Foto: Leandro Taques/Jornalistas Livres

Desumanização e saúde do trabalhar bancário é tema de debate no Circo da Democracia

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3 min readAug 11, 2016

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O que é exploração? A nossa jornada é dividida em duas partes. A primeira é a parte que efetivamente fica conosco, o salário. A segunda é a mais-valia, o lucro, que só pode vir do trabalho, do desgaste do corpo dos trabalhadores

Gibran Mendes, com fotos de Leandro Taques, para os Jornalistas Livres

Durante a tarde desta quarta-feira (10) a programação do Circo da Democracia incluiu um debate sobre a desumanização e a saúde do trabalhador bancário. A categoria é a que mais sofre com este tipo de problemas relacionados ao trabalho. O evento, realizado no salão nobre da Universidade Federal do Paraná, destacou os métodos de gestão como mecanismos de ampliação de lucro e uma das origens que levam ao adoecimento.

A pesquisadora do Instituto Defesa da Classe Trabalhadora (Declatra), Gabriela Caramuru, apontou para a exploração do trabalho. “O que é exploração? A nossa jornada é dividida em duas partes. A primeira é a parte que efetivamente fica conosco, o salário. A segunda é a mais-valia, o lucro, que só pode vir do trabalho, do desgaste do corpo dos trabalhadores. Por isso a exploração do trabalho, é a forma de acumulação. Pesquisas apontam que no caso dos sapateiros, por exemplo, a sua parte do trabalho não chega a uma hora em um jornada de sete horas. Essa é a mais-valia”, afirmou.

De acordo com ela, esse embate não dá trégua. “Por isso não existe conciliação, pois o objetivo do capitalismo é sempre empurrar para baixo esse trabalho que nós precisamos, que são os salários. Aumentam a parte que sobra da jornada, o lucro, as custas da saúde de todos.” O Instituto realiza uma série de pesquisas voltadas aos métodos de gestão e seus reflexos na saúde do trabalhador. Este trabalho resultou no movimento “Vítimas do HSBC”, um livro e estudos voltados também aos trabalhadores do banco Itaú.

O médico do Ministério Público do Trabalho, Elver Moronte, chamou a atenção para alguns fatores que estão ligados à saúde dos bancários. “O trabalho é imaterial, no caso da produção de veículos, por exemplo, você consegue ver o produto do trabalho. O bancário produz lucro baseado na transformação da mercadoria em dinheiro, uma coisa subjetiva, através de instrumentos como softwares, computadores e telefonemas. Como o trabalho precisa ser visualizado para ter sentido, essa coisa imaterial traz uma dificuldade”, avaliou.

Moronte reforçou que a saúde é resultado de uma série de fatores. Segundo ele, há uma determinação social que leva ao nosso jeito de viver, de adoecer e de morrer. “Médicos anestesistas, por exemplo, tem mais problemas com o uso de drogas lícitas ou não. Médicos costumam morrer mais cedo e trabalhadores rurais tem mais câncer”, exemplificou.

Foto: Leandro Taques/Jornalistas Livres

Já a secretária de saúde e de condições de trabalho do Sindicato dos Bancários de Curitiba e Região, Ana Fideli, retratou a importância das organizações levarem cada vez mais a sério a saúde em suas negociações coletivas. “Nosso trabalhadores estão muito adoecidos. São 10,6% dos trabalhadores bancários no Paraná e em Curitiba esse percentual é de 12% e quando ele adoece, sente-se sozinho. Geralmente quando é mulher, na primeira vez que nos procura, vem com seu companheiro, com seu namorado. Já na segunda vez vai com uma amiga e na terceira já vai sozinha. Quando perguntamos o que aconteceu a resposta ‘eu me separei’”, relatou Fideli.

O secretário de saúde da Fetec, federação que reúne trabalhadores bancários de todo o Paraná, Ademir Vidolin, disse que o objetivo deve ser a eliminação dos riscos e dos adicionais. “Um banco não coloca porta giratória e paga adicional de periculosidade. O ladrão entre, dá três tiros no peito do bancário, o mata, e o banqueiro fala que paga esse adicional. Nossa lógica é sair dos adicionais e trabalhar pela eliminação do risco”, concluiu.

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