Porque não há planeta B!

Está nas nossas mãos salvaguardar a vida na Terra. Há que sermos realistas e encarar o problema de frente.

Beatriz Ribau Lourenço
JSD Ilhavo
5 min readJun 3, 2020

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Contraímos uma “dívida ecológica”. Vivemos acima da capacidade que a Natureza tem para se regenerar. Não sabemos para onde caminhamos. Mesmo assim, teimamos em agir como se não fosse um problema de todos e de cada um.

Segundo os especialistas, em 2019, a Humanidade esgotou os recursos naturais do planeta três dias antes que no ano anterior e bem mais cedo quando analisados os dados desde 1970. Em 2020, de acordo com a Associação Ambientalista Zero e a Global Footprint Network, o dia 25 de maio assinalar-se-ia como a data limite se todo o planeta levasse um estilo de vida semelhante à média dos portugueses. Ora, isto significa que teríamos de viver a crédito dos recursos futuros. E atenção, Portugal encontra-se entre os países mais poupados.

O que destruímos até chegar aqui? E para quê?

Hoje, mais do que nunca, sentimos na pele os efeitos negativos da poluição, das emissões carbónicas, das alterações climáticas. É importante refletir sobre como lidamos com a Mãe Natureza. Uma maneira de o fazer é rever o nosso padrão de consumo, regrar os nossos comportamentos e repensar as nossas práticas individuais e organizacionais. É interpretar os seus sintomas.

Acredito que a Natureza ressente o superpovoamento e a exploração intensiva dos recursos terrestres. Acredito que a situação de pandemia associada à COVID-19 seja um desses sintomas. Vejamos como a paralisação de alguns setores, nomeadamente do tráfego aéreo, permitiu um “respirar fundo” à escala global. A aviação é responsável pela emissão de uma elevada quantidade de CO2 para a atmosfera. A International Council on Clean Tranportation estimou a libertação de cerca de 918 milhões de toneladas de dióxido de carbono só no ano de 2018. Sofrendo uma quebra de 90%, os poucos aparelhos que sobrevoaram a Europa nas últimas semanas permitiram um suspiro de alívio ao planeta Terra. Tínhamos de abrandar independentemente das consequências. Foi um alerta para implementarmos, o quanto antes, soluções de descarbonização.

Vários estudiosos desenvolveram teses sobre a relação população/recursos. De entre objetivos e missivas, sempre houve uma questão premente: qual a capacidade real da Terra para abastecer uma população mundial em tão rápido crescimento?

Uma das primeiras teorias foi a de Malthus, nos finais do séc. XVIII, que motivou graves preocupações ao nível da sustentabilidade. Na sua ótica, a disponibilidade dos vários recursos (alimentares, hídricos, energéticos, etc.) não acompanharia o aumento populacional. Ou seja, a evolução desigual entre recursos disponíveis e população existente faria com que a Natureza atingisse o ponto de saturação e tratasse de repor o equilíbrio através da ocorrência de catástrofes naturais.

Pese embora a evidência científica, aos dias de hoje, sobre o não fundamento deste esquema teórico, não é descabida a ideia de que a Natureza dá os seus sinais. Pensemos nos furacões cada vez mais frequentes , nos longos períodos de seca e de graves incêndios ou nos episódios de cheias e tsunamis, nos sismos e nas erupções vulcânicas.

Também Meadows concluiu a inevitabilidade das catástrofes naturais. É certo que o impacto do nosso consumo de bens exerce uma enorme pressão sobre o ambiente. Por isso, está na hora de medir a nossa pegada ecológica. Saberemos objetivamente qual o impacto ambiental de ações tão simples como deslocarmo-nos para o trabalho de carro em viagens de 30 minutos ou menos? Atualmente existem ferramentas que nos ajudam a calcular o desperdício alimentar, a controlar o consumo energético e a adequar a nossa rotina às necessidades.

Não há desculpas!

Felizmente a sociedade está mais sensível às questões ambientais. Os jovens, em especial, estão cada vez mais despertos para a preservação da Casa Comum, tornando-se rostos ativos na defesa do meio ambiente e verdadeiros agentes de mudança no que toca a uma das principais preocupações da contemporaneidade. Conhecemos cada vez mais empresas que apostam na sustentabilidade e no conceito de responsabilidade social, quer pela adoção de métodos de fabrico mais económicos e menos poluentes, quer pelo uso de materiais recicláveis e de produtos biodegradáveis. Também cada vez mais autarquias investem na educação ambiental e na urgência climática.

Neste aspeto o Município de Ílhavo está de parabéns. As políticas locais têm focado esta temática como prioritária num mundo em transformação. Destacamos o EcoCentro, uma estrutura de gestão residual, singular no Distrito de Aveiro que aplica e promove as boas práticas ambientais; o Estaleiro — Estação Científica que procura responder aos desafios do tempo presente com o contributo da inovação tecnológica na produção de bioplásticos e de biodiesel; a elaboração de um Plano Municipal de Adaptação às Alterações Climáticas, único na região e exemplar em termos nacionais na preservação do litoral e da orla costeira e, ainda, a qualidade das praias da Barra e Costa Nova espelhada na bandeira azul que se ergue, anualmente, desde 1989.

Também as instituições de ensino reforçam a transmissão dos valores de cidadania às nossas crianças. Todos os Agrupamentos de Escolas do Município foram galardoados com a bandeira verde do Projeto Eco-Escolas. Esta conquista significa que os mais novos têm desenvolvido importantes ações em matéria de ambiente junto da sociedade civil, têm adotado estratégias amigas do ambiente e têm-se esforçado por cumprir uma verdadeira missão de consciencialização.

Que o orgulho deste reconhecimento não nos sirva para relaxar, para nos encostarmos confortavelmente “à sombra da bandeira”, mas sim para incentivar a trabalhar mais em prol de um futuro são.

Está nas nossas mãos salvaguardar a vida na Terra. Não é um cliché. Temos de encarar de frente este problema, porque sejamos realistas, não há planeta B!

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