A guerra de narrativas sobre a guerra na Ucrânia

RicHard
DADOS E FONTES — GUIA PARA JORNALISTAS
4 min readDec 6, 2023

A Al Jazeera é uma emissora estatal sediada em Doha, no Catar. Começou como canal de notícias e expandiu para uma rede com vários canais, incluindo internet e canais de televisão especializados em vários idiomas;é um canal de notícias para benefício público de acordo com a lei do Catar. Nessa estrutura, o canal recebe financiamento do governo do Catar, mas mantém sua independência editorial. Os críticos acusaram a Al Jazeera de apoiar as posições do governo, embora suas plataformas e canais tenham publicado conteúdo que critica o Catar ou vai contra suas leis e normas. A rede é às vezes percebida como tendo perspectivas principalmente islâmicas, promovendo a Irmandade Muçulmana e tendo um viés pró-sunita e anti-xiita em suas reportagens de questões regionais.

A BBC, da mesma forma, é uma corporação pública de rádio e televisão que opera sob a Carta Régia, na qual está determinado que a BBC deve servir ao interesse público. Também nesta carta se estabelece que a emissora tem o dever, entre outras coisas, de representar o Reino Unido. Sendo assim, é uma corporação claramente pró-Inglaterra e, portanto, em cenários como o da guerra na Ucrânia, tende a noticiar de maneira enviesada, dependendo do lado em que o governo britânico estiver. O mesmo vale para a Rádio France, que é igualmente uma emissora pública.

Reuters é uma agência privada, no entanto foi comprovado que a mesma recebeu financiamento do governo britânico durante a Guerra Fria, o que reforça as críticas de que a agência é pró-britânica e americana, embora estes últimos reclamem de seu suposto viés esquerdista. No Brasil, a Reuters foi acusada de proteger o governo FHC, após uma matéria do site ter sido publicada com o comentário “podemos tirar, se achar melhor”, num parágrafo que falava sobre os desvios na Petrobras existirem já na época de Fernando Henrique.

Ainda sobre a guerra na Ucrânia, os quatro veículos citados deram notícias que não se contradiziam sobre a evasão de tropas russas e retomada de partes do território pelos ucranianos, destacando-se o tom de otimismo nas matérias. Nota-se que a mídia ocidental, até aqui, é hegemônica quanto à narrativa dos acontecimentos na região, com todas as reportagens convergindo. É perceptível também uma tendência pró-Ucrânia, o que é compreensível observando as origens de cada veículo, incluindo as pessoas por trás e suas ligações.

Buscando por meios alternativos de informação fora da mídia tradicional, temos o Diálogo Chino. É um site independente sino-inglês, sediado em Londres e Pequim, criado com o objetivo de estabelecer diálogo com a América Latina e um senso comum sobre os desafios ambientais enfrentados pela China, bem como seu impacto em escala global. Não à toa, notícias relativas à guerra na Ucrânia dificilmente abordam o conflito em si, e mais suas repercussões na economia e política mundial.

Começando pelo buscador Duck Duck Go, que não utiliza informações pessoais do usuário para o algoritmo, temos ainda os principais resultados dando em veículos conhecidos da grande mídia mundial, incluindo os citados anteriormente. No Yahoo, porém, o primeiro link direciona para uma matéria sobre a anexação pela Rússia de 4 regiões da Ucrânia, portanto a primeira a falar sobre algo favorável aos russos, uma vez que as outras mencionavam apenas a retomada pelos ucranianos e recuo dos russos. O tom da reportagem é neutro, sem tomar nenhum lado aparente.

No buscador russo Yandex é mais fácil encontrar notícias favoráveis, como o abatimento de aviões ucranianos pelas russos, bem como a falha de tropas ucranianas em adentrarem territórios perdidos, e o modo como ficaram encurraladas em algumas regiões. Tudo isto no Tass, o primeiro site para o qual o Yandex direciona a, busca, e que no Google dificilmente é encontrado. Nele também há notas do Kremlin sobre os acontecimentos, que igualmente não se acha sem uma pesquisa um pouco mais aprofundado.

A New Eastern Europe traz notícias sobre o leste europeu em geral, inclusive os impactos políticos e econômicos da invasão da Ucrânia além da invasão em si. Tem mais espaço para a opinião dos jornalistas, inclusive há uma matéria onde na própria manchete onde o autor opina que uma determinada ação de Putin teria sido tardia.

O liveumap é o veículo mais completo sobre a guerra, nele você se escolher uma determinada região e ler notícias sobre aquela em específico. Oferece um panorama maior sobre a situação geral do conflito.

Desde o início da invasão, em 24 de fevereiro de 2022, houveram muitas narrativas diferentes. Muitos apontaram para a existência de forças nazistas dentro da Ucrânia, inclusive no governo, desde 2014. Enquanto outros negaram tal afirmação e disseram que seria uma notícia falsa para justificar as ações de Putin. E essa disputa persistiu enquanto o interesse e cobertura da mídia eram grandes no assunto; agora, recebem pouca atenção, ao menos no Brasil, e se tornou difícil encontrar fontes realmente satisfatórias. Supôs-se que a cobertura da imprensa mundial também divergiria de acordo com os diferentes interesses, mas o que se viu, mesmo nos veículos mais contrastantes, foi uma concordância em relação aos acontecimentos. Certamente uns parecem preferir noticiar reportagens pró-Ucrânia ou Rússia, dando mais atenção aos êxitos de um lado que de outro. No entanto em nenhum momento se viu uma mesma história sendo noticiada de maneira totalmente diferente.

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