A Indústria Anarquista em Porto Alegre

Por Daniel Fagundes, Bruno Quiroga e Lucas Arruda

Iniciativas comerciais com ideais anarquistas começam a chamar a atenção em Porto Alegre. Segundo o Projeto anarquista “Para Mudar Tudo”, existem hoje na capital sete coletivos de iniciativas libertárias, como são chamados. São eles: Café Bonobo e Espaço Cultural Libertário, Conceito Arte, Solidariedade a Flor da Pele, Coletivo Até o Talo, Editora Deriva, Coletivo Cumplicidade e Editora Monstro dos Mares. Mas como trabalhar em um empreendimento com pensamentos anarquistas que são conhecidos por ser contra o sistema? Este dossiê entra em um mundo anarquista e busca compreender como ocorre esse fenômeno.

Símbolo da Anarquia. Reprodução: Creative Commons

A palavra anarquia vem do grego anarkhos, que significa “sem governantes”. Na prática, é uma filosofia política que busca a autonomia do homem, eliminando qualquer forma de governo, onde funções políticas são reduzidas a funções industriais e a ordem social se daria através de trocas e transações. Uma das suas forças é que a liberdade individual do homem deve prevalecer contra qualquer instituição dominante. E o mais importante: o indivíduo não deve ser sacrificado ao interesse geral ou justiça social.

Discordando de ideais políticos tradicionais, o filósofo francês Pierre-Joseph Proudhon (1809–1865) foi o primeiro grande autor a se considerar anarquista. Em sua primeira grande obra “O que é a propriedade? ou Pesquisa sobre o Princípio do Direito e do Governo” (Qu’est-ce que la propriété ? ou Recherche sur le principe du Droit et du Gouvernement) de 1840, ele criticou problemas de uma economia capitalista, mas também era contrário a muitos pensadores socialistas da época que copiavam o coletivismo. O livro é considerado a primeira grande obra com ideais anarquistas e traz conceitos sobre o que seria uma economia anarquista.

Pierre-Joseph Proudhon. Reprodução: Wikimedia Commons

Apesar das ideias de Proudhon sobre o que seria um sistema econômico anarquista, diversos autores discordavam. Com isso muitas vertentes foram criadas e não ficou definido um padrão, mas algumas linhas de pensamento se destacam: Mutualismo, Coletivismo, Economia da Dádiva, Teoria Valor-Trabalho, Propriedade Coletiva e Auto-Organização.

Mutualismo foi definido pro Proudhon. O sistema defende que o controle dos meios de produção é feito pelos trabalhadores. Artesãos, camponeses e cooperativas independentes trocariam seus produtos em um mercado. Sindicatos democráticos fariam a administração de fábricas e outros grandes locais de trabalhos e o estado seria abolido.

Já o Coletivismo, termo difundido pelo anarquista russo e grande crítico de Proudhon, Mikhail Bakunin, argumenta que os grupos são mais importantes que uma pessoa. A sociedade deveria ser orientada no conceito de força coletiva sendo uma unidade de sobrevivência. A distribuição de ganhos seria feita por uma decisão coletiva, mas as remunerações seriam de acordo com o trabalho executado.

Mikhail Bakunin. Reprodução: Wikimedia Commons

A Economia da Dádiva considera como uma proposta radical para transformação do atual modelo econômico, ela baseia-se em antigas práticas comunitárias e na atribuição de valor através de opiniões subjetivas, buscando libertar-se da relação capitalista entre cliente e dinheiro. Assim, cria um novo modelo abundante, somado a um fortalecimento dos laços da comunidade.

A Propriedade Coletiva é uma forma jurídica que procura privilegiar a posse ao invés da propriedade individual. Como uma concessão de uso coletiva. Ela é considerada uma concessão de uso não tradicional, pois a propriedade não é pública, então os seus moradores e proprietários assumem responsabilidades de gestão, sendo assim, co-responsáveis por um território. Portanto, não se trata de um figura jurídica nem pública e nem privada, mas sim, coletiva.

Não podemos esquecer de atribuirmos a Teoria do Valor-Trabalho, que muitas vezes é associada a Adam Smith, David Ricardo e Karl Marx. Aqui, toda a economia parte do princípio de que a riqueza só é gerada conforme o exercício do trabalho na produção ou na prestação de serviço. Então, os valores dos produtos serão determinados pelo esforço e capacidade da atuação do trabalhador, e não na aceitação do mercado.

Mapa de coletivos anarquistas em Porto Alegre. Reprodução: Site “Para Mudar Tudo”

Muitos coletivos também podem se encaixar num estilo de Auto-organização. Nesse estilo, uma rede independente de produção e distribuição, acontece simplesmente sem um controle central, propondo então, relações completamente horizontalizadas. Sem aceitar uma relação de poder, o coletivo estabelece uma organização própria, consciente e voluntária, a fim de manter a igualdade para completar seus objetivos coletivos.

As diferentes vertentes de pensamento possuem muitas características em comum e até se confundem. No entanto, os projetos abrangem diversas áreas desde cooperativas de culinária vegana até editoras e distribuidoras de materiais radicais. Apesar da complexidade, os coletivos buscam alternativas econômicas diferentes para o padrão atual e alinham conforme seus ideais.

Fontes:

Artigo: http://www.otal.ifcs.ufrj.br/wp-content/uploads/2014/02/Teoria-da-Mutualidade-e-da-For%C3%A7a-Coletiva_Final_Livro-Texto-s-Proudhon-Andrey.pdf

Anarquista.net: http://www.anarquista.net/economia-anarquista-como-seria-a-economia-no-anarquismo/

Para Mudar Tudo: http://paramudartudo.com/

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