Uma viagem para dar à luz

Tainá Fontella
Jornalismo de Dados — UniRitter
3 min readJul 10, 2017

Por: Amanda Rossato e Tainá Fontella

No dia 03 de julho de 2015, Keylla Amaral, na época com 18 anos, acordou com fortes dores e sentiu que já estava na hora de sua filha vir ao mundo. Organizou seus pertences e partiu rumo a Porto Alegre, pois em Guaíba, o município que mora, não há maternidade pelo SUS. Keyla teve que se deslocar 31,3 km para dar a luz a Anna Cristina. Chegando à capital, passou por vários hospitais até conseguir leito no Fêmina. “Foi horrível! Achei que ia ter a minha filha na rua. Passei por três hospitais, mas nenhum tinha leito, até que me encaminharam para o Fêmina e lá a Ana Cristina nasceu”, relata a mãe. Hoje a filha está prestes a completar dois anos, carregando na certidão de nascimento o título de porto-alegrense. Na prática, veio à cidade natal poucas vezes.

A realidade de Keylla não é diferente das muitas mães que residem em Guaíba e precisam se deslocar até a capital gaúcha para conseguir leito. O último bebê nascido em uma maternidade do SUS no município completou sete anos de idade. Conforme o Cartório de Registro Civil da cidade, o nascimento ocorreu no Hospital Nossa Senhora do Livramento, em julho de 2009.

O caso de Guaíba não é o único. Apenas 203 das 497 cidades do Rio Grande do Sul, o que corresponde a 40,85%, possuem bloco cirúrgico. Hoje, há 1.077 leitos disponíveis para partos no Rio Grande do Sul, conforme dados do Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (Cnes) do Ministério da Saúde atualizados em fevereiro.

SUPERLOTAÇÃO AGRAVA O PROBLEMA

A manicure gaúcha Pâmela Cardoso não teve a mesma sorte de Keylla. Seu caso ficou conhecido após dar à luz em um banco de madeira, na porta do Hospital Santa Casa, em Porto Alegre. Pâmela começou sua peregrinação por um leito na madrugada, quando chegou ao Hospital Fêmina e não pode ser internada devido a superlotação. “Eles disseram que não tinha vaga, que não adiantava nem entrar, sendo que eu já estava com dor e a criança quase nascendo”, declara a manicure, em entrevista para o portal G1. Enfermeiras da emergência tiveram que realizar o parto. Pâmela deu à luz um menino saudável. Callebe nasceu com 3,8 quilos e 53 centímetros de comprimento.

Informações repassadas pela assessoria do Hospital Santa Casa, mostram que a superlotação é um problema que atinge a maioria dos hospitais de Porto Alegre. Sendo assim, o pessoal da admissão está orientado a abrir boletim somente para as pacientes que tenham realizado o pré-natal no próprio hospital. Porém, chegando em estado de emergência, trabalho de parto avançado, sangramento ou qualquer emergência obstétrica, os médicos optam por atender.

De acordo com a Secretaria de Saúde de Porto Alegre, as maternidades da capital atendem, prioritariamente, as gestantes encaminhadas pelas Unidades Básicas de Saúde (UBS) do município. Garante ainda, que é direito da mulher definir durante o pré-natal o local onde ocorrerá o parto. Vale ressaltar que os partos podem ser realizados nos centros de parto normal, em casa ou em qualquer hospital ou maternidade do Sistema Único de Saúde (SUS).

Conforme o Ministério da Saúde, seis em cada dez municípios do Rio Grande do Sul não têm maternidade na rede pública. Segundo a Secretaria de Saúde do Estado, não é viável destinar recursos para regiões de pouca demanda. É o que acontece nos municípios de Guaíba e Portão.

Além da superlotação, outra causa que agrava a situação das maternidades gaúchas é o fechamento das já existentes. O registro de partos divulgado pelo IBGE em 2009, mostra que 31% dos estabelecimentos de saúde do Rio Grande do Sul, possuem atendimento de emergência obstétrica.

A queda foi ainda mais expressiva na Região Metropolitana de Porto Alegre, 13,7%. A situação pode declinar mais com o fechamento da maternidade do Hospital de Viamão. A direção promete criar um serviço ambulância para levar gestantes ao Hospital de Alvorada, que é voltado à atenção das mães e dos bebês. O percurso dura cerca de15 minutos. O hospital diz ainda que pretende usar a área liberada na atual maternidade para ampliar atendimentos em traumatologia e neurologia.

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