“Um ativista nunca desiste de lutar”

Carina Nardi
Jornalismo não é  crime
3 min readJun 30, 2017
Rafael Marques de Morais

Um dos principais ativistas pela liberdade de expressão em Angola, Rafael Marques de Morais é conhecido internacionalmente por ser um implacável investigador do regime corrupto que governa o país. “As histórias não assustam tanto porque os atos de corrupção na Angola são bastante transparentes”, brincou o jornalista durante entrevista.

“É uma operação de risco, mas é um risco maior manter o silêncio.”

Lembro-me muito bem dos tiros e da minha avó a tentar cobrir-me com o seu corpo, mas não sabíamos se era a independência ou não.
Estávamos numa zona que era um ponto de disputa entre três frentes e como várias famílias angolanas, umas conseguiram fugir outras não. Nós fomos dos que não conseguiram fugir.

Marques foi por duas vezes processado em razão da atividade jornalística. Na primeira vez, a ação foi movida pelo presidente angolano, José Eduardo dos Santos, após a publicação do artigo “O bâton da ditadura em 2000. No texto, Marques responsabiliza Santos pelo “descalabro das instituições do Estado”, acusando-o de promover a incompetência, o peculato e a corrupção “como valores sociais e políticos.” Por essas acusações, Marques foi condenado a seis meses de prisão. Já na cadeia, o jornalista recusou alimentar-se durante vários dias em protesto por ter sido impedido pelas autoridades de se encontrar com a sua advogada e com a sua família.

Em 2011 o jornalista publicou o livro Diamantes de Sangue: Corrupção e Tortura em Angola e denunciou um padrão de violações sistemáticas dos direitos humanos, descreveu centenas de casos de tortura e assassinatos a que estão sujeitas as populações locais para benefício dos que exploram os diamantes. Pessoas mantidas em condições de escravatura, sendo torturadas, assassinadas, roubadas e impedidas de manter quaisquer atividades de auto-subsistência.

O livro detalha o envolvimento de efetivos das Forças Armadas Angolanas (FAA) e da Teleservice, uma empresa privada de segurança ao serviço da Sociedade Mineira do Cuango (SMC), concessionária de diamantes na bacia do Cuango, como executores da vaga de crimes reportados.

“Diamantes de Sangue” publicado em setembro de 2011 já conta com 55 mil downloads

Num episódio documentado no livro uma testemunha relata o massacre de 45 mineiros que foram enterrados vivos quando soldados das FAA fizeram desabar uma mina onde os garimpeiros se encontravam. Num outro massacre, 22 mineiros foram executados, sumaria e arbitrariamente, por soldados das FAA.

Julgamento de Rafael Marques teve início a 24 de Março de 2015 em Luanda, sob fortes medidas de segurança.

Atualmente, Rafael Marques de Morais — Mestre em Estudos Africanos pela Universidade de Oxford e formado em Antropologia e Jornalismo na Goldsmiths, Universidade de Londres — é fundador e diretor da organização Maka Angola, dedicada à defesa da democracia e ao combate à corrupção no país africano.

Em 2006 o jornalista recebeu o Prêmio Civil Courage

Foi acadêmico convidado do Departamento de Estudos Africanos da Johns Hopkins University (2012), e pesquisador no National Endowment for Democracy (2011), em Washington, D.C., E.U.A. É atualmente membro do conselho diretivo do Goree Institute, Senegal.

Originally published at medium.com on June 30, 2017.

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