REPÓRTERES ATRÁS DAS GRADES: Vladimir Herzog

BRUNA CALCANHOTTO GALVÃO
Jornalismo não é  crime
4 min readNov 28, 2018

Vladimir Herzog nasceu em Vlado Herzog (Osijek, Reino da lugoslávia) em 27 de junho de 1937, filho de um casal de origem judaica. Para escapar do antissemitismo feito pelo estado fantoche da Croácia, durante a II Guerra Mundial, que era comandado pela Alemanha Nazista, a família fugiu para Itália, onde clandestinamente viveu até finalmente imigrar para o Brasil. Foi naturalizado brasileiro e faleceu em São Paulo em 25 de outubro de 1975.

Foi um jornalista, professor e dramaturgo brasileiro, tinha paixão por fotografia, atividade que exercia por conta de seus projetos com o cinema, na década de 1970 assumiu a direção do departamento de telejornalismo da TV Cultura, e além disso, lecionou jornalismo da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da Universidade de São Paulo (USP).

No entanto, veio a se tornar central no movimento pela restauração da democracia no Brasil após 1964, foi militante no Partido Comunista Brasileiro, até ser preso e torturado e então assassinado pelo regime militar brasileiro, nas instalações do DOI-CODI, especificamente no quartel-general do II Exército, em São Paulo, depois de voluntariamente ter se apresentado ao órgão para esclarecimentos sobre suas “ligações e atividades criminosas”.

Sua prisão ocorreu no dia 24 de outubro de 1975, época que já obtivera a conquista de ser diretor de jornalismo na TV Cultura, após campanha contra a sua gestão, levada a cabo na Assembleia Legislativa de SP, pelos deputados Wadih Helu e José Maria Marin, que pertenciam ao partido de sustentação dos regime militar, a ARENA, agentes do II Exército convocaram Vladimir para depor, como dito acima, onde consideraram ilegal. Ele ficou preso com mais dois jornalistas, George Benigno Jatahy Duque Estrada e Rodolfo Oswaldo Konder. Ao amanhecer, Vladimir Herzog negou qualquer ligação ao PCB, após isso, os outros dois jornalistas foram encaminhados ao corredor, onde conseguiram escutar uma ordem para que trouxessem uma máquina de choques elétricos, e posteriormente, para disfarçar o som da tortura, foi ligado um rádio com som alto. Rodolfo Konder foi obrigado a assinar um documento no qual ele afirmava ter aliciado Vladimir “para entrar no PCB e listava outras pessoas que integrariam o partido”, mas isso não impediu dele ser torturado, e Vladimir Herzog nunca mais foi visto com vida.

A mensagem recebida em Brasília, para o Serviço Nacional de Informações, foi de que às 15h, do dia 25 de outubro, o jornalista Vladimir Herzog havia se suicidado, no DOI/CODI/II Exército. Na época, era “comum” que o governo militar divulgasse que as vítimas de suas torturas e assassinatos haviam se suicidado, fugido, ou atropelados, o que gerou comentários de certa forma irônicos de que Herzog e outras vítimas haviam sido “suicidados” pela ditadura. O jornalista Elio Gaspari comenta que “suicídios desse tipo são possíveis, porém raros. No porão da ditadura, tornaram-se comuns, maioria até”.

O laudo de encontro de cadáver expedido pela Polícia Técnica de SP, afirmava que Herzog havia se enforcado com um pedaço de pano, “a cinta do macacão que o preso usava”, amarrada a uma grade a 1,63 metro de altura. Entretanto, o macacão dos presos do DOI-CODI, NÃO TINHAM CINTA, e se tinham, eram retirados, junto com cordões de sapatos, o que já era costume daquele órgão. Outro detalhe, era as fotos anexadas que mostravam os pés do prisioneiro tocando o chão e com os joelhos flexionados, uma posição IMPOSSÍVEL de enforcamento. Além de que foi constatado a existência de duas marcas no pescoço, típicas de estrangulamento.

Herzog era judeu, e uma tradição judaica manda que suicidas sejam sepultados em local separado. Mas quando os membros da Cheyra Kadisha — responsáveis pela preparação dos corpos dos mortos segundo os preceitos da religião, o rabino líder da comunidade Henry Sobel, viu marcas de tortura, “Vi o corpo de Herzog. Não havia dúvidas de que ele tinha sido torturado e assassinado”, afirmou. Decidiram então que Vladimir seria enterrado no centro do Cemitério Israelita do Butantã, o que era uma forma de desmentir publicamente a versão oficial de suicídio. Henry Sobel mais tarde disse que “O assassinato de Herzog foi o catalisador da volta da democracia”, o que foi verdade, já que foi uma morte que marcou até os dias atuais.

Em outubro de 1978, o juiz federal Márcio Moraes, em uma sentença considerada histórica, responsabilizou o governo federal pela morte de Herzog e pediu a apuração da sua autoria e das condições que ocorrera. Mas nada foi feito, mas em 24 de setembro de 2012, finalmente o registro de óbito de Vladimir Herzog foi retificado, passando a constar que a “a morte decorreu de lesões e maus-tratos sofridos no II Exército em SP (DOI-CODI) ”.

E o principal motivo de ter escolhido esse jornalista assassinado injustamente, foi que sua foto do suicídio forjado, é famosa em vários livros de História quando se estuda a ditadura militar nos colégios, mas muitas vezes é passada despercebida ou não dão o verdadeiro impacto que foi e não contam detalhadamente o que realmente foi, e seu nome deve ser lembrado.

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