O mercado de museus na capital gaúcha

Aline Eberhardt
Jornalismo Econômico UniRitter Fapa
6 min readOct 6, 2017

Aline Eberhardt, Ariadne Kramer e Tainá Flores

Mais do que casas de memória, museus são casas da vida de uma região. Espaços que assumem cada vez mais sua função social junto à população, enquanto casas de conhecimento, vivência e transformação. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Museus (Ibram), o Rio Grande do Sul conta com 449 instituições — o que significa uma instituição para cada 25 mil habitantes. Essa é a melhor taxa de museus do país. A média nacional é de uma instituição para cada 57 mil habitantes.

Dos 497 municípios gaúchos, 177 possuem museus. Porto Alegre é o município com maior número: 77. Apesar de ter uma das melhores taxas do país, a proximidade da população para com os patrimônios históricos ainda preocupa o Sistema Estadual de Museus (SEM/RS).

Muitas instituições utilizam da internet para conseguir essa proximidade cultural. Eventos em mídias sociais acabam por atrair grande parte dos jovens. Um estudo de caso, realizado em 2010 por Tiago Balem, arquiteto e doutor em Design Estratégico, mostrou o perfil do público visitante de três das maiores instituições de artes visuais de Porto Alegre: Fundação Bienal do Mercosul, Fundação Iberê Camargo e Santander Cultural. Cerca de 40% das pessoas que frequentam museus têm graduação incompleta. 1,2% do público tem fundamental incompleto. Fundamental completo, ensino médio incompleto e completo estão empatados em 10%.

A faixa etária que mais frequenta a Fundação Bienal do Mercosul tem de 21 a 30 anos, e a que menos frequenta tem idade superior à 50 anos. Apesar de Porto Alegre favorecer e incentivar o acesso à arte com diversificadas programações, os números refletem que poucas pessoas têm o hábito de visitar museus.

Pensando nisso, e inspirado no Lange Nacht Der Museen (Longa noite dos museus) que acontece há mais de 20 anos em Berlim, a Noite dos Museus de Porto Alegre teve sua primeira edição no ano passado. O evento consiste em vários museus com exposições gratuitas funcionando ao mesmo tempo. Esse ano a segunda edição contou com mais de 50 mil visitantes em dez diferentes espaços culturais — número triplamente maior do que o registrado na primeira edição.

Além do incentivo à participação da vida cultural da cidade, o evento tem como objetivo promover a ocupação dos espaços públicos. Para os organizadores do evento, isso reflete no quanto o porto-alegrense gosta de cultura, mas por vezes não consegue se dedicar devido à correria do dia-a-dia.

Controle interno

Para controlar e estar por dentro do público visitante, o Ibram instituiu o Formulário de Visitação Anual (FVA) e o Sistema Estadual de Museus (SEM/RS), o Formulário Trimestral do Público Visitante dos Museus do RS. Os dois últimos FVAs (2014 e 2015) mostram que, de um ano para o outro, houve um aumento de 17% na visitação.

O FVA de 2015 também revelou que, dos cinco museus mais visitados na região Sul, três são gaúchos: Santander Cultural, Fundação Iberê Camargo e Museu de Ciências e Tecnologias da PUCRS.

Fonte: Instituto Brasileiro de Museus

A ferramenta criada para sistematizar a captação de dados e monitorar o número de visitantes nos museus gaúchos mapeados pelo SEM divide as instituições em sete regiões museológicas. A primeira região (capital e região metropolitana) mapeia 134 museus e o formulário trimestral registrou público visitante de 85 mil pessoas. O resultado total o Formulário Trimestral do Público Visitante dos Museus foi de 134.204 pessoas.

Os museus privados, quase todos mantidos por leis de incentivos fiscais, possuem as melhores estruturas e também conseguem cumprir sua função social no que se refere à preservação, comunicação e cultura. Já os municipais, de acordo com o SEM, possuem carências estruturais e de recursos humanos, com algumas exceções.

Politicamente falando

As leis de incentivo à cultura, recurso criado na década de 90, representam uma forma de apoio privado às instituições públicas, por meio da redução ou isenção de impostos. No Rio Grande do Sul, a Lei de Incentivo nos museus estaduais é um dos meios mais utilizados pelo governo para manter exposições.

O país, mesmo com avanços, carece de políticas públicas eficientes para a área cultural, articulação entre governos federal, estadual e municipal para realizar seus projetos, articular e estruturar ações. A Lei Rouanet, principal política de financiamento a cultura, geralmente beneficia apenas as grandes empresas, acabando por concentrar nas mãos de poucas instituições privadas eventos de grande porte que não traduzem a cultura do país.

Essas leis culturais foram criadas para estimular a iniciativa privada a investir quando o Estado fechava alguns de seus equipamento e reduzir seu orçamento, fazendo com que a cultura fosse financiada com dinheiro público na esfera privada.

No artigo sobre a importância das ações educativas nos museus do Rio Grande do Sul, Heloísa Helena Fernandes Gonçalves da Costa, doutora em Sociologia, explica o impacto dessas ações nas instituições museológicas. Segundo ela a valorização desta ferramenta deve atrair um maior número de visitantes para as instituições, onde a comunidade em geral e, principalmente, estudantes e professores, possam frequentar e se apropriarem dos mesmos, encontrando um ambiente de formação do conhecimento, mas também um local de diversão, lazer, independente da faixa etária ou rede escolar às quais pertencem.

O desenvolvimento de ações educativas nos museus surge como vital ferramenta com o objetivo de ir muito além do simples chamamento de público para o recinto, mas de construção de conhecimento, entretenimento, encantamento, possibilitando reconhecer e mudar atitudes, bem como modificar o modo de ver as coisas, os objetos, as pessoas e as relações entre nós mesmos.

Impacto na economia do estado

Um artigo publicado pela Revista Eletrônica do Programa de Pós-Graduação em Museologia e Patrimônio, mostrou como a cobertura da imprensa de Porto Alegre, na época da inauguração da Fundação Iberê Camargo (FIC), deu destaque aos impactos do novo museu para a comunidade. A divulgação da imprensa contribuiu para que a FIC se tornasse uma das maiores atrações turísticas da cidade.

Sendo um projeto de marco cultural significativo, não só pela consolidação da arte em Porto Alegre mas pelo nome que carrega a história de um importante artista brasileiro do século XX, a arquitetura do espaço é destaque dentre os museus contemporâneos e causa repercussão no meio urbano da capital.

Por ser um dos museus mais visitados da região Sul, a FIC, apesar de instituição privada, contribui para a economia gaúcha. As obras expostas e o conceito cultural da fundação atraem visitantes de todo o país, formando assim um impacto na área de turismo.

O Rio Grande do Sul é considerado um dos estados com melhor taxa de museus por habitante. Mas isso é suficiente para sustentar o ramo cultural? As instituições ainda procuram maneiras de conseguir melhor proximidade com o público. Fazer com que a visitação em fundações artísticas seja atividade corriqueira é o principal objetivo, tanto pela questão econômica quanto cultural.

Fontes bibliográficas:

Daiane Michele do Prado Arrojo. Associação de Amigos de Museus: estudo de caso da atuação das associações em prol dos museus de Porto Alegre. https://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/134682/000987212.pdf?sequence=1

Márcia Regina Bertotto. Análise das políticas públicas para museus no Rio Grande do Sul — estudo de sua eficácia no desenvolvimento das instituições museológicas gaúchas. http://repositorio.pucrs.br/dspace/handle/10923/1944

Mariana Sirena. Museu, cidade e imprensa: a cobertura local da inauguração do museu Iberê Camargo (POA).http://revistamuseologiaepatrimonio.mast.br/index.php/ppgpmus/article/viewFile/251/236

Tiago Balem. Rede de museus em Porto Alegre: um estudo de caso em design territorial. http://www.repositorio.jesuita.org.br/handle/UNISINOS/3906?show=full

Heloísa Helena Fernandes Gonçalves da Costa, Verlaine Fátima Wazenkeski. A importância das ações educativas nos museus. https://online.unisc.br/seer/index.php/agora/article/view/6336

Instituto Brasileiro de Museus — Formulário de Visitação Anual (FVA). Dados 2015 e 2014. http://www.museus.gov.br/acessoainformacao/acoes-e-programas/museus-e-publico/formulario-de-visitacao-anual/

Sistema Estadual de Museus RS SEMRS — Formulário de Visitação Trimestral. Dados 2017 e 2016.

MARGS Museu — Público visitante (tabela). Dados 2016 e 1º semestre 20167.

Lei de Incentivo à Cultura do Rio Grande do Sul (LIC/RS) — Pró-cultura RS LIC. http://www.procultura.rs.gov.br/index.php?menu=consultar_projetos

Fundo de Apoio RS — http://www.procultura.rs.gov.br/index.php?menu=consultar_projetos_fac

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