Tempo de vacas nada gordas

Alice Fortes
Jornalismo Econômico UniRitter Fapa
6 min readSep 8, 2017

Ministro da Agricultura, Blairo Maggi, evidencia a importância de ajudar produtores a enfrentar a crise do mercado leiteiro.

Por Alice Fortes e Ana Hoffmann

Vacas no Parque de Exposições Assis Brasil (Foto: Alice Fortes)

A produção leiteira marca a 40ª Expointer no Rio Grande do Sul, localizada na Região Metropolitana de Porto Alegre. O Parque de Exposições Assis Brasil, na cidade de Esteio, foi palco para debates sobre: importação, adulteração, reivindicações e as inovações tecnológicas do setor. Os temas mais discutidos pelos produtores e governo terminam na mesa do consumidor.

A maior Exposição do Brasil é referência econômica para outras feiras nacionais. A Expointer é reconhecida internacionalmente e fazer parte deste evento é um prestigio para o negociante. E não é de hoje que o estado marca presença firme em relação a produção de leite. Com 3,634 bilhões de litros anuais (IBGE — 2010), significando 12% da produção nacional, o Rio Grande do Sul ocupa o segundo lugar como estado mais produtivo do Brasil. Consumir e produzir lácteos não tem sido muito fácil nos últimos anos, polêmicas envolvendo fraudes no leite e a concorrência imposta pelo pais vizinho, Uruguai, são vilões para o equilíbrio econômico do mercado de laticínios.

Entrevista na abertura da 40ª Expointer com o Ministro Blairo Maggi (Foto: Alice Fortes)

“O leite entrou no radar do Governo para ver o que é possível ser feito para ajudar a salvar os produtores gaúchos e brasileiros” diz o atual ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Blairo Maggi, analisando o clima de insatisfação de produtores do Estado.

Os produtores de leite, assim como em qualquer atividade enfrentam épocas árduas, pelo alto custo de produção e pela baixa escala. A instabilidade de preços que acontece durante o ano é o estopim para investir em alternativas tecnológicas e sustentáveis de baixo custo. O preço do leite que tem sido a problemática desse último mês tem ligação direta com ações do mercado mundial, seja da venda, no valor pago ao produtor e problemas com petróleo são influencias negativas na formação dos valores estipulados pela indústria.

É possível entender a situação que o estado vive em relação a este mercado que já foi mais produtivo financeiramente para todos. Hoje, está em vigor um acordo do Brasil com a Argentina que permite a importação com cotas. Conforme o tratado existente entre países do Mercosul existe livre comércio para importações entre si. Entretanto, a mesma medida tomada em relação a Argentina é esperada pelas indústrias e produtores por parte do governo brasileiro. Medidas emergenciais hão de ser tomadas segundo o Secretário da Agricultura, Pecuária e Irrigação do Rio Grande do Sul, Ernani Polo. “Nós pedimos para o ministério fazer uma ação em sentido de bloquear essa entrada de leite. O estado já tomou a decisão. Conversamos com o governador e envolvemos as entidades do setor”. De acordo com o secretário os decretos que tratam da importação não serão renovados, serão suspensos como uma medida de apoio ao produtor que vem sofrendo muito com a situação.

O leite sem dúvida entrou como assunto da vez na Expointer 2017, o fato é que cada ano centenas de produtores vem abrindo mão da atividade. As grandes indústrias têm conseguindo se manter no topo. Já para os pequenos produtores têm sido um desafio contínuo. Para o produtor Itamar Tang, um dos proprietários da Granja Tang, campeã da FestLeite 2016. Expositor na Feira há mais de 14 anos, ele salienta a preocupação com o mercado do leite este ano. “Esse ano o leite teve diminuição de preço nos meses de maior lucro”. Diferentemente de grãos, o leite não pode deixar de ser produzido, e os custos para manter um bom rebanho dependem de animai saudáveis que sejam diariamente monitorados.

Essa atividade leva tempo e o retorno financeiro é um dos fatores que envolvem a qualidade, o tipo manejo, a escala, cela somática tudo compõe o valor, a estimativa que hoje está em R$1,30 e R$1,40 tem sido motivo de preocupação para quem sobrevive desta renda. “Esse ano o leite teve diminuição de preço em junho, julho e agosto que não é normal. A gente fica imaginando o que será nos meses de dezembro e janeiro. O produtor de leite não pode entrar num ano e no outro sair. Muitas vezes entregamos nosso leite sem lucros”, comenta.

Tecnologia que muda o cenário

O contexto para produção de leite atualmente enfrenta a barreira do alto custo e instabilidade de preços. Para essa produção ser objetiva e gerar renda lucrativa é necessário investimento em novas tecnologias que ajudem o produtor a enfrentar a crise.

Contêiner para prática da ordenha de vacas (Foto: Alice Fortes)

Apresentando na Expointer a patente inexistente no Brasil, o empresário Andrew Jones resumi o lançamento de seu produto como boas práticas agropecuárias aliadas ao conforto. Um contêiner com sala de ordenha e tanque de resfriamento de leite, recipiente que armazena 1000 litros, é a inovação da empresa. O equipamento requer investimento de R$58 mil e é instalado de um turno para o outro do dia. A ordenha acontece com no mínimo quatro vacas no contêiner chegando a suportar 30 vacas por hora. O produtor precisaria de um ponto de água e um de luz para manutenção do aparelho, zerando gastos com obra civil e mão de obra. “ O benefício é a limpeza, o conforto das vacas e do ordenhador que fica na posição ideal para garantir um correto trato com o animal e com o produto” comenta Jones. O mecanismo possui um piniqueiro que coleta a urina e fezes da vaca de forma isolada e uma sala para o leite com tanque lacrado garantindo a limpeza do liquido que não é exposto a bactérias, insetos, e poluição externa.

Salão do Empreendedor

O Salão do empreendedor é um dos locais mais interativos da 40ª Expointer. A iniciativa da FARSUL, do SENAR-RS e do SEBRAE RS, apresenta aos visitantes da feira as sete das principais cadeias produtivas do Rio Grande do Sul com o tema ‘Do Campo à Mesa”.

Salão do Empreendedor (Foto :Alice Fortes)

Localizado no Pavilhão Internacional a tecnologia demonstra ao consumidor atividades e inovações no ramo da Apicultura, Horticultura, Vitivinicultura Olivicultura, Ovinocultura, Pecuária de Corte, Leite e derivados.

A apresentação dos Laticínios envolve uma demonstração de como armazenar o leite e transformá-lo em queijo em pequena escala dentro da propriedade do produtor e mostra ao público a realidade para fabricação no campo em 360°C através de um óculos de realidade virtual.

Transformando leite em queijo (Foto: Alice Fortes)

A Gestora de Projetos de Agronegócio do Sebrae RS, Eloísa Muxfeldt, analisa o consumo atual dos consumidores de lácteos identificando um vetor que mudou nos últimos anos dentro desse mercado. “O consumo de iogurte, fermentados, derivados aumentou muito em relação ao do próprio leite, a praticidade de ingerir algo pronto se tornou extremamente necessária na comparação entre esses produtos”.

A mesa do consumidor é o ponto final de uma questão que até o momento não tem fim. Empresas acusadas de adulteração cometem crimes e mexem com esse mercado que se mantém ativo através de produtores que vivem tempos de vacas nada gordas.

--

--