E3

Roberto Rezende
Juiz Cachorro
Published in
3 min readJun 10, 2016

Se você acompanha futebol e tem Facebook, deve conhecer páginas como a Cenas Lamentáveis. Embora não se limitem a isso, eles são uma página envolta em uma aura de saudosismo ao que o futebol passava até meados da década de 2000. De lá para cá, o futebol mudou a ponto de punir comemorações de gol, o momento máximo dentro de campo.

Eu perdi meu saco para assistir comentaristas esportivos no momento em que notei que eles estavam mais preocupados em acertar a análise e ter razão do que em transmitir paixão. Estavam assim alimentando o jacaré que cedo ou tarde os comeria, querendo extinguir o sentimento de algo que só possui o tamanho que tem graças a seu fator passional. O futebol brasileiro está como está em 2016 em parte por causa de pessoas que pouco a pouco tentaram racionalizar um esporte para uma massa que o aproveita melhor irracionalmente.

E eis que ano passado surge aquele vídeo do Super Bunnyhop sobre a E3 2015.

O Super Bunnyhop é um dos melhores canais jornalísticos de videogames do mundo e um dos meus favoritos do YouTube. É um dos poucos lugares da internet que faz jornalismo de videogames fazendo jornalismo e falando realmente sobre videogame (se você não entendeu esta afirmação, recomendo entender melhor o que é a Polygon). Eu não concordo com todas as posições do canal, mas costumo sair satisfeito porque tudo é feito de uma forma muito bem fundamentada. Esse vídeo foi o primeiro a me deixar realmente triste, embora seja o tipo de defesa que eu espere dele, algo cético na forma com a qual devemos gastar nosso dinheiro.

Não entenda isso como uma condenação ao ceticismo, eu em geral acho que as pessoas deveriam ser muito mais céticas do que são em todos os aspectos da vida. É uma mera questão de contexto mesmo. Como flamenguista, aprendi a desconfiar de qualquer time, qualquer jogador e qualquer técnico. É o melhor a se fazer quando se torce para um time que já perdeu resultados ganhos por causa de oba-oba. Mas no momento em que o time entra em campo, isso tudo é automaticamente esquecido e, de repente, o pior lateral do Brasil passa a ser o novo Roberto Carlos porque acertou um passe curto. Minha mente sai de mim porque é assim que se aproveita futebol.

As conferências da E3 são exatamente a partida de futebol. Nós tentamos adivinhar o placar na véspera, torcemos pelos nossos favoritos, debochamos dos “adversários”, procuramos uma desculpa para o que a gente gostou ser o melhor. O ceticismo tem seu espaço quando o cartão está na mão para fazer a compra, na hora da conferência o que eu quero é urrar por causa de um jogo que desejo que seja incrível. Ao contrário do que dizem os nomes, as conferências pré-E3 deixaram de ser de imprensa há muito tempo, elas transcenderam esta classificação.

Essas palavras são um desabafo de algo que me preocupou ano passado e que eu vejo ressurgir agora em canais grandes, na véspera da edição de 2016. Pouco importa como foi histórica a edição de 2015, estão tentando controlar um sentimento que não deveria ser controlado em troca de um “viu como eu sou bom? Eu avisei!”.

Bem, parabéns, agora você é o Mauro Cezar dos games.

E que venha a E3 2016!

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