Vielada Cultural: arte entre as vielas

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4 min readAug 10, 2015

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Larissa Gould e Giovanna Consentini para os Jornalistas Livres. Fotos: Jardiel Carvalho e Rodrigo Zaim do R.U.A Foto Coletivo

O domingo se pintou colorido, e as notas musicais dançavam entre as crianças ao som do jazz que ecoava nos becos e vielas do Morumbizinho

O dia ensolarado que fez no domingo dia 28 de junho não podia ser mais perfeito. A 5ª Vielada Cultural é um projeto que acontece anualmente, às vezes, como no ano passado, semestralmente. Tudo depende da grana que o coletivo Vie La En Close consegue levantar e da galera que consegue mobilizar. Afinal, pensar e promover cultura em condições precárias é sempre um desafio.

Desafio esse que esse pessoal tira de letra. Essa turma fez uma verdadeira Revolução Cultural no bairro, com direito até à jazz!! Afinal, por que não?

O Vie La En Close tem mais de 5 anos e, na verdade, faz muito mais do que isso. Mensalmente, todo penúltimo domingo do mês, acontece o Sarau da Viela, que é feito, literalmente, em uma das vielas da comunidade. Também têm contação de histórias na biblioteca, na sede do coletivo, e brincadeiras tradicionais. Eles ainda idealizaram o projeto Jazz na Kombi, um palco improvisado em uma Kombi que percorre a cidade levando música da melhor qualidade. Kombi essa que foi comprada para transportar os brinquedos da criançada. Isso há quase dois anos. Conta Carol Laete, uma das idealizadoras do projeto Jazz na Kombi.

Tiara Barreto é moradora do bairro, ela conta que antes do coletivo os moradores da região precisavam sair de lá e buscar atividades culturais. Mãe, ela gosta especialmente das atividades para as crianças. “Eles ficam fascinados com a contação de histórias”.

O Sarau já é tradicional, quando começa a escurecer, a pequena viela que parecia não comportar ninguém de repente fica cheia. As pessoas se ajeitam das escadas, nas portas e quase impedem completamente a passagem. O microfone é livre, aliás, que microfone? É só entrar no meio da roda e declamar! Os poetas do bairro, e de outros bairros também, dão um verdadeiro show.

O Jazz chegou para ficar! Depois de dois Favelas Jazz Festival, a região toda aderiu a mais esse estilo musical. Itacyr Bocato Júnior, um dos maiores trombonistas brasileiros, marcou presença no evento. Ele conta que tocar na comunidade tem um sabor especial: “É muito bom tocar aqui, a receptividade e o retorno que eles dão é muito lindo”. Para ele é uma falácia a de que o Jazz não tem espaço nas comunidades periféricas: “se fosse tocado desde cedo as crianças iriam adorar”. É o que acontece no Morumbizinho.

E provoca “Olha esse pequeno palco, olha esse evento. É disso que precisamos. As pessoas querem fazer eventos grandes por que ganham com isso. Gastam mais com o palco do que com o artista. Existe uma máfia que controla isso. Se fizermos eventos pequenos, descentralizamos e fazemos com que mais pessoas tenham acesso”.

Giovane Baffo é poeta e artista, foi ele que começou com toda essa bagunça maravilhosa. Ele conta que quando era moleque, enquanto os meninos da mesma idade iam jogar bola, ele ia para a biblioteca. “Hoje, quando eu vejo a molecada toda lendo e indo para o Sarau eu vejo que já começamos a fazer a diferença”.

Sim Giovane, vocês fazem toda a diferença. Obrigada!

Pela primeira vez a festa teve um financiamento público, por meio do edital VAI da prefeitura. “Ajuda muito”, afirma Giovane. Agora querem ampliar a biblioteca e expandir o projeto para assim atingir mais pessoas.

O evento ainda contou com intervenção contra a redução da maioridade penal, comidas e bebidas, e apresentações de dança e teatro.

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