Um dos maiores emissores de gases do efeito estufa, Brasil negligencia suas metas no Acordo de Paris

Larissa Pessi
Jornalismo de Dados — UniRitter
4 min readJul 10, 2017

A saída dos Estados Unidos do Acordo de Paris teve ao menos um aspecto positivo: o aquecimento global e as mudanças climáticas voltaram a ser pauta no mundo. Esse foi o tema central na última reunião do G20, grupo formado pelas 19 maiores economias mundiais mais a União Europeia. Todas as lideranças presentes — com exceção de Trump — reafirmaram seu compromisso com o acordo e o definiram como irreversível. Por ser um dos maiores emissores de gases causadores do aquecimento global e pelos avanços no desmatamento na Amazônia Legal, o Brasil é fundamental no debate sobre o tema.

Assinado em 2016 por 194 países, o Acordo de Paris estabelece a diminuição da emissão de gases causadores do efeito estufa, fenômeno natural que tem sido intensificado com a ação humana. Caso nada seja feito, é previsto que a temperatura mundial aumente 2,7ºC até o final do século 21. O acordo busca evitar que esse aumento seja superior a 2ºC (em relação aos níveis pré-industriais).

Cada país signatário estabeleceu suas próprias metas. O Brasil, como um dos 10 maiores emissores de gases causadores do efeitos estufa — gases carbônico, metano, óxido nitroso, perfluorcarbonos, hidrofluorcarbonos e SF6 — , prometeu, até 2025, reduzir suas emissões em 37% abaixo dos níveis de 2005, e em 43% até 2030. No longo prazo, o governo brasileiro se comprometeu a aumentar o uso de fontes de energia renováveis, como eólica e solar, e zerar a emissão de gases do efeito estufa até o final deste século. Outras metas incluem zerar o desmatamento da Amazônia Legal, restaurar 12 milhões de hectares de florestas até 2030, e recuperar e reflorestar áreas desmatadas.

O gás carbônico, CO2, é visto como o maior causador do aquecimento global. Atualmente, seus maiores emissores são a China e os Estados Unidos. No Brasil, em 2013 a emissão atingiu um recorde: 503.677 toneladas. O CO2 é produzido principalmente na geração de energia a partir de combustíveis fósseis, como o petróleo. Os gases do efeito estufa são necessários para a manutenção da vida na Terra — estão presentes no nosso processo de respiração e na fotossíntese, por exemplo. O problema é o seu excesso na atmosfera. Principalmente a partir da revolução industrial, quando o carvão e derivados do petróleo começaram a ser utilizados como fonte de energia, houve o seu aumento na atmosfera.

Um dos efeitos das mudanças climáticas pode ser visto na recente seca no Estado de São Paulo, causada pela escassez de chuvas. Entre as demais consequências já vistas estão a morte de parte de uma barreira de corais na Austrália devido ao aquecimento das águas, excesso de chuvas no inverno (causando enchentes), migração de pássaros e de culturas. Ainda, com o derretimento das geleiras, haverá aumento do nível do mar (que hoje é de 2mm a 3mm por ano) e, consequentemente, desaparecimento de ilhas.

As primeiras áreas a sofrerem com os efeitos do aquecimento global são as regiões polares, principalmente o Ártico. De acordo com Enoil de Souza Junior, pesquisador do Centro Polar e Climático da UFRGS e mestre em mudanças ambientais e geopolítica no Ártico, entre os anos 2020 e 2030, o gelo marinho existente na região deve desaparecer completamente durante o verão. E isso gera grande preocupação. “Esse solo armazena quantidades gigantescas de CO2 e de metano, armazenadas na última idade do gelo”, alerta. Apenas na Sibéria a quantidade de metano presente no solo corresponde a que atualmente se encontra livre na atmosfera. Com o derretimento do Ártico, os gases armazenados vão sendo liberados e contribuindo para o agravamento do aquecimento global.

Segundo Enoil, no Brasil o principal fator para o aumento de CO2 na atmosfera é o desmatamento. Com menos árvores para realizar a fotossíntese e “reciclar” o gás, mais dele se faz livre na atmosfera. Assim, o calor é retido na Terra, aumentando sua temperatura. Uma área que gera preocupação é a chamada Amazônia Legal, que abrange os estados de Roraima, Rondônia, Maranhão, Tocantins, Amapá, Pará, Mato Grosso, Amazonas e Acre. Entre os anos de 2000 e 2015, uma área equivalente à extensão do Tocantins foi desmatada na região.

Em doze anos, o desmatamento diminuiu 28,7% na Amazônia Legal. No entanto, desde 2013, ano com menor taxa nos últimos anos, houve aumento de 57,2%. Entre 2015 e 2016 o aumento foi de 22,3%. Só no ano passado, a área desmatada — 7.989 km² — correspondeu a 1.119 campos de futebol. Este aumento foi a justificativa para o corte de 50% na verba norueguesa destinada para o combate do desmatamento no Brasil.

A primeira-ministra da Noruega, Erna Solberg, também anunciou que os cortes devem ser maiores a cada ano que os resultados apresentados pelo Brasil forem negativos, podendo zerar já em 2018. A Noruega era, até então, o principal país financiador do Fundo Amazônia, um dos programas de proteção da Floresta Amazônica, criado em 2008.

O país nórdico já havia destinado ao Brasil o equivalente a R$ 2,8 bilhões. O acordo entre os dois países previa que o valor dos repasses corresponderiam às taxas de desmatamento.

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