Parcelamento de salário e prolongamento da crise no Estado
Rarissa Grissutti e Daniela Knevitz
Percentual de inadimplentes no Rio Grande do Sul registra aumento em agosto de 2017, enquanto servidores estaduais passam pelo 21º mês de salários parcelados
O número de famílias endividadas no mês de agosto de 2017, no Rio Grande do Sul, aumentou. Conforme a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (PEIC) realizada pela Fecomércio-RS, referente ao mês de agosto de 2017, o percentual de famílias endividadas foi de 74,4%, superando o apurado no mesmo período, em 2016, que foi de 56,6%. Também representou avanço relativo ao mês anterior, julho de 2017, onde 72,9% das famílias estavam endividadas.
No mesmo mês, no país, o número de brasileiros inadimplentes subiu para 60,8 milhões e, somente no Estado, a taxa chegou a 4,8% . Já em agosto de 2016 existiam 58,3 milhões de inadimplentes no Brasil, destes 4,7% só no Rio Grande do Sul, segundo análise feita pela empresa de dados de crédito Serasa Experian.
O aumento do número de inadimplentes no Estado mostra relação com o aumento de famílias endividadas, como aponta a (PEIC). Em uma situação de caos nas finanças públicas, onde o parcelamento de salários de servidores estaduais chega ao 21º mês, a economia gaúcha sente inflar o número de devedores na praça e, ao longo de meses, as contas desequilibram no público e no privado.
Os atingidos em cheio
Segundo o levantamento do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE) os servidores estaduais somam, em um contexto familiar, uma população equivalente a de cidades como Canoas ou São Leopoldo. Pode-se imaginar o impacto de dívidas acumuladas ao longo de quase dois anos de salários parcelados. Conforme o apontamento, a própria arrecadação estadual sofre com a medida, já que a contribuição com cobranças públicas (IPVA por exemplo) acabam prejudicadas. Também, a dificuldade de pagar contas como de água, luz e telefone, ocasionam na diminuição da arrecadação de ICMS. Além de terem restrição ao crédito, já que muitos servidores acabam por não conseguir saldar dívidas de empréstimos com o próprio Banco do Estado (Banrisul), o que mais uma vez retroalimenta a dificuldade de arrecadação dos cofres públicos.
A população estimada do Rio Grande do Sul em 2017, conforme censo da Fundação de Economia e Estatísca (FEE), chega a mais de 11 milhões, desses mais de 272 mil estão inadimplentes. São mais de cem mil servidores, num universo que ultrapassa duzentas mil matrículas (mais de um vínculo) e que reflete na economia do Estado.
Segundo pesquisa feita pela própria reportagem (indicador panorâmico sem validade organizacional), as dívidas fazem parte da rotina dos servidores. Os apontamentos indicam utilização de cheque especial mais de três vezes em um período de dois anos, adesão ao crédito também nas mesmas proporções e , cada vez mais, o aumento de dívidas, oriundas na maior parte do cartão de crédito e financiamentos. Além da parcela que passa por dificuldades em arcar com pagamentos mensais como a educação de filhos.
A perspectiva de pagamento de dívidas contraídas, conforme a pesquisa, na maioria das vezes se torna longínqua, já que muitos acabam sem saber ao certo quando e como receberão seus salários no mês seguinte. Segundo a análise, a maior parte dos consultados tem perspectiva de quitar seus débitos daqui um ano ou mais.
Cada vez mais fundo na crise
Representando 62,6% do total de matrículas do Estado, os professores são uns dos que mais sentem a situação econômica desfavorável. Conforme o levantamento do DIEESE, os docentes não tem reposição salarial desde 2014, o que indica uma diminuição nos salários de 17,6% em comparação com o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) de agosto. Também, o período registra elevação do ICMS, que somente em 2016 teve crescimento de 4,36% acima da inflação.
Dessa forma, conforme levantamento feito pela reportagem, o maior apontamento de endividamento parte do cartão de crédito, onde as taxas de juros mensais giram em torno de 16,4% ao mês, podendo chegar a 400% anualmente. A partir da nova regra, que entrou em vigor no início de 2017, as operadoras podem contar 90 dias para que se efetue o pagamento da fatura, passado o período, o débito é parcelado e as taxas de juros giram em torno de 15% mensais.
Pode-se imaginar a bola de neve que tem sido a vida financeira dos que recebem salários parcelados. Situação essa que é atribuída à crise do Estado e que, conforme a análise de estudos e pesquisas, é uma medida que acaba agravando ainda mais a situação.
Banco de fontes:
Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (PEIC)- disponível em:http://links.fecomercio-rs.org.br/ascom/analisePEICago17.pdf
Levantamento do percentual de inadimplentes no Rio Grande do Sul e Brasil— Serasa Experian, informação via e-mail.
Levantamento sobre endividamento dos servidores estaduais — DIEESE, informação via e-mail.
Pesquisa desenvolvida pela reportagem — disponível em:https://goo.gl/forms/jsvJrCVbaqkVq9EV2
Censo populacional — FEE, disponível em:https://www.fee.rs.gov.br/indicadores/populacao/censos-demograficos/