Bioshock Infinite

Kinho Costa
Juiz Cachorro
Published in
4 min readMar 11, 2015

Semana passada, depois de mais ou menos 10 horas de Bioshock Infinite, quase que imediatamente eu abri meu notebook e comecei a transcrever toda a catarse que senti ao ver os créditos rolando. Eu precisava contar pra todo mundo (embora um pouco atrasado) como Bioshock Infinite foi um dos jogos mais impactantes que joguei, como a sua narrativa conseguia ser perfeita ao abordar tantos temas diferentes, como foi a última grande obra de arte a aparecer na indústria e como a sua história consegue ser tão grandiosa, embora não inovadora, mas original o suficiente para ser independente e livre de associações.

Enquanto os créditos rolavam, a minha cabeça juntava cada pedaço de informação que havia sido passado ali. Nos primeiros segundos pós-jogo, minha cabeça entendia tudo como sendo muito MINDFUCK, exagerado, e coisa do tipo. Porém, de forma muito elegante, o jogo nunca te engana ao contar a sua história, e não utiliza de nenhuma manipulação emocional barata para justificar o que ocorreu ali . Tudo é conciso, do seu começo ao seu final. O jogo faz questão de tirar o peso das suas costas desde o começo, pois é inevitável se sentir um pouco desconfortável com a ‘chuva de conceitos’ que o jogo te coloca logo de cara. Seu escopo é gigantesco, Infinito dentro de si mesmo, mas tudo isso é passado de uma forma que poucas mídias já conseguiram. Tem os Vox Populi, fascismo, racismo, fanatismo religioso. É inevitável estar imerso no meio do jogo e não levantar uma orelha de desconfiança com essa quantidade de abordagens, com medo de que o jogo possa se perder. E é aqui que Bioshock Infinite brilha. Se o primeiro Bioshock não foi, digamos, “entendido” por conta de seu extremismo, Bioshock Infinite consegue ser uma obra mais “enxugada” e concisa pra lidar com essa quantidade de temas (em tempo, eu discordo da Dissonância Ludonarrativa no primeiro Bioshock, mas isso é papo pra outro dia).

O ‘Infinite’ do título não é apenas pela nova ambientação do jogo (não me aprofundarei nisso, sem spoilers) e pelo level design que, consequentemente, seria um diferencial do primeiro Bioshock, que se passava em Rapture, uma cidade sub-aquática, onde cada combate era urgente, claustrofóbico, frenético e tenso. O local de Infinite é totalmente o oposto: uma cidade flutuante, chamada Columbia, bem acima das nuvens. Esse é um aspecto que, normalmente, visto ‘de cima’, serviria apenas para distinguir a localização e o setting da história. Porém, Columbia permite que o jogo tenha mecânicas mais dinâmicas e menos sistemáticas que as do primeiro jogo. Se o primeiro Bioshock era quase um RPG, com diversos tipos de ‘magias’ (plasmids, para os íntimos), munições, e etc, Bioshock Infinite opta por ser mais fluído, com bem menos opções de customização e power-ups, fazendo com que o ritmo do jogo seja mais coerente a sua ambientação. Não é nem mesmo possível acumular items de cura como no primeiro jogo, tudo em prol do ritmo, que é alucinante e funciona de forma impecável.

O jogo dificilmente será visto como um marco na indústria, mas certamente é um marco para quem o vivenciou e absorveu a experiência. Quantas páginas de fórums foram gastas para discutir o seu maravilhoso final, que muita gente vai odiar por ele contar exatamente o que queria e como queria contar, ao contrário do primeiro Bioshock, onde foi preciso ter um pedaço do jogo para ‘fechá-lo’, de modo que os mais exigentes ficassem minimamente satisfeitos. Embora complexo, o jogo não exige que você se atente a todos os minimos detalhes possíveis. Explorar cada canto de Bioshock Infinite é recompensador por si só, seja nos audios que você coleta pelo cenário ou pela pouca variedade de power-ups adquiridos. O jogo pede para ser explorado, e embora isso não seja mandatório para sua compreensão no geral, os audios e kinetoscopes agregam muita coisa útil e interessante no mundo do jogo.

Eu poderia escrever mil linhas sobre Bioshock Infinite e sobre tudo o que representa. É a última grande obra de arte a aparecer na indústria, é o magnum opus da (infelizmente) finada Irrational Games, é o melhor jogo da geração passada e é infinito mesmo começando e terminando dentro dele mesmo, não dependendo nem mesmo do primeiro Bioshock, embora hajam diversas referências e teorias sobre a ligação entre os jogos. E o sentimento de urgência (que segurei por alguns dias) que tive após o seu final para escrever isso invariavelmente vai ferver na sua cabeça por vários dias. Se jogar Bioshock Infinite, apenas aprecie tudo que acabou de acontecer e deixe que sua cabeça busque as respostas sozinha. Valerá a pena.

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