11 fotos e 11 fatos (nem tão factuais) da Cerimônia de Abertura das Paralimpíadas

Jornalismo em Pé
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5 min readSep 8, 2016

1 A política nacional em todos os cantos
A festa teve um tom político ainda um ponto acima do já efervescente contexto que o país vive. Prova disso é que antes mesmo do show começar, um dos diretores criativos da festa, o escritor Marcelo Rubens Paiva se manifestou claramente contra o impeachment da presidente Dilma Roussef. , No microfone, sob os olhos de Fernanda Lima e do mascote Tom, ele bradou “viva a democracia”. Foi a senha para o primeiro “Fora, Temer” da noite.

Foto: Washington Alves/MPIX/CPB

2 A contagem radical
A contagem regressiva tornou-se, nas últimas décadas, um dos momentos mais aguardados das cerimônias dos grandes eventos. A da Paralimpíada foi especial. O grito que o público deu ao ver Aaron Wheelz descer a mega-rampa, justamente no segundo zero da contagem regressiva, entra para o hall dos momentos mais barulhentos da história do Maracanã, acompanhado de clássicos com gol do Romário na final da Copa América de 89, do gol do Pet na final do carioca de 2001…

©Marcio Rodrigues/MPIX/CPB

3 Em seus lugares
Não foi apenas o campo do Maracanã que esteve repleto de deficientes na noite desta quarta-feira. Nas arquibancadas, o número de pessoas em cadeiras de rodas, por exemplo, também era impressionante. É bastante provável que nunca tantos deficientes tenham se reunido num ambiente público no país. Talvez não exista legado paralímpico maior do que esse tal: tirar os deficientes — todos eles — de casa de uma vez por todas.

4 O que é perto para você?
Para muitos deficientes, foram exageradas as obstruções no trânsito no perímetro do Maracanã. Quem optou por táxis adaptados teve que desembarcar e embarcar longe do estádio e percorrer penoso trajeto. Será que não seria viável permitir, pelo menos, que os veículos adaptados pudessem circular nas ruas adjacentes ao estádio?

5 Até mesmo com ingressos caros
As vaias ao “presidente” Michel Temer foram ainda mais impactantes a ver o ambiente relativamente controlado em que ele estava. As Olimpíadas deixaram claro que arenas com ingressos caros eram muito mais hostis aos gritos de “Fora, Temer” do que a praça pública. Para se ter uma ideia, no Maracanã lotado para a semifinal do futebol feminino, o “Fora, Temer” foi completamente abafado por vaias antipetistas. No mesmo dia, na praça Mauá, os apupos ao presidente tinham estrondosa força. Interessante perceber que a transmissão do telão do Maracanã foi diferente daquela da televisão. Para o Maracanã, Temer nem mesmo apareceu. Muita gente ao fim da cerimônia não tinha certeza se o presidente realmente havia estado no Maracanã.

Reprodução SporTV

6 Optou pela novela
A Globo não ter transmitido ao vivo a cerimônia repercutiu forte nas redes sociais. Mais uma oportunidade perfeita para entender do que se trata este ramo do capitalismo chamado comunicação e jornalismo. Nos canais comerciais, relevância informativa e educacional servem tanto quanto touca e luvas no interior do Piauí. Fica claro outra vez que o que importa para esse jornalismo é dinheiro. Se você se revoltou com o fato, deveria lutar pela sobrevivência dos canais públicos, de interesse público e gestão democrática. Vale lembrar: eles estão ameaçadíssimos.

7 Não deu para cantar
O maestro João Carlos Martins é uma figura formidável, que, sobretudo neste momento paralímpico, merece nossa reverência. Dito isso, vale salientar que foi impossível acompanhar o hino nacional executado por ele ao piano. O público não sabia muitas vezes em que estrofe ele estava e não conseguiu cantar junto.

Foto: Washington Alves/MPIX/CPB

8 Símbolos
A cerimônia merece uma nota dez no quesito simbologia. Começar o show com a homenagem à roda foi fantástico, uma oportunidade perfeita para os andantes refletirem o quanto a vida dos cadeirantes está ligada às rodas. Se a mensagem pegasse forte, o país ganharia demais em acessibilidade.

©Marco Antonio Teixeira/MPIX/CPB

9 Dançando com a máquina
Ainda no quesito simbologia: a dança de Amy Purdy com uma máquina industrial foi sensacional. A performance foi uma releitura da relação máquina-humano, magnificamente perpetuada no cinema por Charles Chaplin em Tempos Modernos. Se Carlitos trouxe uma pesada crítica, Purdy a substituiu por uma leveza jamais vista. Nada melhor que uma linda bailarina biamputada que dança e compete com próteses nas duas pernas.

©Marcio Rodrigues/MPIX/CPB

10 A queda
No esporte, o fundamental é ser rápido, ágil, forte, saudável. É importante chegar. Mas poucas coisas emocionam tanto quanto uma queda. A ex-atleta Márcia Malsar, que tem paralisia cerebral, foi a figura mais ovacionada de toda a noite, justamente porque caiu a conduzir a tocha, minutos antes do auge da festa.

©Marcio Rodrigues/MPIX/CPB

11 O grande momento
Clodoaldo Silva não é o precursor do esporte paralímpico brasileiro, mas é o que o apresentou para o grande público, nos grandes canais de televisão. Seu carisma, aliado às suas medalhas de ouro paralímpicas, foi fundamental para o crescimento do paradesporto brasileiro. Prova disso é que o maior astro da delegação, Daniel Dias, admite que se interessou pelo esporte justamente pelo êxito de Clodoaldo Silva. Portanto, foi merecida demais à homenagem máxima da noite ao nadador potiguar. Entretanto, a perfeição do momento surgiu da criação artística em si. Simbolizar uma escada que vira rampa ao desejo do cadeirante é um sopro de esperança para tantos brasileiros que ainda sofrem com o problema de acessibilidade no Brasil.

©Marcio Rodrigues/MPIX/CPB e ©Marco Antonio Teixeira/MPIX/CPB
©Marco Antonio Teixeira/MPIX/CPB

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