ti amo

Dri Kimura
dri.ki
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2 min readJan 19, 2024

É o que nos dizemos o tempo todo, em vez de dizer qualquer outra coisa.

É a cara da @Dri Kimura, ele disse. E também: é um livro lindo lindo lindo. Três vezes lindo, em vez de dizer qualquer outra coisa.

“Um câncer terminal levará seu marido dentro de um ano” é a primeira linha da sinopse e eu penso que ele se enganou. Isso não é nada a cara da Dri. Eu fecho os olhos quando as pessoas passam mal na televisão, tenho um medo bem básico de doença e do final das coisas. A morte. Acho que não é bom falar no assunto.

Mas me dá vontade de dar uma olhadinha.

Preciso mergulhar no texto e descobrir, enquanto escrevo, do que se trata. E não consigo fazer isso agora. Eu não sei o que estou sentindo. Eu não sei o que vou sentir. Quais serão as minhas questões? Eu não sei. — p.21

Camilo Gomide traduz Hanne Ørstavik do norueguês pela Editora Aboio. O livro, pela primeira vez em português, não chega a 100 páginas. Compro e leio. E, só lendo, descubro do que se trata.

Acho que muitas histórias têm alguém que queria ter dito algo pra alguém que acabou morrendo ou partindo antes daquilo ser dito. Não sabia que aquela era a última vez, não deu tempo. O lamento pode ser dramático.

Ela vai escrever toda a história de amor deles que fez valer a pena, apesar de tudo, eu pensei, ela vai usar um arcabouço poético inédito no Brasil e me deixar tonta com esse amor inacreditável que só lá na Itália mesmo, que só no seu idioma próprio, que só na iminência da morte.

Mas Hanne desmistificou a intensidade entre eles.

pensei que minha noção de intensidade talvez fosse mais uma entre as muitas ilusões que criamos e que estão contaminadas pela pornografia, por todos os filmes, as fotos, o suor, o calor, o sexo apaixonado, pelo desejo de possuir você, de ter você, de gemer, e rugir e uivar, de corpos se batendo… — p.38

Do jeito mais pragmático, ela apresentou um amor evidente, feito de fatos.

Fui atrás de alguém que, eu sabia em algum lugar de mim, ia me ajudar a viver a vida que eu precisava viver para crescer. — p.40

Eu estava muito animada para ver seus quadros, achava que eles poderiam me mostrar lugares dentro de você aos quais eu não teria acesso de outra forma. — p.41

E fui me deparando com um texto onde apenas a verdade importa.

Carl Gustav Jung disse que nossa maior esperança ao longo da vida deveria ser adquirir um eu suficientemente forte para poder suportar a verdade sobre nós mesmos. — p.34

Hanne usa todas as palavras ao redor, busca escrever todas as verdades. Porque a morte precisa das mentiras.

Um livro lindo lindo lindo.

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