O empreendedorismo como forma de reinserção

Rodrigo Ramos/ Foto: Karem Rodrigues

Conheça a história de Rodrigo Ramos que mesmo com as dificuldades enfrentadas por ser ex presidiário, consegue hoje, ser seu próprio chefe.

Por Karem Rodrigues

A reinserção de ex detentos na sociedade e no mercado de trabalho tem como principal obstáculo o preconceito. Muitas empresas negam-se a contratar quem não tem bons antecedentes e com isso fazem que a exclusão dos mesmos, seja ainda mais visível. Assim voltar para o mundo do crime torna-se o caminho mais fácil para ganhar dinheiro. A reincidência criminal no Brasil até 2008, segundo o relatório final da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do sistema carcerário, está entre 70% e 80%, dependendo da unidade de federação.

Para driblar esse problema social já enraizado, existem pessoas que são exceção à regra, como Rodrigo dos Santos Ramos, que após seis anos preso, abriu seu próprio negócio. “Sempre quis trabalhar e ter meu próprio negócio mas eu não sabia como e nem por onde, então quando eu fui preso coloquei na minha cabeça que eu queria sair, trabalhar e retomar meus estudos para abrir meu negócio”, conta Rodrigo.

Rodrigo e seu irmão Felipe Ramos, conseguiram encontrar na reciclagem uma oportunidade que hoje é o sustento de sua família. Localizada na Zona Leste de Porto Alegre, os irmãos montaram uma usina na qual compram e vendem materiais recicláveis para diferentes empresas.

Considerada uma atividade econômica importante, o ramo da reciclagem não ajudou somente Rodrigo, com ele trabalham pessoas que já estiveram na mesma situação.

“Sempre dei prioridade para as pessoas que passaram pela mesma situação que eu, ex-detentos, jovens de abrigo, da FASE e os próprios moradores da comunidade. É uma forma de mostrar pra eles que é possível e que tem como se reerguer, basta a gente querer”, diz.

O começo

Rodrigo compra os materiais de catadores da Região./ Foto: Karem Rodrigues

No relatório feito pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), sobre catadores no Brasil, verifica-se que há 461 catadores para cada 100 mil habitantes. Na comunidade onde Rodrigo mora há um grande número de pessoas que vivem da coleta de materiais recicláveis (plástico, alumínio, cobre e papelão), logo seu negócio consegue lhe render bons frutos. “Consigo uma boa renda. Consigo pagar minhas contas, ajudar minha mãe, tudo através desse trabalho”, comenta.

Porém logo no começo Rodrigo e seu irmão tiveram que batalhar até conseguir fazer de seu trabalho, sua renda principal:

“Quando nós começamos aqui, eu e meu irmão, nós não tínhamos nada, morávamos na zona sul de Porto Alegre, onde eu minha mãe vivíamos de aluguel então nós íamos e voltávamos todo dia de ônibus , mas com o tempo conseguimos tirar nossa mãe do aluguel e traze-la pra cá, conseguimos comprar nosso meio de transporte pra trabalhar, tudo através desse trabalho. Tivemos uma longa caminhada, não foi nada fácil mas olhando pra trás hoje, vemos o quanto conseguimos adquirir e o quanto a gente pode fazer através desse trabalho.”, completa Rodrigo.

Mesmo ainda sendo vista com preconceito pela sociedade, a reinserção de presos no mercado de trabalho é necessária. A população carcerária no Brasil é composta basicamente por jovens entre 18 e 29 anos. Deixar essas pessoas à mercê de uma possível continuidade no crime é tirar todas suas perspectivas reais de seguir uma nova vida. Com boas políticas públicas no Brasil, quem sabe algum dia surjam mais “Rodrigos” que façam a exceção virar regra.

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