com 8 parlamentares eleitos. O valor gasto é de R$ 1.202.600,81. Neste ano, ele enfrentou problemas financeiros no pagamento de fornecedores, atraso de salários, obras e realizou cortes de investimentos. O deputado que mais gastou foi Laerte Bessa, do PR, com a quantia de R$ 354.166,84.

Amazonas

Ocupando o quinto lugar na lista de estados que mais gastam, Amazonas conta 8 parlamentares eleitos, que gastaram a soma R$ 1.196.430,40 neste ano. A situação financeira do estado veio à tona em janeiro deste ano, quando ele apresentou crises no seu setor carcerário. O parlamentar que mais gastou foi Silas Câmara, do PRB, com a quantia de R$ 465.400,74.

A crise atual é generalizada, é de nível nacional. Ela foge do que vemos no dia a dia, do aumento do preço da gasolina ou da conta de luz. Os gastos realizados por parlamentares não é distante e não deve fugir dos olhos da população. Se há um parcelamento do salário dentro do funcionalismo, ele não existe para os políticos que gastam sem controle seus recursos.

Em um momento de atual crise política e econômica, e das margens da de uma eleição presidencial, é preciso estar atento a todos os aspectos que tangem à esfera pública. É um dever de cada cidadão acompanhar as campanhas políticas com atenção e ter consciência no momento de votar, elegendo, não só deputados, mas políticos de todos os cargos que possuam responsabilidade fiscal e que não abusem de seus privilégios financeiros.

Além disso, é necessário fiscalizar os gastos de cada parlamentar elegido e tentar ampliar a consciência de cortes para combater a atual conjectura, sendo uma das centenas de maneiras de enfrentar os abusos cometidos pela classe política no país.

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