Real e valorosa Bitcoin

Leonardo Dutra
Jornalismo Econômico UniRitter Zona Sul
6 min readNov 21, 2017
Bitcoin começa a evoluir na capital gaúcha. (Crédito: Pixabay/Divulgação)

Apesar de obstáculos, Porto Alegre vivencia cenário de desenvolvimento no mercado da criptomoeda mais importante do mundo.

Por Brenda Aurelio e Leonardo Dutra | Jornalismo Econômico | UniRitter campus Zona Sul

“Uma versão puramente ponto-a-ponto de dinheiro eletrônico permitiria que pagamentos on-line fossem enviados diretamente de uma parte para outra sem passar por uma instituição financeira”. É assim que começa o ousado artigo “Bitcoin: A Peer-to-Peer Electronic Cash System”, lançado em 2008 por Satoshi Nakamoto, que deu origem a moeda alternativa mais famosa dos últimos tempos: a Bitcoin.

Passados nove anos do lançamento do texto, a moeda virtual se tornou um dos assuntos mais comentados em tecnologia e economia, tendo alcance global. E Porto Alegre já faz parte desta nova realidade econômica.

Segundo dados do site coinmap.org, ligado ao bitcoin.org, Porto Alegre é a terceira capital brasileira com mais lojas que aceitam este tipo de pagamento, com 23 estabelecimentos registrados (confira box no final da matéria), ficando atrás apenas de São Paulo e Aracaju. Apesar de o site ser colaborativo, necessitando do cadastro dos lojistas, esta plataforma é o melhor método de se medir a força da moeda no mundo.

Proposta inovadora

Bitcoin é uma moeda virtual que tem como principal objetivo tirar das grandes instituições financeiras e governamentais o protagonismo na regularização e valorização do dinheiro, transformando a compra de um produto em algo descentralizado e independente de uma autoridade central.

Para isso, é utilizado o método de blockchain (cadeia de blocos, em inglês), registro-público de todas as transações já feitas com esse dinheiro e que utiliza a própria comunidade que faz uso dessa moeda como os reguladores de cada compra. Além disso, a blockchain é também uma plataforma online que divulga todo o tipo de relatórios e gráficos de fácil acesso em tempo real.

Outro fato importante a se destacar é que a moeda é criptografada, o que fornece um alto nível de segurança às transações, uma preocupação recorrente para quem adquire produtos online. Enquanto uma compra feita com cartão de crédito pode ser facilmente estornada, uma transação feita com bitcoins quando confirmada se torna irreversível.

Mercado em fase de experimentação

A loja de equipamentos eletrônicos Webtronico afirma em seu slogan ser a primeira loja virtual a aceitar bitcoins no país. “Implementar a moeda na empresa foi fácil, o decepcionante é a inexpressividade do volume que se movimenta em bitcoin”, justifica Juliano Pontes, sócio da empresa, sediada em Porto Alegre. Atualmente, segundo dados da blockchain, são realizadas mais de 300 mil transações por dia no mundo.

Há mais de cinco anos aceitando a criptomoeda, Juliano alega que não é um bom meio de pagamento para os pequenos e médios empreendimentos. “Eu resolvi aceitar porque a ideia é boa e funciona bem, mas não é nada comercial. Quando eu comecei, a minha intenção era que todo mundo aceitasse para eu poder gastar meus bitcoins, mas a rede mudou, e esta tecnologia não consegue atender o mercado”.

Em relação aos valores, Juliano acredita que a criptomoeda é mais apropriada para compras de maior custo. “As minhas vendas em média são de 200 reais, o que vale a pena pagar em bitcoin, mas um valor menor não. Se tu for pagar um café não vale a pena, mas na compra de um carro é mais vantajoso pagar em bitcoin do que com cartão de crédito”.

Ainda de acordo com o lojista, uma vantagem de aceitar a criptomoeda, é não precisar lidar tanto com pagamentos a prazo. “Não há segurança nenhuma em usar cartão de crédito. É lento, não tem segurança, tem taxas muito caras. Eu não sei como as pessoas usam”, enfatiza Juliano.

De acordo com a pesquisa Global Consumer Card Fraud 2016 (Fraude Global do Cartão do Consumidor, em inglês), o Brasil é o segundo país com mais fraudes em cartões, perdendo apenas para o México. Realizada pelo Aite Group em parceria com a ACI Worldwide, companhia global de soluções de pagamentos e serviços bancários eletrônicos, o estudo consultou mais de 6 mil consumidores, de 20 países diferentes.

Fonte: ACI Worldwide

Para Thiago Rodrigues, que atua como coach na capital e trabalha com bitcoin há menos de 3 meses, o mercado tende a crescer se as empresas começarem a aceitar a moeda. “Eu me cadastrei no CoinMap e o ideal seria se as pessoas fizessem o mesmo. Quanto mais gente usar a moeda, mais visibilidade terá”.

Mercados de investimentos dominam o mercado

Para Bruno Kauffmann, que atua há 15 anos no mercado financeiro, a grande maioria do uso da criptomoeda é referente a investimentos. “Hoje quem busca pela Bitcoin tem um perfil investidor, e com a quantidade de notícias que circulam, as pessoas passam a dar credibilidade e ter mais curiosidade”. No dia 21 de novembro de 2017, o valor de 1 bitcoin era equivalente a mais de 26 mil reais, segundo a blockchain.

Carlos Franck, sócio da corretora de criptomoedas Câmbio Digital, afirma que a Bitcoin é atrativa pela transparência e praticidade da tecnologia digital. “Perigos existem em todas as modalidades de investimentos e negociações. Todas as entidades financeiras mundiais já passaram por alguma situação negativa, porém, os sistemas estão se modernizando e trazendo para tecnologias de segurança cada vez mais sofisticados”.

Encontros estreitam relações

Além de toda a inovação financeira, grupos de encontro oficiais também têm uma relação importante ao ajudar a fomentar o uso da criptomoeda e desenvolver a comunidade. São as chamadas Meetup. Em Porto Alegre, existe uma desde 2014, com aproximadamente 500 membros ativos.

De acordo com Alexandre Leite, fundador do Meetup na capital, muitas pessoas o procuram para tirar dúvidas e posteriormente entrar na rede. “Os nossos últimos encontros foram pagos, entre 20 e 40 reais e têm comparecido em torno de 30 pessoas. A ideia é aproximar a comunidade. Não temos uma data específica, até por ser um grupo de voluntários”.

Governo busca regulamentar a moeda

A crescente visibilidade da Bitcoin já chama a atenção do poder público. Tramita atualmente na Câmara dos Deputados o Projeto de Lei 2303/15 , que procura concentrar o poder sobre as moedas virtuais no Banco Central. Juliano Pontes acredita que esse movimento tem como finalidade a cobrança de impostos. “Talvez seja regulamentado que eu só possa receber em um endereço, que eu teria que fornecer para o governo, tendo acesso ao meu caixa”.

O comerciante acrescenta que os operadores de bitcoins devem ser os maiores afetados pelo sistema, pois as corretoras são as responsáveis por fazer a troca de dinheiro vigente pela moeda virtual. “Pra você comprar e vender bitcoins hoje, é necessário depositar na conta de uma corretora, que depende de um banco. É nisso que eles podem começar a regulamentar, como o Itaú vem fazendo, que penaliza algumas contas que realizam transações para comprar bitcoins”.

Carlos Franck é mais otimista em relação ao assunto e acredita que nenhum governo irá sistematizar a Bitcoin no curto prazo. “Vários governos tentaram e ainda tentam regulamentar, sem sucesso, pois a moeda não tem dono nem um escritório central”.

Bitcoin é só o começo

A inovação tecnológica desencadeou a onda das moedas virtuais, o que proporcionou o advento de novas criptomoedas ao longo dos anos, com a capacidade de atender necessidades não atendidas pela Bitcoin.

Segundo Juliano, as novas ideias tentam melhorar as falhas da moeda inicial. “Umas tentam ser mais baratas, outras tentam ser mais rápidas. Umas específicas para pequenas transações, outras tentam ser mais anônimas e assim vai”.

Apesar das melhorias, essa rede de novas moedas ainda é desconhecida. De acordo com o site cryptocompare.com, há atualmente 1149 criptomoedas em circulação.

Apesar da tecnologia não ser aceita massivamente, Bruno Kauffmann acredita que as vantagens são maiores que as desvantagens. “Pode acontecer de surgir uma moeda virtual que torne a Bitcoin obsoleta, mas não agora. Quando empresas grandes, como a Amazon, cogitam aceitar a moeda que é totalmente disruptiva, isso impulsiona o mercado Bitcoin e mostra que é uma rede confiável”.

Independente do sucesso atual da Bitcoin, seu futuro ainda é incerto, mas a tecnologia das criptomoedas tende a se estabelecer, como defende a conclusão do artigo escrito por Nakamoto: “A rede é robusta em sua simplicidade não estruturada”.

Fonte: coinmap.org

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