Hatoful Boyfriend : Holiday Star

lucasq
Juiz Cachorro
Published in
5 min readDec 15, 2015

Hatoful Boyfriend foi uma piada — uma piada que acabou por se tornar algo bem maior que isso através do carinho (carinho?) das pessoas que riram dela. Era primeiro de Abril e alguém pensou “vou fazer uma pegadinha de primeiro de Abril”, disso saiu o conceito de uma Visual Novel onde você é uma garota colegial (!) que conhece e entra em romances com pombos (!!). Claro que eu ri quando soube disso — você também deve ter rido.

Não muito tempo atrás eu joguei ele inteiro, parte por parte, todas as rotas e graças a deus que não é só mais um Jogo Que Faz Você Rir Por Uma Hora E Largar Depois. Na verdade Hatoful tem seus pombinhos muito bem escritos, cada um com sua particularidade bem clara e uma rota interessante — podendo ou não ter uma pontinha de drama ou Conversa Séria durante elas — até que em certo momento, depois de você completar todas as rotas, é destravada uma nova rota chamada “BBL” ou Hurtful Boyfriend que não só expande o que o jogo normal tinha como torna tudo bem sério, dramático e forma todo um universo em volta do jogo. É no mínimo fantástico que alguém que poderia ter pensado “bom, já que eu vou trabalhar nessa piada sozinha, vou fazer o mais simples possível” ao invés disso resolveu fazer uma obra completa e bem coesa.

Ainda era uma piada, mas agora era também tudo o que acontece depois que alguém te conhece através de uma piada — uma hora aquilo pode virar uma conversa. Depende de você.

Durante os feriados de fim do ano o queridíssimo jogo/piada dos pombinhos ganhou uma sequência (!!!), ela se chamava Hatoful Boyfriend : Holiday Star e foi lançada por episódios, ficando completa aos poucos. Já terminada, ela era dividida em 4 episódios e com 5 mini-histórias, Holiday Star se passa em um Universo Paralelo onde os eventos da ultima rota, a famosa “BBL” nunca aconteceram. Sem o drama. Sem a tristeza. E todos seus episódios ocorrem justamente durante os feriados, daí vem a temática de natal. Isso tem tudo pra dar errado.

Alguns meses depois do sucesso (sucesso?) lá estavam os responsáveis pelo desenvolvimento de Hatoful Boyfriend reunidos para discutir (o que faremos??) e alguém deve ter lido a exata primeira linha desse texto e dito — “que tal se fizermos uma piada da piada que fizemos, todo mundo vai gostar com certeza!” — e por isso, somente por isso o primeiro episódio de Holiday Star ganhou vida. Claro que nesse processo, a mesma pessoa brandiu com orgulho “eu acho que deveríamos usar os mesmos pombos da piada anterior, assim não precisamos escrever diversas rotas, certo?”. Talvez essa pessoa tenha sido botada pra fora da casa da criadora (se você esteve até aqui sem se perguntar “mas não foi só uma pessoa que criou Hatoful Boyfriend?” parabéns, estamos quase no fim do conto) provavelmente essa pessoa foi botada pra fora — é só uma coisa que dá pra ter certeza que ela fez.

Depois do ocorrido, é claro que ela levou em conta o pensamento do jovem — foi logo após ela ter mandado o Gênio das Ideias para fora de casa que ela começou a escrever o primeiro episódio de Holiday Star — e então saiu exatamente isso, uma continuação de Hatoful Boyfriend onde não aconteceu nada da rota BBL, usando os mesmos personagens (com uma pequena adição nova) e sem nenhuma rota diferente. Para completar a figura: é um episódio de natal. Não me leve a mal, eu gosto bastante do natal. É só um choque mesmo.

Porém, como conhecemos a pessoa por trás do joguinho que era pra ser só mais uma piada que o pessoal da internet logo ia esquecer, não podia ser tão fácil assim, imagina que alguém pede sua dedicação para alguma coisa e depois de fazer tudo resolve falar que não precisava ter feito — o melhor era deixar quieto mesmo.

Não. É diferente. Esses capítulos iniciais são como um momento de calma depois do pedido, uma rotina. Depois disso as coisas vão aos poucos se interligando (em mais episódios sem muitas rotas! Mas veja bem, agora você pode errar o final as vezes) até culminar em um último episódio incrível. Não tô brincando, é do nível de “BBL” mesmo. Talvez fosse o ponto, ao invés de usar dos mesmos artifícios do jogo normal, ele prefere apostar em se utilizar de tudo o que conhecemos já e fazer uma revisita ao universo construído. Para o lado bom e para o ruim ele nega muito do que fazia Hatoful brilhar, já que você não pode ficar com nenhum pombo no final nem ter uma rota para cada um. Ao mesmo tempo, não é o mesmo jogo. Tem os mesmos personagens e eles inclusive se comportam do mesmo jeito que no anterior — parece que um conhecido de muito tempo atrás voltou a cidade, e ele não mudou nada aparentemente. Só a situação mudou.

Isso, claro, até o ultimo episódio. Aí ele vira uma obra intensa novamente, algo que parece ter sido bem pessoal — com um foco muito mais em coisas substanciais que na forma em si, diferente da rota BBL que era muito mais formal e descritiva. Sem contar muito do que se trata mas tem um enfoque maior em coisas que não são tão tangíveis assim ao jogador, é um episódio e, por consequência, também um jogo que diz muito sobre pessoas, pessoas de verdade, que conversam, saem, se relacionam e também sobre quem não faz nada disso.

Eu queria dizer pombos. Pombos de verdade.

Tudo isso não sob os termos de Hatoful Boyfriend, mas sob os termos de Holiday Star.

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