10 sites para checagem factual

No mundo onde impera as fake news, nunca foi tão necessário recorrer a ajuda de agências de checagem de fatos

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Boato, história da ‘carochinha’, ludibriação, ‘caô’, enfim, os nomes para comentar ou apontar sobre algo que não é verdadeiro — a famosa mentira — são vários. Atualmente, com o advento da digitalização dos meios e o avanço das redes sociais, a sugestão do momento é ‘fake-news’.

Fake news, do inglês, remete a ‘notícia falsa’. Algo que, em determinada perspectiva, pode-se dizer contraditório por si. Levando em conta toda a Teoria e Fundamentos do Jornalismo sobre o que é notícia — um relato sistemático da realidade cotidiana e factual -, não é necessário fazer, portanto, um esforço exaustivo para entender que se é notícia, não se admite falsidade. A discussão, no entanto, sobre o que ‘é verdade e o que é manipulação’ é longa, e o objetivo desta redação está longe disso.

Por isso, a Redação preparou 10 agências de checagem que funcionam, perfeitamente, como base de dados seja para desmentir aquela ‘corrente’ do WhatsApp ou até mesmo para realizar pesquisa sobre determinado fato. Acompanhe abaixo:

1- Boatos.org

Atualizado continuadamente desde junho de 2013, o site homônimo Boatos.org é uma iniciativa independente criada pelo jornalista Edgard Matsuki, também editor do portal.

O Boatos.org nasceu da ideia de prestar um serviço ao usuário da internet. Imagem: Reprodução/Divulgação

“Este espaço foi criado justamente para compilar algumas destas mentiras que são contadas online. A intenção com o boatos.org é justamente prestar um serviço para o usuário da internet”, diz o editorial na seção biográfica do site. Além de Matsuki, outras três mulheres trabalham com o editor e dividem a redação: Carol lira, Kyene Becker e Raiane Gonoli.

INFORMAÇÃO, METODOLOGIA E ACESSO

A informação é pública e gratuita — até o momento desta redação nenhum dos conteúdos se mostrou exclusivo. Ainda, há uma forma muito interessante do portal se relacionar com os usuários por meio de uma página que te permite comentar além de deixar tuas credenciais como e-mail, nome e um site (se for o caso).

As categorias expostas ao longo da página do site sugerem que os assuntos abordados e desmistificados abarcam pautas variadas como política, religião, saúde, tecnologia, nacionais e até “Opinião” — no caso, uma categoria específica onde são comentados as maiores fake news da semana ou do momento, com reflexões em artigo.

Acesse em: https://www.boatos.org/

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Coincidência ou não, o editor-chefe (Edgard Matsuki) trabalhou em veículos como o conglomerado de comunicação EBC - Empresa Brasil de Comunicação e Portal UOL, sendo este último, o veículo que se utiliza da agência digital de checagem, no quadro UOL Confere. Alguns links abaixo:

2- E-farsas

Pode parecer mentira, mas, segundo o próprio site E-farsas, a agência nasceu no dia 1º de abril de 2002. Criado por um analista de sistemas, a intenção do sítio eletrônico é utilizar “a própria internet para desmistificar as histórias que nela circulam”, diz o editor Gilmar Lopes.

Idealizado por um ex-pedreiro, o E-Farsas é a primeira agência de fact-checking da internet, no Brasil. Imagem: Reprodução/Divulgação

O site é, como diz o internetês, um ‘dinossauro da Internet’, sendo uma referência em termos de agências de checagem de fatos, senão a agência de checagem mais antiga da internet. A seguir, algumas curiosidades: o veículo recebe em média 40 mil visitas únicas por dia; a demanda de pesquisa para checagem alcançam a marca de 150 pedidos por dia; o autor já deu entrevista em alguns programas famosos como o (saudoso) Programa do Jô, Sem Censura, Programa Login, entre outros; e, ademais, o E-farsas também já foi temas de TCC para faculdades e fontes primárias para livros.

INFORMAÇÃO, METODOLOGIA E ACESSO

Como a ideia desta Redação é para se recomendar agências de checagem, faremos também uma pequena comparação apenas para fins de análise. Ao contrário do acesso anterior (Boatos.org), a interface do E-farsas tem uma estética mais minimalista e, grosso modo, organizada.

As categorias são, literalmente, divididas entre Artigos verdadeiros ou Artigos falsos, contando ainda com um Arquivo vasto de checagens caso o usuário não tenha encontrado a publicação desejada na homepage ou no Google.

O método independente de apuração é parecido com o anterior: há um espaço de interação com o usuário de internet, com a única diferença de que quem criou o espaço não é jornalista de formação, o que demonstra uma deficiência na expansão do projeto, como artigos de inspiração editorial, etc. Além do fato de que o método é claro: se utilizar da própria internet para desmentir o que é publicado na própria internet.

Acesse em: https://www.e-farsas.com/

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A agência de checagem faz parte do Portal R7 desde 2011, já conta 3 anos nas plataformas da Justtv Brasil e manteve seu legado na Rádio Bandeirantes por 10 anos, com o quadro ‘É Verdadeiro ou Farsa’ no programa ‘Você é curioso?’, apresentado na parte da manhã, aos sábados, pelos jornalistas Marcelo Duarte e Silvania Alves.

3- Estadão Verifica

Associado ao jornal impresso Estado de S. Paulo (Estadão — como é conhecido), o Estadão Verifica compõe uma equipe de checagem de fatos atribuídos à categoria política desde 2019, que conta com Daniel Bramatti, Alessandra Monnerat, Clarissa Pacheco, Gabi Coelho, Pedro Prata, Samuel Lima, Thais Ferraz e Victor Pinheiro.

O site tem vínculo com o IFCN (International Fact Checking Network), o que significa que, além de não ser propriamente independente, a agência também segue uma linha editorial que se vale dos seguintes princípios: “apartidarismo e imparcialidade; transparência em relação a fontes, financiamento e metodologia e política de correção aberta e honesta.”

INFORMAÇÃO, METODOLOGIA E ACESSO

O site é direto e transparente: “O desmonte de rumores é feito principalmente por meio de consulta a fontes oficiais sobre o assunto em questão, como bancos de dados públicos e órgãos governamentais”, diz o editorial.

Ao contrário, por exemplo, do Boatos.org ou do E-farsas, o Estadão Verifica tem seus dados protegidos. Ao fazer, como será o caso, o famoso ‘ctrl C+ctrl V’ — comando para cópia e colagem, aos desavisados — , aparece a seguinte mensagem: “O material jornalístico produzido pelo Estadão é protegido por lei. As regras têm como objetivo proteger o investimento feito pelo Estadão na qualidade constante de seu jornalismo. Para compartilhar este conteúdo, utilize o link: https://politica.estadao.com.br/blogs/estadao-verifica/johnny-depp-bolsonaro-meme-new-york-times/”. Isto infere em qualquer trecho de qualquer texto, seja de publicação ou editorial.

Outro ponto, também, que o diferencia dos demais é a política de correções de dados. Podendo preencher um formulário, disponibilizado por um link, o usuário pode encaminhar uma sugestão de erro para o veículo sobre determinada pauta.

Conquanto, a plataforma também se utiliza da estratégia de recebimento de material por número de WhatsApp — inclusive, o alvo do veículo é justamente o aplicativo de mensagens instantâneas e as redes sociais.

Acesse em: https://politica.estadao.com.br/blogs/estadao-verifica/

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O material jornalístico produzido pelo Estadão é protegido por lei. As regras têm como objetivo proteger o investimento feito pelo Estadão na qualidade constante de seu jornalismo. Para compartilhar este conteúdo, utilize o link: https://politica.estadao.com.br/blogs/estadao-verifica/johnny-depp-bolsonaro-meme-new-york-times/

4- Agência Lupa

A Agência Lupa foi fundada em 2015, com uma trajetória, em muito, vinculada à Revista Piauí. Hoje, a agência é abrigada pelo guarda-chuva eletrônico do UOL (host). Além de checagem de fatos, a lupa se expandiu, recentemente, em duas frentes: Lupa Jornalismo (reportagens, checagens, verificações e conteúdos especiais) e Lupa Educação (oficinas, treinamentos, repositório de pesquisas sobre desinformação e ações de educação midiática).

Antigo logotipo da Agência Lupa, quando o sítio eletrônico tinha vínculo à Revista Piauí e o jornal Folha de S. Paulo. Imagem: Reprodução/Divulgação

INFORMAÇÃO, METODOLOGIA E ACESSO

A metodologia da Lupa é, segundo o editorial institucional, “de trabalho própria, desenvolvida com base em processos de sucesso implantados por plataformas de fact-checking como a argentina Chequeado e a americana Politifact.”

Ainda, a agência afirma que a matéria-prima principal do conteúdo jornalístico, ou seja, o alvo, são declarações de agentes públicos e “informações potencialmente falsas que circulam nas redes sociais e em aplicativos de mensagem”. “Preocupa-se, portanto, com ‘quem fala’, ‘o que fala’ e ‘que barulho faz’”, diz o slogan logo na homepage do site.

Algo que é interessante avaliar: tanto o Boatos.org quanto o E-farsas diferem-se da Lupa ou do Estadão Verifica quanto à transparência da metodologia. Um ponto inicial poderia ser o tamanho da equipe — além da proposta de se utilizar da própria internet como ferramenta anti-fake. Em última análise, também o fato de que ambos os primeiros são iniciativas independentes sem ligações efetivas com grandes jornais, como o Estadão e a Folha de S. Paulo.

Logo, a Lupa apura as fake news tal qual um jornalista apura com fontes oficiais, através de notas, entrevistas, cruzamento de fontes e informações e pesquisa. Importante salientar também que, assim como o Estadão Verifica, a agência de checagem também integra o IFCN (International Fact Checking Network), além do The Trust Project — o que lhe ‘imputa’ alguns valores e linhas editoriais como a transparência e o apartidarismo.

Acesse em: https://lupa.uol.com.br/

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É possível encontrar, via Google, uma coluna da agência no portal Metrópoles (com última publicação em 18 de setembro de 2019) e Poder360 (com última publicação em 26 de outubro de 2021). Abaixo os links:

5- Projeto Comprova

“Jornalismo colaborativo contra desinformação.” Em atividade desde 2018, o slogan traduz a iniciativa sem fins lucrativos que reúne 42 veículos de comunicação relacionados à Abraji — Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo.

Criado em 2018, o Comprova reúne 42 veículos de comunicação a serviço da checagem de fatos contra a desinformação. Imagem: Reprodução/Divulgação

“O objetivo do Comprova é identificar e enfraquecer as sofisticadas técnicas de manipulação e disseminação de conteúdo enganoso compartilhados em sites hiperpartidários, aplicativos de mensagens e redes sociais”, diz o editorial.

INFORMAÇÃO, METODOLOGIA E ACESSO

Algo que chama a atenção no Projeto Comprova é, diferentemente dos demais, o ‘tiro’ ao alvo quando se trata de hiperpartidarismo. Ainda, a agência de checagem trabalha em cima de 5 princípios disponíveis para quem quiser ler no site, são eles: Rigor, Integridade e Imparcialidade, Independência, Transparência e Reponsabilidade Ética.

“O objetivo do Comprova é identificar e enfraquecer as sofisticadas técnicas de manipulação e disseminação de conteúdo enganoso compartilhados em sites hiperpartidários, aplicativos de mensagens e redes sociais.” — Projeto Comprova, editorial.

Acesse em: https://projetocomprova.com.br/

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6- Checagem Truco

O nome pode parecer um trocadilho — quem nunca falou Truco! tendo apenas um ‘4 de paus’ na mão — , mas a Checagem Truco é um projeto idealizado pela Agência Pública, realizado entre 2014 e 2018. Embora a agência de checagem pareça ‘fechada’, o trabalho dessa base de dados se faz importante, uma vez que ainda pode ser utilizada para checagem, sobretudo, quando o assunto são as Eleições de 2018.

“Verificamos falas, correntes e informações em circulação na internet ou em redes sociais para saber se são verdadeiras ou não. Nosso objetivo é aprimorar o discurso público e a democracia, tornando políticos e personalidades públicas mais responsáveis por suas declarações.” O editorial da homepage é a dica para o alvo da agência.

Inclusive, na metodologia da agência — que veremos a seguir — “falas, correntes e informações” são o principal objeto de ponto de partida para as checagens.

INFORMAÇÃO, METODOLOGIA E ACESSO

“Todas as checagens seguem o mesmo roteiro”, diz a ala de Como funciona. De acordo com a explicação, primeiro os jornalistas selecionam uma fala que contenha um dado, uma referência à leis, permissões, restrições, proibições ou, ainda, discursos muito categóricos. Dentre as várias declarações, é escolhida a frase que mais tem relevância para o debate público.

Depois, a apuração entra em contato com a fonte, presumindo resposta sobre o contexto da fala, frase, discurso. “Paralelamente, procuramos outras fontes, oficiais ou não, e, se necessário, recorremos a especialistas.” Em outras palavras, um processo (quase) padrão de checagem de dados. Isso porque, assim como a Lupa e o Estadão Verifica, a Truco também integra o IFCN (International Fact Checking Network), o que acarreta valores de caráter moral e ético no serviço de checagem oferecido.

Mas, ainda em se tratando de apuração de fontes, o site também disponibiliza os mesmos parâmetros utilizados para checar uma frase, para o caso de ser um boato repassado via WhatsApp.

Acesse no link: https://apublica.org/checagem/

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Uma coluna da Truco que chamou a atenção foi na iniciativa Marco Zero, uma organização da sociedade civil, sem fins lucrativos. Abaixo o link:

7- G1: Fato ou Fake

Lançado em 2018, Fato ou Fake é uma agência de checagem de fatos ligada ao Grupo Globo — principalmente, o Portal G1, mas em companhia de outros veículos e produtos como Extra, Época, Valor, CBN, GloboNews e TV Globo. Com um Editorial bem simples, exposto em uma matéria publicada em 30 de julho de 2018, basicamente, a agência trabalha com uma filosofia de ‘pano de fundo’, que você poderá ler a seguir.

“O bom jornalismo nasce da dúvida. Se aconteceu, é fato. Se é mentira, é fake. Só que hoje em dia é muito difícil separar o fato do fake. Saber se é inventado ou se aconteceu mesmo. É para isso que serve o jornalismo. Para conferir pra você. Se você tem dúvida, a gente confere. Se você não sabe se é verdade, a gente checa a fonte. Um bom jornalista não publica nada sem duvidar antes. Se não confere não é jornalismo. E conferindo a gente descobre o que de fato é fato e o que de fato é fake. Porque a dúvida leva à verdade. E a gente só trabalha com ela. Jornalismo é isso. A gente duvida. A gente confere. A gente informa. FATO OU FAKE. É jornalismo para o fake não virar news.”

Lançado em 2018, Fato ou Fake é uma agência de checagem de fatos ligada ao Grupo Globo. Imagem: Reprodução/Divulgação

INFORMAÇÃO, METODOLOGIA E ACESSO

A metodologia do projeto é simples. Tudo começa com a identificação da fonte a partir de uma declaração, após constatação de que a mesma mensagem tenha sido compartilhada várias vezes nas redes sociais. Após essa primeira apuração, o processo segue com o esclarecimento da mensagem a partir de uma ouvidoria com fontes oficiais e especializadas.

Em uma explicação breve e objetiva, a Fato ou Fake explica os critérios de avaliação metodológica.

Acesse no link: https://g1.globo.com/fato-ou-fake/

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