Quem levou o Golpe

Jornalistas Livres
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6 min readApr 19, 2016

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Texto de Maria Carolina Trevisan com fotos de Leandro Taques, especial para os Jornalistas Livres

O domingo começou alegre — mas com apreensão. Manifestantes a favor da democracia se organizavam desde cedo para a votação da admissibilidade do impeachment da presidente Dilma Rousseff. Debaixo do sol a pino, cerca de 150 mil pessoas (de acordo com a Frente Brasil Popular), marcharam em direção ao lado esquerdo do gramado dividido pelo muro da vergonha.

Música, bandeiras, discursos, poesia, gente de todos os lugares do Brasil. A juventude estava presente, a população LGBTT estava representada, os movimentos sociais estavam lá. Grande parte das pessoas guardava no corpo as marcas do trabalho na roça, na faxina, na cozinha.

Havia muito mais negros do lado esquerdo da Esplanada dos Ministérios. Muito mais pobres. Gente que carrega na alma a lembrança da fome. Porque quem passou fome alguma vez na vida não esquece jamais.

Também não se apaga da memória a recordação da tortura, grave violação de direitos humanos. Quem passou pelos porões da ditadura militar revive a dor profunda ao ver — ao vivo, na Casa do Povo - um deputado homenageando o homem responsável por pelo menos 45 mortes, além das sessões no pau de arara, do choque elétrico na cadeira do dragão e do espancamento.

A presidente Dilma foi uma das vítimas do Coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, louvado no plenário. Ustra era o responsável por exibir os corpos mortos.

Pela incoerência, pela desonestidade, pelo absurdo, pelo abuso é que a população brasileira mais oprimida enxerga a votação de domingo. Como se os direitos conquistados fossem “benefício demais” para esse nosso povo.

A luta em defesa da democracia continua.
Porque quem nasceu enfrentando todo o tipo de adversidade está sempre preparado. Não cansa.

É uma cova grande pra tua carne pouca

Mas a terra dada, não se abre a boca

É a conta menor que tiraste em vida

É a parte que te cabe deste latifúndio

Morte e Vida Severina, de João Cabral de Mello Neto musicado por Chico Buarque de Holanda (Funeral de um lavrador)

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