Foto: Leandro Taques/Jornalistas Livres

O Circo da Democracia e a esperança equilibrista

A abertura do circo, na noite desta sexta-feira (5), reuniu mais de 700 pessoas que viram uma apresentação circense intercalada com falas do jurista Carlos Marés Guia e do sociólogo Emir Sader

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5 min readAug 6, 2016

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Por Gibran Mendes com fotografias de Leandro Taques, para os Jornalistas Livres

Pelos próximos 10 dias Curitiba terá uma agenda repleta de atividades em defesa da democracia e do estado de direito. O Circo da Democracia, instalado na Praça Santos Andrade, reúne uma extensa programação cultural, política, econômica, jurídica e uma série de outros temas que estão intimamente ligados aos direitos sociais fundamentais. Mas vai além: é o palco da esperança equilibrista de um Brasil democrático e inclusivo. Um país que desta vez sonha não com a volta do irmão do Henfil, mas com o retorno da sua capacidade de decisão outorgada pela também atacada Constituição Federal.

A abertura do circo, na noite desta sexta-feira (5), reuniu mais de 700 pessoas que viram uma apresentação circense intercalada com falas do jurista Carlos Marés Guia e do sociólogo Emir Sader. Ballet aéreo, malabarismo, palhaços e equilibristas. Democracia, direito, terra, povos originários. Não faltou nada. Principalmente para as gerações que viveram a alegria de um circo, como este da Família Zanchettini, que empresta a lona, a estrutura e o talento circense que passam de geração para geração.

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“Antes de iniciar qualquer coisa eu queria fazer um agradecimento muito sério à Família Zanchetinni. Nós estamos na casa deles. Esta é a sua causa, seu circo. Eles há muito tempo lutam pela manutenção da cultura popular, pela cultura do circo. Uma liderança nacional na luta contra aqueles que desejam impedir que a cultura popular e a democracia se manifestem. Este circo se mantém organizado pela economia solidária. Este circo não é capitalista, este circo é um circo solidário”, relatou o jurista Carlos Marés Guia ao abrir os trabalhos do Circo da Democracia.

A ideia do Circo, segundo ele, remonta ao ano de 1987, quando em Curitiba foi fundado o Circo da Constituinte. Menor e mais modesto, com arquibancadas, ao contrário das cadeiras de plástico de hoje. O objetivo daquele circo, que durou sete meses, era discutir como deveria ser o Brasil do futuro. “Ali, acreditem, colocamos algumas gotas no oceano que formou a Constituição Brasileira”, recordou Guia. “Hoje, quando ela ameaça ser rasgada e jogada no lixo da história, montamos o Circo da Democracia”, completou.

Fotos: Leandro Taques/Jornalistas Livres

Observar a plateia era curioso. Todos com os olhos atentos. Todos pareciam crianças, realmente, no Circo. Talvez envolvidos pela magia que representa aquela lona estrelada nas tradicionais cores amarela e azul. Ou quem sabe pela esperança equilibrista que estava na cabeça de todos. Pouco importa. Os aplausos estavam garantidos, seja para os palestrantes, seja para os artistas. O encanto era geral.

Enquanto isso, do lado de fora, um rapaz tentava tirar os defensores da democracia do sério. Debochava, tirava sarro e provocava. Fez o que disseram ter feito Letícia Sabatella. Foi solenemente ignorado. O circo e a democracia não permitem violência, seja ela física ou verbal. Menos ainda desculpas para justificá-las. A democracia é alegria, o golpe é agressão. A esperança é o que une quem participa do Circo.

RESPEITÁVEL PÚBLICO…

O sociólogo Emir Sader, convidado para a cerimônia de abertura, falou logo após apresentações circenses. Foi direto e sucinto. Lembrou do dia 29 de abril de 2015, quando professores foram atacados pelas forças de repressão do Governo Beto Richa (PSDB), um escândalo internacional. Mas, para quem tem esperança, a metade do copo sempre está cheia.

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“Há pouco mais de um ano, foi aqui no Paraná que professores e professoras recuperaram as ruas para nós. Até lá eram os golpistas que falavam em nome do Brasil. Naquele momento começamos a virar a luta pelas ruas, pelas praças do Brasil”, recordou Sader.

As mais de 100 entidades que apoiam o Circo, mencionadas uma a uma, receberam uma menção do sociólogo. “Se todas estas organizações estão conosco e com a democracia, quem está contra nós?”, questionou. A pergunta, obviamente, veio seguida de uma resposta clara e incisiva. “Em primeiro lugar os bancos privados, que vivem de endividamento das pessoas. Vivem dos governos, das empresas, das pessoas endividadas. Vivem da recessão, da pobreza e do desemprego. São eles que estão assaltando os ministérios econômicos brasileiro”, acusou.

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Sader reforçou que o golpe em curso é o resultado de quatro derrotas seguidas nas últimas eleições presidenciais. Quando compara-se o avanço de direitos sociais desde 2003 com as política públicas do período das gestões de Fernando Henrique Cardoso e Collor. “Eles aproveitaram a maioria parlamentar. Isso porque pela primeira vez todos os grandes empresários estavam contra o governo e com a direita. Colocam dinheiro para o canalha mor que é o Eduardo Cunha”, disse.

Para o sociólogo, o projeto do golpe não pretende apenas romper a democracia. “Eles desejam implantar um projeto econômico fracassado. A agenda deles não é positiva. É só destruição. Destruição do patrimônio social, dos direitos dos trabalhadores e dos recursos das políticas sociais. Não importa que são medidas anti-populares, eles sabem que ninguém os apoia. É o governo do 1%”, garantiu.

Entre as argumentações do jurista e do sociólogo estavam as apresentações circenses. Entre todas as atrações os gritos de “Fora Temer” ecoavam pela tenda estrelada. Mas a presença onipresente era dela, a maior artista deste Circo da Democracia: a esperança equilibrista que carregamos conosco.

Fotos: Leandro Taques/Jornalistas Livres

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