O mercado ao redor da Expointer

Robson Hermes
Jornalismo Econômico UniRitter Fapa
7 min readSep 7, 2017
Comerciantes e ambulantes vendem seus produtos ao redor do Parque de Exposição Assis Brasil — Crédito: Robson Hermes

O comércio durante a feira acontece dentro e fora do parque. Em bancas de associações ou como ambulantes, os comerciantes visam lucro nesse negócio temporário

Por: Ana Paula Lima, Nathalia Kerkhoven, Robson Hermes e Thayane Lopes

A Expointer é um evento que reúne negociadores da agricultura familiar e empresarial, pecuária e setor de máquinas dos mercados nacional e internacional. Apesar de ter apresentado números decrescentes em suas edições anteriores, continua movimentando quantias bilionárias.

A exposição de animais, as inovações tecnológicas do maquinário, as especiarias da produção familiar e os shows atraem milhares de visitantes. O mercado que a Expointer movimenta não se atém somente dentro das dependências do parque. Dos portões do Parque Estadual de Exposições Assis Brasil para fora, há uma intensa circulação de pessoas que, com o olhar de quem empreende, podem representar um mercado a ser explorado.

Fabiane Flores e o palhaço contratado abordam clientes em frente à entrada de pedestres — Crédito: Robson Hermes

Proprietária de uma banca em São Leopoldo, cidade próxima a Esteio, Fabiane Flores, 32 anos, viu na Feira uma possibilidade de expandir, temporariamente, o seu negócio. Ela deixa o marido administrar a banca, que comercializa brinquedos, enquanto trabalha na feira. Instalada ao lado do portão de entrada de pedestres, Fabiane dispara bolhas de sabão para atrair olhares enquanto o palhaço, contratado por ela, aborda mais clientes. O faturamento da banca temporária não atinge o dobro do lucro do negócio fixo, mas é o suficiente para que a vendedora queira retornar mais vezes. “Esse é o primeiro ano que exponho aqui. Primeiro de muitos”, afirma.

A pluralidade de países da Expointer não fica exclusivamente nos estandes do Pavilhão Internacional. Em uma das bancas que cercam o parque, um chamado tímido de um sotaque misturado aborda as pessoas que passam. Vindo da República da Serra Leoa, na África, Ibrahima Sow ou Billy, como prefere ser chamado, aborda os clientes com seu português ainda marcado pelo seu idioma natal, o inglês. A banca de Billy comercializa pelúcias, relógios, réplicas de cordões de ouro e prata, mas as obras de artesanato em madeira são consideradas, pelo comerciante, o principal produto. Aos 51 anos, Billy não sabe precisar quando começou a trabalhar como artesão, pois, na sua terra natal, é cultural que se passe os conhecimentos de artesanato de pai para filho.

Morando há dois anos em São Paulo, o artesão foi atraído pelo mercado que a grande movimentação de pessoas que a Expointer proporciona. Para expor o trabalho em uma banca, os comerciantes precisam fazer parte de alguma associação. Billy faz parte da Associação Feira da Rua da Praia (Asferap).

Billy comercializa eletrônicos, pelúcias e artesanato em sua banca em frente à Expointer — Crédito: Robson Hermes

Foi por meio dessa mesma associação que Paye Mboup, 22 anos, amigo de Billy, veio para a feira. Vindo do Senegal há 2 anos e meio, ele mora em Porto Alegre e vende fones, rádios e eletrônicos em geral. Ele, assim como Billy, expõe em diversas feiras, mas trabalha fixamente em Sapucaia.

Parcerias

O valor cobrado pelas associações para expor em uma banca nos arredores do Parque de Exposições, em média R$ 700, é considerado alto por alguns comerciantes. Por isso, formam-se parcerias como a de Nilo Antônio dos Santos e Antônio Muck, que dividem banca nas feiras que frequentam, desde quando se conheceram, há três anos, na Festa das Azaleias, em Araricá. Segundo os comerciantes, o funcionamento da parceria é bem simples. Os dois dividem a taxa para expor seus produtos e dividem o espaço da banca. O lucro dos produtos é individual.

Antonio Muck e Nilo Santos dividem bancas em feiras há 3 anos — Crédito: Robson Hermes

Nilo, 72 anos, produz artesanato com tecido, biscuit e conchas, que ele diz ser o produto que lhe dá maior lucro. Há cinco anos, a venda do artesanato em feiras complementa a renda do aposentado, que trabalhou 21 anos em um posto de gasolina. A banca que divide com Antonio é uma extensão do negócio que possui com a esposa, que expõe os produtos dentro da Expointer.

O aposentado conta que a ideia das conchas vem da Praia de Quintão, onde a família possui casa, e surgiu para que não ficasse parado. E ressalta que, mesmo de férias, não deixa de trabalhar. Em uma viagem à Praia do Gunga, em Maceió, trouxe 80kg de conchas por um preço baixo. O que aumentou a margem de lucro em suas peças, que variam de valores de R$ 5 a R$ 120.

“As vendas vão bem porque o trabalho é diferente do que se vê nas feiras” afirma Nilo. Por isso, abriu mão do artesanato com tecido, que é a matéria-prima mais vista nos locais onde expõe. Apesar da crise, ele alega que os produtos seguem rendendo lucro porque aprimorou sua forma de trabalho.

Antonio Muck revende pelegos de cortume na banca que divide com Nilo — Crédito: Robson Hermes

Antônio Muck, 48 anos, que divide a banca com Nilo, conta que a sua única fonte de renda é a venda de seus produtos em feiras. Há quatro anos, desde que fez um curso de modelagem no SENAI, ele produz e vende bolsas e cintos e revende pelegos do cortume. Esse foi o primeiro ano de Muck na Expointer e, apesar de o movimento ser grande, as vendas são fracas. O artesão diz que as ideias para bolsas saem, geralmente, de pesquisas em revistas, mas que também faz sob encomenda. Antônio trabalha sozinho e afirma que o parceiro é seu segundo pai e que as feiras são importantes também para trazer novas amizades.

Vendedores ambulantes na Expointer

Sem um lugar específico para venda, os vendedores ambulantes se deslocam para lugares com grande circulação de pessoas, como a Expointer, para vender seus produtos.

O artesanato possui grande visibilidade na feira. Além dos portões, está a de Cristiano Tavares, 46 anos, que prefere ser chamado de Cosme. Os utensílios à venda são latas de cerveja decoradas e mini panelinhas de pressão produzidas a partir de latinhas também.

Cristiano Tavares expoe seu trabalho em frente às bancas por considerar cara a taxa das bancas — Crédito: Robson Hermes

Nascido em Belém do Pará, ele começou a trabalhar com cerâmica na adolescência. Com um sorriso no rosto, o comerciante conta que a Expointer é um de seus locais preferidos para venda. Desde 2003 ele está presente e afirma que vende muitas latinhas na feira. Cristiano gostaria de vender dentro no parque, porém, para ele, é muito caro. “Eles cobram em torno de R$ 800 para vender dentro do parque e para ficar nas bancas é R$ 700, por isso que fico aqui fora, não tenho condições de pagar esses valores”, afirma.

Há 15 anos vendendo latinhas decoradas, Cosme, atual morador de São Leopoldo, tem três filhos e sua mulher ajuda a fabricar os produtos. O ambulante diz que, dependendo da exposição, consegue vender até 80 latinhas por dia. Ele paga em torno de R$ 4 para produzir cada lata decorada e vende de R$ 10 a R$ 20 cada, dependendo do tamanho delas.

O artesão conta que já vendeu muito no brique do Parque Farroupilha, que se forma aos domingos, mas que atualmente está muito difícil. “Lá não tem muito espaço para artesãos nos finais de semana”, afirma. No comércio na Expointer, Cosme sempre consegue alocar sua banca e vem todos os anos, pois é um dos eventos em que mais vende.

Atraído pela possibilidade de vender mais, assim como Cosme, Usmai Lai, 21 anos, também veio para Expointer. Com os produtos expostos sobre um tapete, ele comercializa bolsas, fones de ouvido e carregadores portáteis. Desde que veio do Senegal, há dois anos, ele trabalha em Porto Alegre, na avenida Assis Brasil. O comerciante soube, através de amigos, da feira e decidiu aproveitar o mercado momentâneo.

Adolfo da Silva vende balões há 3 anos — Crédito: Robson Hermes

Conhecedor dos lucros que vêm do entorno da Expointer, Adolfo da Silva chega a vender 100 balões durante o evento. Morador da capital gaúcha, aos 47 anos, ele vive da venda de balões temáticos infantis desde que perdeu seu emprego na construção civil, há três anos. O comerciante compra os balões a R$ 2, em Porto Alegre, e os revende na feira por R$ 10. Segundo ele, o trabalho não é fácil. “Gosto do que faço, mas ainda sinto falta do meu antigo serviço”, desabafa. Adolfo conta que o comércio na Expointer é muito rentável, por isso afirma que a feira é um lugar marcado para vir nos próximos anos.

A Expointer foca no mercado do agronegócio e na movimentação da economia de grandes empresários afins. A grande visitação e circulação de pessoas, que na visão dos organizadores da feira poderia render como lucro em ingressos, na visão de comerciantes, representa, muitas vezes, a oportunidade de alavancar seus negócios.

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