Sul do país é a região com mais casos de deficiência visual

Helena Ribeiro
Jornalismo de Dados — UniRitter
5 min readJul 10, 2017

Segundo dados do IBGE, idosos são os mais afetados

Por: Helena Ribeiro e Adriana Michelon

Um estudo feito pelo Conselho Brasileiro de Oftalmologia em 2015 concluiu que 75% de toda a cegueira no mundo poderiam ter sido evitadas. De acordo com o Agência Internacional para a Prevenção da Cegueira (IAPB), a maioria dos casos de cegueira está distribuída entre os países subdesenvolvidos. Nas economias mais desenvolvidas os casos de cegueira devido a catarata são de 5%, mas esse percentual aumenta para 50% nos países mais pobres.

No Brasil, só 0,4% são deficientes visuais de nascença o restante foi adquirido. Estima-se que 350.000 pessoas sejam cegas por catarata no país. Mundialmente, essa é a doença que mais causa cegueira, chegando a representar 39% dos casos em todo o mundo.

Principais causas de cegueira no mundo FONTE: Conselho Brasileiro de Oftalmologia

O último censo do IBGE sobre pessoas com deficiência mostra que 6,2% da população total brasileira têm algum tipo de deficiência. A deficiência visual é justamente o principal tipo, com a região sul representando o maior número de casos. Além disso, somente 6,6% das pessoas com deficiência visual usam algum recurso para auxiliar a locomoção, como bengala ou cão-guia, e 4,2% participam de serviços de reabilitação.

Percentual de deficiência visual por região do Brasil FONTE: IBGE- Pesquisa Nacional de Saúde 2013

Idosos são os mais afetados

As principais causas de cegueira e deficiência visual estão associadas ao envelhecimento. O Brasil é o quinto país mais populoso do mundo e apresenta uma grande taxa de aumento da expectativa de vida. Essa realidade acaba também contribuindo para o aumento da prevalência da deficiência visual no Brasil. O Conselho Brasileiro de Oftalmologia relata que a que essa deficiência é desigualmente distribuída entre as faixas etárias, os idosos são os mais afetados. Mais de 82% da população cega mundial tem mais de 50 anos.

Pensando nesse grupo de pessoas com deficiência visual, a Associação de Cegos Louis Braille fundou a Casa Lar do Cego Idoso. “A Associação de Cegos Louis Braille é mais para esporte e lazer, então se refletia muito… e o idoso, quem vai atender?”, conta Adão Alcides Zanandrea, um dos co-fundadores do lar. Atualmente, a casa tem 17 anos em atividade e atende 56 idosos.

Faixada da Casa Lar do Cego Idoso. Foto: Divulgação ACELEB

Adiles Ramos Serpa, de 71 anos, participava de corridas e outras atividades promovidas pela Associação. Agora, é moradora do lar. A família quer que ela vá morar com eles em Sapiranga, região metropolitana de Porto Alegre, mas, para Adiles, seu lugar é no Lar do Cego Idoso. “Na minha família eu vou ficar muito isolada, cada um tem sua vida. E eu gosto daqui, a equipe é muito boa, eles fazem o possível para agradar a gente”, conta a moradora. Adiles perdeu a visão com 21 anos e, conforme ela, a associação e casa foram fundamentais para que ela pudesse se sentir melhor consigo mesma e até superar a depressão, após perder o marido.

A acessibilidade ainda é o maior desafio

Quando uma pessoa perde a visão ela precisa aprender a viver de novo. Existe um novo jeito de escrever, um novo jeito de se locomover, novo jeito de praticar esportes, novo jeito de usar computadores. Até mesmo as coisas que eram triviais se tornam novas. Mas, para a estudante de psicologia Franciele Brandão, esse é um dos menores problemas. Franciele perdeu a visão aos 18 anos devido a um descolamento de retina. Hoje com 30 anos, o desafio real são as coisas que nunca dependeram do próprio esforço: a acessibilidade nas ruas e nos estabelecimentos na cidade. “Tem muita coisa que precisa ser mudada para termos uma autonomia 100%. A acessibilidade fica muito a desejar ainda”, diz a estudante.

Em Porto Alegre, muitos dos locais onde foram instalados pisos táteis, como paradas e calçadas, receberam instalações inadequadas. Um exemplo disso é o piso instalado na rua Marechal Floriano Peixoto, no centro da cidade. O relevo do piso fica no mesmo nível o que acaba dificultando a detecção para os deficientes visuais, que muitas vezes acabam no meio da rua que é inclusive um local onde circula inúmeras linhas de ônibus. E assim, o que era para oferecer mais facilidade na locomoção dessas pessoas se torna quase uma armadilha.

O piso tátil auxilia na locomoção dos deficientes visuais. Foto: Adriana Michelon

Segundo dados do Datapoa, em Porto Alegre existem 1065 semáforos da cidade e apenas 130 são sinaleiras sonoras. Mas, conforme Odilon Fernandes de Souza, presidente do Conselho Municipal de Assistência Social de Viamão, muitas dessas sinaleiras estão com defeito ou são muito baixas. Odilon, que já contribuiu com muitas conquistas de acessibilidade para os deficientes visuais, acredita que essa situação é um retrocesso. “Nós fomos que nem uma escadinha de abrir, fomos subindo e conquistando, mas, quando chegamos lá em cima, tinha uma lado para descer e hoje estamos no degrau de baixo”, lamenta Odilon.

Odilon é também a prova do quanto os serviços de reabilitação são importantes para os deficientes. O atual presidente do Conselho nasceu com retinose pigmentar, doença que o levou à cegueira aos 48 anos. Logo depois, Odilon começou a praticar esportes na Associação de Cegos Louis Braille e chegou a ganhar medalhas em um campeonato em Brasília. Graças a esse sentimento de inclusão, ele participou de vários conselhos e secretarias ligadas à acessibilidade. Também ajudou em várias conquistas para os deficientes visuais.

Para Franciele, além de ter acesso a esses serviços, conviver com pessoas com a mesma condição ajuda a enfrentar essa nova etapa. “Acredito que o que me motivou bastante a ir atrás das coisas foi que eu tinha muitos colegas com mesma deficiência que eu, e eles me motivaram bastante, então a interação entre as pessoas é fundamental”, explicou.

A inclusão de pessoas com deficiência na sociedade é lei no Brasil. Mas, para isso, é fundamental que as medidas de acessibilidade sejam eficazes. “Isso é inclusão, mas não é integração, e nós queremos é ser integrados”, afirma Odilon.

--

--