todas as mortes do grunge.

Juliana Damasceno
judamasceno
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2 min readMay 23, 2017

foi uma semana difícil pra todo mundo. tumulto, desesperança, aquela visão embaçada e triste de um futuro nada próspero.

pra piorar o cenário, e corroborar aquela velha tese em forma de música, que diz que “nossos herois morrem de overdose e nossos inimigos chegam ao poder”, me parte também chris cornell.

deixei pra escrever esse desabafo doído hoje porque, sinceramente, não me sentia capaz ou com forças pra dizer qualquer coisa sobre o assunto. pra não parecer exagerada ou mesmo que “virei fã no R.I.P”, como virou uma acusação hábito nas redes todas.

daí que, quando reuni um tantinho só de força pra falar no assunto, eu e edu concordamos que o movimento musical — que também foi moda, estilo, comportamento, cinema e lifestyle, pra muitos de nós — tomava um outro tiro, bem no meio das fuças. e começamos a contabilizar, arrasados, por quantas mortes o grunge já passou desde 1994.

Chris Cornell, Kurt Cobain, Layne Staley, Scott Weiland foram quatro dos disparos à queima-roupa, só que eu me lembre. e deve ter muito mais no lado b da coisa. massari já deve ter uma planilha disso até, com o vocalista do mother love bone e a baixista do hole, só pra ficar em exemplos.

mais do que perdas precoces e a camisa xadrez, o grunge trouxe, pra muita gente, a sensação de que o rock não tava morto, como diziam. mesmo nascido naquele cenário meio tosco, quase interiorano e industrial, aquela gente de guitarra distorcida na mão deu na cara da gente um sopro de rebeldia e barulho que talvez não existisse desde os punks. um sopro que perdeu força frente ao barulho das “tecladeiras trampadas” oitentistas e renasceu em seattle.

naquele tempo, a gente queria ouvir nirvana, alice, namorar como os atores de “singles”, ver os top 20 da MTV toda semana pra ver quem pegava o trono com um novo hit, uma nova pancada. e foram tempos bons. curtos, porém bons.

daí aquele tiro em abril de 1994 já esvaziou aquilo que a gente achava que seria um mundo novo. como a fumaça que deve ter saído do cano. e que dor foi.

mesmo a gente não percebendo o quanto aquelas letras, na verdade, soavam como lamentos repletos de angústia e desespero, de uma geração aparentemente sem futuro. a nossa.

então chegou o tal post-grunge e meteram um vidrex no nosso ouvido. tudo ficou, de repente, palatável, limpinho, sabe? foo fighters, creed, sugar ray tudo tão “aceitável” e normalzinho…

saúde, eddie vedder. tomara que demore pra parecer que foi só um sonho que a gente viveu.

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Juliana Damasceno
judamasceno

jornalista. psicóloga em processo de downloading. baixista em eterna formação.