Porto Alegre: uma fábrica de talentos

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Jornalismo Econômico UniRitter Zona Sul
7 min readNov 21, 2017

Para especialistas, a capital gaúcha possui grande potencial humano para construir e projetar grandes inovações, o que falta é articulação, educação e investimento dos poderes.

Por: Jeniffer Maciel e Júlia Lemos

De acordo com o economista, professor da PUCRS e ex-secretário da fazenda do município, Jorge Tonetto, Porto Alegre é caracterizada por ser um centro de formação de pessoas altamente capacitadas e é considerada atualmente a segunda cidade mais PhDs Per Capita do país. Cluster como, o Medical Valley o qual está sendo desenvolvido numa parceria entre prefeitura e Governo do Estado, são empresas voltadas para a área médica para pesquisas e desenvolvimento de equipamentos e procedimentos de processos que vem a atuar na área da medicina, e que tem aplicação internacional, o que vem gerando grande renda para a prefeitura de Porto Alegre, além de atuar como um grande fornecedor de empregos que possuem salários bem maiores do que outros setores. Além de claro, trazer grandes benefícios para a saúde da população.

Parque Tecnológico e Científico da Ufrgs — Zenit

Gabriela Ferreira, diretora de inovação e desenvolvimento do Tecnopuc, acredita que Porto Alegre é uma das regiões com maiores recursos de conhecimento para poder gerar inovação e tecnologia, já que têm grandes universidades como a UFRGS e a própria Pucrs, porém os desafios que a cerca são considerados de âmbito macroeconômico e regulatório. “Hoje estamos numa crise mais generalizada e temos legislações que nos impedem de evoluir, por exemplo,”, criticou.

O Parque Científico e Tecnológico da PUCRS — Tecnopuc possui pelo menos 20 Startups e mais de 50 empresas nacionais e internacionais instaladas no seu campus. O Parque seria o grande administrador dessa vasta gama de empresas no seu território, agindo como se fosse um grande prédio comercial, cobrando aluguéis, e incentivando seus alunos a trabalharem nestas empresas de tecnologia. Atualmente 80% dos lucros destas empresas do tecnopuc são frutos da exportação.

Outras empresas instaladas no Tecnopuc, como a ThoughtWorks, fundada em Chicago na década de 90, hoje é uma grande multinacional, com mais de 40 escritórios pelo mundo e escolheu Porto Alegre para iniciar seus trabalhos na América Latina. A desenvolvedora de Software e de consultoria em TI pretende revolucionar o mundo da tecnologia olhando para o lado social, “nossa missão é melhorar a humanidade através de software e ajudar a impulsionar a criação de um mundo social e economicamente justo. Nós reunimos as pessoas mais capazes, impulsionadas e apaixonadas — nós as chamamos de ‘ThoughtWorkers’ para executar seu negócio sustentável; ser excelência em software e campeão em revolucionar a indústria de TI ”.

A missão é idealizada pelos desenvolvedores da empresa e executadas com orgulho pelos funcionários do escritório presente no Tecnopuc. Cartazes abordando o sistema social do Brasil e principalmente a desigualdade de gêneros, raça e classe social, estão presentes no ambiente de trabalho. Os banheiros unissex também fazem parte da amostragem de ambiente sem discriminação.

Além de proporcionar um ambiente totalmente diferenciado, a ThoughtWorks apoia projetos sociais, como:

Educodar

Projeto voltado para o ensino de programação básica e exposição a TI para alunos de escolas de comunidade.

Rails Girls

Programa que tem como objetivo inserir a mulher no meio da TI, mostrando o funcionamento dos softwares e como podem ser usados. Específico para mulheres, sem custo e sem restrição de idade.

Django Girls

O programa para fazer programas. O Django oferece oportunidades, oficinas de programação gratuitas para mulheres e materiais educacionais on-line, além de promover a imagem do engenheiro de software feminino através de campanhas publicitárias encorajando a aderir ao campo da TI.

De acordo o gerente geral da TW (ThoughtWorks), Matheus Tait , mesmo a empresa sendo de tecnologia de ponta, algumas atitudes entre colegas de trabalho são bem entusiasmantes e inusitadas, causando um pequeno estado de euforia e choque entre eles. “Nossa aposta não é Humano X Máquinas e sim Humanos + Máquinas, que é isso que descreve a 4ª revolução industrial, o biológico, humano e artificial, as fronteiras entre isso tudo está cada vez mais difusa”, disse ele que também deu um exemplo de uma colega de trabalho, a Robi, a qual acabou de implantar um chip biológico na própria mão. “Ela vai pro laboratório de IoT como alguém que pode escrever software, ela quer abrir portas como Geda”, finalizou.

Questões de chip em humanos têm sido bastante debatidas em estudos com base na violação de leis, como o da privacidade, e de informações pessoais, mas mesmo assim outras empresas mundiais têm adotados estes métodos em funcionários, com a autorização dos mesmos, pois se não tiverem se enquadra como crime previsto na Lei 7561/14, aprovada em agosto de 2014 pela câmara dos Deputados.

Conforme estudos da Universidade do Sul de Santa Catarina (Unisul), O chip pode ser implantado sob a pele através de uma seringa e serve para monitorar o movimento das pessoas. Isso pode lesar a dignidade da pessoa humana e por derradeiro os direitos da personalidade do indivíduo entre outros direitos considerados fundamentais e assegurados pela Constituição.

Para o presidente do Parque tecnológico Zenit da Ufrgs, Marcelo Soares, falta articulação dos diversos entes públicos para desenvolver um negócio. “Talento e inovação não é o nosso desafio, mas nós não chegamos à etapa de os negócios serem facilitados aqui em Porto Alegre”, disse. Soares também criticou a velocidade de como as coisas vem acontecendo para este setor, e acredita que o setor público ainda não tenha enxergado qual é o seu papel. “Estão fazendo, mas numa velocidade muito menor do que a das outras coisas que se desenvolvem aqui na cidade.”

Por esse motivo, o parque Zenit está perdendo uma incubadora para o Estado de São Paulo, considerada top, a AEGRO, incubadora do setor de agronegócio conseguiu financiamento e recursos do Estado paulista e vai se instalar em Piracicaba. A empresa é uma plataforma para a gestão do sistema de produção agrícola que possui ferramentas para facilitar o planejamento e o controle das safras, evitando desperdícios, aumentando produtividade e otimizando os resultados das propriedades por meio da melhoria dos seus processos de negócio.

Outro exemplo, é a HidroCombus, que é uma empresa que transforma água em energia, e esta montando uma planta fora do Estado também por falta de investimento.

Projetos

Prédio embrião — Foco na saúde

O prédio vai hospedar o instituto de células-tronco, que possui muita ciência mas que em pouco tempo vai garantir um grande impacto na saúde. O início da construção está prevista para o ano que vem.

Calcinha absorvente

A Herself, empresa incubada na Hestia (zenit), produziu uma calcinha absorvente, lavável e reutilizável para mulheres usarem durante o ciclo menstrual. A calcinha é formada por vários tecidos tecnológicos. Além de acabar com o desconforto das mulheres durante o ciclo menstrual, diminuir os impactos ambientais causados pelo descarte do produto é o pricipal objetivo.

Incubadora de economia solidaria

O Centro de Recondicionamento de Computadores está sendo criado em parceria com a Secretaria de Inclusão Digital da Prefeitura. Incentivos aos empreendimentos de impacto social são o principal objetivo da iniciativa.

Jovens de baixa renda e de vulnerabilidade social vão ter contato com a área de informática e vão aprender a montar uma fábrica de reciclagem de resíduos eletrônicos. Eles irão trabalhar na limpeza de peças de computadores que funcionam, além de instalarem softwares. Esses produtos irão retornar para uma escola da sociedade.

Projeto de inovação na serra gaúcha

O parque Zenit também será responsável por desenvolver um ambiente/escritório de grande inovação em uma prefeitura de uma das cidades da Serra Gaúcha (cidade ainda não foi divulgada). Projeto pode ser executado no ano que vem.

Na região Sul, Santa Catarina é o Estado que ultrapassa o Rio Grande do Sul em inovação e empreendedorismo, já que possui uma estratégia definida e unificada para o Estado em prol dessas duas características. Nos últimos 20 anos, Florianópolis se transformou totalmente e hoje é uma cidade tecnológica, atualmente o maior PIB da capital catarinense é a tecnologia, a qual mediu forças com o turismo e venceu.

Um estudo publicado pela Latin American Journal Of Business Management e realizado em Julho de 2016, afirmou que os parques tecnológicos beneficiam, além das empresas localizadas neles, a região como um todo, justamente por conta da cooperação entre empresas e instituições de ciência e tecnologia, o oferecimento de alto valor agregado às empresas, o fluxo de conhecimento e tecnologia que possibilitam a criação de oportunidades de empregos e aumento da cultura empreendedora.

Além disso, as regiões sul e sudeste concentram cerca de 70% dos empregos gerados pelas empresas instaladas nos parques tecnológicos, enquanto as regiões norte, nordeste e centro oeste os outros 30%, sendo que no norte não há registros de empregos nas empresas por não possuir nenhum parque em operação.

Centro Nacional de Tecnologia Eletrônica Avançada — Ceitec, o fruto do Parque Zenit e Tecnopuc

Na produção de semicondutores, a Zona Leste de Porto Alegre abriga a Ceitec, empresa Federal que nasceu graças a doações de equipamentos já não utilizáveis de empresa alemã. Os parques tecnológicos de Porto Alegre resolveram aceitar os produtos doados, e numa parceria entre o Tecnopuc e Parque Zenit foi criado uma associação que no início era para estudantes terem contatos com essas tecnologias e para servir de incubadora para projetos. A associação, com o tempo foi ficando mais cara, então o Governo Federal resolveu investir e acreditar no potencial dos semicondutores, pois já era uma tendência mundial.

Os produtos produzidos pela Ceitec atuam na produção da tecnologia habilitadora, a qual permite que a partir dela se construa modelos de negócios, como por exemplo, o chip de identificação veicular que é utilizado para pagamento de pedágio, pagamento de combustível, e vários outros possíveis negócios que podem ser viáveis graças a ela.

Para o presidente da empresa, Paulo de Tarso Mendes Luna, os principais desafios desse tipo de produto é a própria empresa se tornar viável economicamente em um curto período, “o objetivo é preparar a empresa para o momento de buscar a autosustentabilidade, o que tem sido cobrado pelo governo”.

Já o diretor administrativo e financeiro da Ceitec, Luiz Fernando Zachia, acredita na independência financeira da empresa através do Parque Fabril. “Entendemos que em 2020/2021, a Ceitec já não dependerá mais de repasses do Ministério da Ciência e Tecnologia.” Segundo Zachia, O Parque Fabril, que trabalha com tecnologia de 600 nanômetros e um protótipo para passaportes de 180 nanômetros, já está composto com seus equipamentos e sua atualização modernização são feitas paulatinamente. Ainda, ele afirma que com seus produtos é possível enfrentar o forte mercado de chips da China, já que o país oriental fabrica chip mais barato só que com qualidade inferior ao do chip produzido pela Ceitec.

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