Angus: rentabilidade dentro e fora da porteira

Representantes da cadeia produtiva destacam as características da raca na 40ª edição da Expointer

Ilustração de todos os cortes da raça bovina Aberdeen Angus | Foto: Valéria Feistler

Por Eduarda Oriques, Jaqueline Moura e Valéria Feistler

Chegada ao Brasil em 1906, a raça de bovino escocesa Aberdeen Angus ascende cada vez mais no país. O desenvolvimento da raça, que se destaca como gado de corte, vem garantindo aos criadores lucratividade e produtividade em um período curto de tempo.

Conforme explica o gerente de Fomento da Associação Brasileira de Angus, Mateus Pivato, três características principais são responsáveis por levar maior rentabilidade ao produtor da raça Angus:

Fertilidade: “São fêmeas férteis que em 24 meses já estão produzindo seu terneiro, o que é muito importante para uma raça que produz carne. A característica também coloca dinheiro no bolso do criador, já que ao menos um terneiro é gerado ao ano.”

Precocidade: “A raça Angus produz carne de qualidade, a precocidade de crescimento significa que os animais são paridos leves e tem um alto poder de crescimento e de terminação. A terminação é importante porque só se consegue carne de qualidade quando o animal está bem acabado, ou seja, com gordura por toda a parte de capa dele.”

Habilidade materna e facilidade no parto: “Isto confere ao produtor que o terneiro com de 6 a 8 meses já esteja pesando 50% do peso da mãe. Ou seja, se a matriz pesa 400kg, o torneiro pode ser desmamado com 200kg.”

Bovinos da raça Angus expostos na Expointer 2017 | Foto: Jaquline Moura

Além disto, Mateus destaca que a raça também possui grande variabilidade de escolha de genética, que significa que o animal se adapta a todas as condições de ambiente.

“A Angus é uma raça que agrega valor dentro e fora da porteira. Dentro, devido a todas as características que são especificas do animal e também aos programas da Associação, e fora da porteira, devido ao Programa da Carne Certificada e todas as nossas ações de marketing e de informação para que o produtor possa percorrer os caminhos mais rentáveis na produção. A nossa missão é sempre levar rentabilidade para tudo mundo que acredita e usa a raça Angus”, afirma o gerente de Fomento da Associação Angus.

A raça na Expointer 2017

Nesta 40ª edição da Expointer — Exposição Internacional de Animais, Máquinas, Implementos e Produtos Agropecuários, dos 1.437 animais rústicos inscritos, 114 bovinos eram da raça Aberdeen Angus. Entre os expositores dessa edição estava Fabrício Santos da Silva, tratador do grande vencedor da categoria Angus Macho de 2017. “Quando nasceu, ao pé da vaca, a gente já sabia que ele ia ser um bicho para cabanha. Com 1 ano e 9 meses já emprenhou vacas e teve 3,6 mil doses de sêmen coletadas, é um produtor de primeira qualidade”, afirma o cabanheiro.

O Angus Macho vencedor deste ano se chama Tomahawk e leva o título para Alegrete, onde pertence à Cabanha Estância Guarita. Tomahawk pesa 886 kg e começou a competir com 8 meses de idade. Sua alimentação é rigorosa, 3 vezes ao dia; seus cuidados consistem em ser levado para caminhar, tomar banho, ser tosado e cuidar para que ele não adoeça.

Tomahawk no desfile dos Grandes Campões da Expointer 2017 | Foto: Jaqueline Moura

Já na categoria fêmea, a Cabanha São Bibiano, de Urguaiana, levou a melhor com sua vaca Pitanha, de 746 kg. Reservada como vencedora em 2016, neste ano leva o título como vencedora de sua categoria e encerra sua carreira de competições em grande estilo. Com 3 anos de idade, Pitanha já não poderá mais competir nos próximos anos, os planos a partir de agora é que a campeã seja usada para procriação dentro de sua porteira.

Gabriel Oliveira, de apenas 18 anos é o cabanheiro responsável pela vaca na ausência do produtor. Relata que os cuidados são praticamente os mesmo que tem o Angus macho vencedor. “A Pitanha recebe tratamento vip, mas uma das nossas maiores preocupações sempre foi para que ela não adoeça, pois já está em uma idade mais avançada”, afirma o jovem rapaz que, apesar da pouca idade, já possui bastante experiência como cabanheiro.

Pitanha com sua faixa de campeã na categoria Angus Fêmea | Foto: Eduarda Oriques

Certificação para garantia de qualidade

Com mais de 5 mil produtores de Angus no Brasil, os dados surpreendem: comparando os anos de 2004 a 2016, os números de cabeças para o abate subiu de 24 mil para 500 mil; de 500 mil para 4 milhões de doses de sêmen coletado e, ainda, de 20 mil quilos para 25 mil toneladas de carne.

Entre diversos fatores responsáveis pela crescente da raça, está o Programa Carne Angus Certificada. Criado em 2003, pela Associação Brasileira de Angus, o programa visa a produção de carne de alta qualidade, além de valorizar toda a cadeia produtiva que engloba os processos necessários, garantindo o selo de Carne Certificada Angus.

Selo de certificação da carne Angus | Foto: Valéria Feistler

Para que esse estímulo aconteça, o programa busca integrar o produtor e a indústria, além da educação dos produtores rurais para o entendimento da qualidade necessária para o Angus, com foco no consumidor final. Esse entendimento é composto por um conjunto de características selecionadas — juntamente com os frigoríficos parceiros –, como raça, conformação e acabamento.

Segundo Fábio Medeiros, gerente do programa de certificação da Angus, o consumidor, ao perceber a qualidade do produto se dispõe a pagar mais por isso. Através do Programa Carne Angus Certificada, essa renda é transferida ao produtor rural que ao atingir todos os critérios exigidos recebe bonificações.

No Rio Grande do Sul esse prêmio é de até 16% sobre o valor do produto no mercado. Todas essas exigências são controladas diariamente pelos 40 funcionários da Associação de Angus, que atestam tanto para o produtor quanto para a indústria se o animal está ou não qualificado para receber a certificação.

Sobre as dificuldades no programa como um todo, Fábio afirma que a maior delas é a estacionalidade de produção. O volume de animais aptos para o programa da Carne Certificada é muito maior no segundo semestre do ano do que no primeiro, e isso dificulta ofertar a demanda que o mercado necessita, prejudicando tanto produtor quanto indústria.

Rentabilidade em toda a cadeia produtiva

Quanto ao impacto econômico da produção de Aberdeen Angus no Rio Grande do Sul, o gerente do programa diz que além de eficiência, produtividade e rentabilidade, o mercado da carne Angus se destaca pela liquidez. “Nos tempos difíceis de mercado, como a (operação) Carne Fraca, por exemplo, os frigoríficos preferiam Angus ao invés do boi comum, mesmo que fosse mais barato”.

Sendo assim, Fábio explica que a indústria paga para quem produz o boi; quem produz o boi vai adquirir mais touros Angus para a produção de terneiros; o produtor de touros vai investir mais em genética de ponta para esses reprodutores, tudo isso alimentado por insumos e gerido por profissionais do setor de serviços. Desta maneira, toda a cadeia produtiva é impactada economicamente.

“O Angus saiu do ilustre desconhecido para algo que todo mundo já ouviu, pelo menos, falar. Embora não saibam exatamente o que é, todo consumidor percebe que Angus é sinônimo de uma carne de qualidade diferenciada”, afirma Fábio.

Espaço da Associação Brasileira de Angus na Expointer 2017, onde visitantes puderam degustar a carne | Foto: Eduarda Oriques

E o resultado que chega à mesa dos consumidores também é aprovado. Os irmãos catarinenses Vaimer Zancaman e Mário Zancaman que vieram para conhecer a Feira de Exposições aproveitaram a oportunidade para saborear a fama da carne Angus, no restaurante da Associação Brasileira de Angus. “Viemos provar por causa da fama. Em relação às outras carnes essa é melhor, muito gostosa”, destaca Vaimer. Ao seu lado, garfinhando mais um pedaço da carne, Mário afirma com sinal de positivo: “está aprovada”.

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