Jornalista é preso em Istambul e aumenta a tensão entre Alemanha e Turquia

Diogo Zanella Prates
Jornalismo não é  crime
3 min readJun 29, 2017

Para o presidente turco, Yücel foi preso porque “se escondeu na Embaixada da Alemanha como membro do PKK”.

No dia 14 de fevereiro de 2011, o jornalista alemão Deniz Yücel, que também tem nacionalidade turca, foi detido ao se apresentar para depor na polícia em Istambul, na Turquia. Ele pode ser condenado a dez anos e meio de prisão. Yücel é repórter do jornal “Die Welt” e trabalhava como correspondente.

As notícias publicadas pelo jornalista sobre um ataque hacker ao e-mail do Ministro da Energia da nação árabe, Berat Albayrak, foram os motivos da detenção. Em 27 de fevereiro desse ano, um tribunal turco decretou prisão preventiva para o correspondente, após interrogatórios que duraram em torno de três horas.

Foi a primeira vez que a Turquia prendeu um jornalista alemão. No entanto, Yücel não foi o primeiro profissional de imprensa a ser preso na capital Turca. Tampouco o último.

Campanha para libertar Deniz Yücel: #FreeDeniz

O caso soma-se ao de centenas de profissionais da comunicação que foram presos no país depois da onda de repressão que atingiu a nação, uma reação à tentativa frustrada de golpe de Estado no meio de 2016. Até fevereiro de 2017, aproximadamente 150 jornalistas turcos foram presos, seja de forma preventiva, seja cumprindo sentença. Para o presidente turco, Yucel foi porque “se escondeu na Embaixada da Alemanha como membro do PKK”.

PKK luta pelos curdos

O Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK, de Parti Karkerani Kurdistan pelo original em curdo) luta pelos curdos, um povo que habita predominantemente o sul da Turquia, além do norte iraquiano, o oeste iraniano e algumas partes da Síria e da Armênia. Estima-se a população curda atinja os 30 milhões de pessoas, fazendo com que sejam comumente considerados o maior povo sem Estado do mundo.

Jornalista foi preso por seu trabalho e aumenta a tensão entre Alemanha e Turquia

A investigação começou em 25 de dezembro, com a detenção de seis jornalistas turcos, dos quais três foram sentenciados à prisão preventiva, sob a acusação de serem membros dos grupos armados marxistas DHKP-C e MLKP, da guerrilha curda PKK e da confraria islamita do clérigo Fethullah Gülen. Por ter apurado informações sobre o caso das prisões para o jornal alemão “Die Welt”, Yücel foi acusado de estar na Turquia para espionagens alemãs a favor do grupo clandestino RedHack, grupo ao qual é atribuído a invasão cibernética.

Vídeo da campanha pela libertação de Yücel

A chanceler alemã, Angela Merkel, criticou a prisão de Yucel e, como resposta, o presidente Erdogan acusou o jornalista de ser membro dos grupos armados marxistas DHKP-C e MLKP. Para as autoridades turcas, Yucel teria, com a matéria do “Die Welt”, divulgado “propaganda terrorista” e “incitado o povo ao ódio e hostilidade”. Além disso, Erdogan afirma que a Alemanha esconde integrantes do banido PKK e suspeitos de participar de tentativa de golpe de Estado.

Erdogan acusou ainda a “televisão estatal” alemã de apoiar organizações terroristas e fazer propaganda contra o referendo constitucional para decidir se o presidente turco deve receber mais poderes, como a capacidade de governar por decreto. Em resposta às acusações de Erdogan, o porta-voz do governo alemão, Steffen Seibert, afirmou que as declarações são absurdas.

Diversos comícios de ministros turcos em cidades alemãs foram cancelados desde o início de março deste ano. As autoridades locais justificaram as medidas alegando preocupação com a segurança dos eventos.

Os cancelamentos ocorreram depois da prisão do jornalista Deniz Yücel. Além da Alemanha, Holanda, Áustria e Suíça também cancelaram eventos semelhantes.

A tensão diplomática entre os países tem aumentado nos últimos meses, sobretudo depois que a Alemanha criticou, em várias ocasiões, os ataques contra a liberdade de expressão e os direitos da oposição por parte do governo turco. A Alemanha tem uma relação delicada com a Turquia, já que a chanceler Angela Merkel lidera negociações da União Europeia com o governo local para controlar a chegada ilegal de imigrantes.

Após manter silêncio sobre violações recentes aos direitos humanos pelo governo de Erdogan, ela cobrou chamou a prisão de Yucel de “frustrante e desproporcional”. Enquanto isso, Yücel segue preso, assim como outros jornalistas no país.

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