Caso Alanna Ludmila

Juliana Ribeiro
Juliana Ribeiro
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9 min readJan 17, 2018

Comoção e sentimento de justiça marcam enterro de Alanna Ludmila

Acompanhamos, com pesar e respeito, o velório e enterro da menina Alanna, vítima de um crime brutal que chocou o Maranhão nos últimos dias

Com muita comoção e revolta, familiares e amigos deram o último adeus à menina Alanna Ludmila na manhã deste sábado, dia 04. Aos dez anos de idade, a criança foi brutalmente assassinada, com sinais de asfixia e agressão sexual. Seu corpo foi encontrado nesta sexta-feira, 03, enterrado em cova rasa, coberto por entulhos, no quintal da própria casa da família.

O corpo da menina Alanna foi velado na Unidade Integrada Marly Sarney, no Maiobão, em Paço do Lumiar. Centenas de pessoas, dos vizinhos e amigos mais próximos aos curiosos sensibilizados com a perda, passaram pelo local. A família, no entanto, precisou lidar com a revolta de populares, causada pela divulgação de informações ainda não confirmadas pela Polícia e boatos espalhados pelas redes sociais.

Um cortejo seguiu o carro do Corpo de Bombeiros que levava Alanna do colégio onde o corpo foi velado até o cemitério da Pax União, na MA-204. Após a chegada da comitiva, uma corrente de oração uniu as vozes das pessoas presentes, que deram tom a um louvor cantado em homenagem à menina Alanna.

O momento foi rápido. A comoção, grande. A família de Alanna Ludmila permaneceu junta durante todo o trajeto que levou o caixão à sepultura, vestindo camisas em homenagem à menina que teve a vida tolhida tão cedo. No peito, familiares mostravam a foto de Alanna sorrindo, e a frase “Se não vos tornardes como crianças, não entrareis no Reino dos céus”, do Evangelho de Mateus.

Antes das 10h30, o caixão de Alanna já começava a ser enterrado. Em um dos momentos de maior comoção, Jaciane Pereira, mãe da menina, em prantos, falou que perdoa todas as pessoas que estão criando e espalhando boatos que associam a família ao crime. “O perdão é de Deus, e eu sei que minha filha está lá no céu, eu sei que Deus está abraçando ela agora, porque minha filha é um anjo”, disse.

Ao fim do sepultamento e num ato de conforto à família, os presentes cantaram novamente em homenagem à menina Alanna, desta vez a canção “Noites Traiçoeiras”. Durante toda a ocasião, o sentimento era também de busca por justiça. Os cartazes expunham a foto de Robert Serejo, ex-padrasto da menina e principal suspeito de ter cometido o crime, que foi encontrado no final da manhã deste sábado, 04.

“Não cabe à população julgá-la, e sim ajudá-la”, diz delegada sobre mãe de Alanna

A Delegada do Departamento de Feminicídio, Viviane Azambuja, comentou a culpabilização de Jaciane Pereira, mãe de Alanna, pelo crime bárbaro que ocorreu na última quarta-feira

Robert Serejo, até ontem o principal suspeito de ter matado Alanna Ludmila, foi capturado na tarde deste sábado, 4, pela Polícia. Mesmo após ter confessado a consumação do estupro, asfixia e ocultação do corpo da menina sem ajuda alguma, o tribunal das redes sociais segue apontando a mãe de Alanna, Jaciane Pereira, como principal culpada pela morte da filha. Os crimes: o relacionamento com Robert e sua ausência na casa onde o assassinato ocorreu.

A Delegada Viviane Azambuja, do Departamento de Feminicídio da Polícia Civil e uma das responsáveis pela investigação do crime, pontuou que a culpa acaba sendo direcionada à mulher. “Sempre as pessoas procuram a culpa na mulher. Ninguém se coloca no lugar da pessoa para saber o que de fato aconteceu”, disse a Delegada.

O assassino de Alanna, Robert Serejo, não possuía nenhuma passagem pela polícia. De acordo com informações divulgadas durante a coletiva de imprensa que ocorreu na tarde deste sábado, 4, Jaciane Pereira havia se separado há cerca de dois meses, mas ainda possuía vínculos com Robert, com quem tem outro filho. No dia do crime, a mãe deixou a criança, irmão de Alanna, na casa dos avós paternos e foi para a entrevista de emprego. Foi assim, de acordo com a polícia, que o assassino soube que a menina estaria sozinha em casa.

“É claro que vão sempre aparecer pessoas para culpá-la porque botou um homem dentro de casa, culpá-la porque deixou [Alanna] sozinha. De fato, é complicado deixar uma criança só, mas quem sabe o desespero que se passava pra essa mãe? Ela precisava trabalhar, precisava colocar dinheiro dentro de casa. Apesar de estar separada, ainda mantendo um relacionamento com o Robert, pelo que a gente entendeu a intenção dela era cortar o vínculo, então ela precisava se sustentar, precisava de um emprego”, comentou a Delegada Viviane Azambuja.

Boatos

A família de Alanna teve, ainda, que lidar com boatos que circulavam pelas redes sociais. A dor de enterrar a garota de dez anos na manhã deste sábado, enquanto o principal suspeito ainda estava foragido, foi multiplicada. Boatos de que a mãe teria envolvimento com o crime e uma foto do tio de Alanna, Jefferson Pereira, de mãos dadas com a menina, com indicações de que ele seria o assassino, foram disseminados em massa na internet. Por conta da revolta de populares, a família teve dificuldades em acompanhar o velório da menina. Todos os boatos foram negados pela Polícia.

“Ela [Jaciane Pereira] vai precisar de ajuda. Psicológica, inclusive. Ela é uma mãe que perdeu uma filha, ela está sofrendo muito. Então não cabe a mim e nem à população julgá-la, e sim ajudá-la no que for possível”, finalizou a Delegada Viviane Azambuja.

Robert Serejo: a mente de quem age por vingança

Conversamos com a psicóloga forense e clínica Evelyn Lindholm, que analisou o perfil do estuprador e assassino da menina Alanna Ludmila

Crueldade, frieza, perversidade? Palavras não dão conta de descrever o crime que chocou o Maranhão na última semana. Alanna Ludmila, de dez anos, foi estuprada, asfixiada e enterrada em cova rasa no quintal da casa onde morava com a mãe. O assassino confesso: Robert Serejo, 31 anos, ex-padrasto da menina.

Já são sete dias sem Alanna. Após dias de buscas pela criança ainda com vida, o choque de encontrá-la morta, debaixo do próprio teto, e o alvoroço das buscas incessantes do, então, principal suspeito de tê-la matado (foragido até o último sábado, dia 4), o que ficam são questionamentos. Afinal de contas, o que se passa na mente de alguém que comete tamanha atrocidade?

Robert Serejo agiu por vingança

Segundo depoimento prestado à Polícia neste sábado, dia 4, Robert Serejo confessou que agiu porque não gostava de Alanna Ludmila, que, segundo ele, atrapalhava sua relação com Jaciane Pereira, de quem estava separado há dois meses.

Para a psicóloga Evelyn Lindholm, Robert Serejo não possui sinais de patologia, por não ter em seu perfil os traços que caracterizam opressão, rigidez e impulsividade. No entanto, está dentro das características do estuprador vingador por afirmar, em depoimento, que Alanna atrapalhou seu relacionamento com a mãe e influenciou o rompimento.

“Certos detalhes comportamentais, como amarrar a vítima, silenciar, lavar o corpo ou esconder as marcas deixadas não são indício de patologia, mas sim de experiência neste tipo de ocorrência [estupro]. Muitas vezes a patologia está associada a psicopatia, onde a ação não lhe causa culpa, arrependimento ou constrangimento”, comenta a psicóloga Evelyn Lindholm.

Análise do crime

O assassino soube que a menina estaria sozinha porque Jaciane deixou o outro filho, irmão de Alanna, na casa dos avós paternos do garoto (pais de Robert). Chamou a vítima pela janela, não obteve resposta e pulou o muro do quintal. Abriu a porta da cozinha e surpreendeu Alanna, que saía do banho de blusa e toalha. Robert utilizou uma braçadeira para imobilizar a criança e consumou o estupro. “Isso demonstra a intenção e a premeditação da ação criminal, seguido desde ato”, explica a psicóloga.

Após isso, Robert asfixiou Alanna com um saco preto, o que caracteriza a despersonificação da criança, segundo Evelyn Lindholm. “A desova do corpo no local do crime, em uma cova rasa, demonstra falta de prática no crime de homicídio, mas o cuidado em levar a mochila da criança para outro local, denota a intenção de dispersar a atenção para uma ação de sequestro e não de estupro seguido de morte”, comenta Evelyn Lindholm.

Robert Serejo tem noção que o que fez é reprovável socialmente por ter apresentado resistência em confessar o estupro, afirma a psicóloga. Ela, no entanto, aponta que esta consciência pode ser decorrente tanto do constrangimento que a ação traz, quanto da relutância frente à imagem passada à população. “A expressão facial é de suma importância para avaliar o grau de satisfação quanto ao ato ou de consternação, o que só seria possível avaliar, com acesso às imagens do interrogatório”, explica Evelyn Lindholm.

Perfil: estuprador

De acordo com a psicóloga forense e clínica Evelyn Lindholm, o estuprador tem um perfil específico, definido dentro das patologias de impulso por três categorias: o caráter opressor, rígido e impulsivo. O sujeito não consegue deixar de cometer os atos, só consegue prazer de forma específica e repete os crimes. “Estas categorias têm que estar em um mesmo indivíduo para caracterizar a patologia em si, ou seja, ele acredita que não consegue deixar de fazer o que faz, só sente prazer através do estupro e tem o desejo de sempre repetir o ato”, explica a psicóloga.

A partir deste perfil, o estuprador parte para a ação baseada em padrões de ataque. Existem, segundo Evelyn Lindholm, os dominadores, que querem demonstrar virilidade e superioridade; os românticos, que simulam encontros e fazem jogos para cometer o crime; os vingadores, que têm por objetivo principal machucar a vítima como forma de vingança; sádicos, que são os mais perigosos e podem virar seriais; e os oportunistas, que se aproveitam de situações que não têm como foco principal a agressão sexual.

  • Evelyn Lindholm é psicóloga forense e clínica, com extensões na área da Psicologia Jurídica, e avaliação do perfil criminal, palestrante e consultora.

Robert Serejo, assassino de Alanna, segue isolado em Pedrinhas

Os rumores de que o estuprador e assassino da menina de dez anos teria sido encontrado morto em Pedrinhas foram desmentidos pela Polícia

Rumores de que Robert Serejo, assassino da menina Alanna Ludmila, de dez anos, teria sido encontrado morto no Complexo Penitenciário São Luís foram desmentidos pela Polícia. A Delegada do Departamento de Feminicídio, Viviane Azambuja, informou que o criminoso segue isolado em Pedrinhas, e que as informações divulgadas nas redes sociais não passam de boatos.

Já são mais de três semanas desde o crime que chocou o Maranhão. Alanna foi estuprada, morta e enterrada no quintal da casa onde vivia com a mãe e o irmão, no Maiobão, pelo ex-padrasto, Robert Serejo. O homem foi capturado quatro dias após ter cometido o crime, tentando sair da capital. De acordo com a Delegada responsável pelo caso, o inquérito policial deve ser concluído até o fim do mês.

Relembre o caso

Na manhã do dia 1º de novembro, uma quarta-feira, Jaciane Pereira deixou a filha de dez anos, Alanna Ludmila, sozinha em casa para ir à uma entrevista de emprego. De acordo com a mãe, a criança já havia ficado só em outras situações, sempre instruída a nunca abrir a porta para terceiros.

A mulher, que havia se separado do ex-companheiro Robert Serejo há cerca de dois meses, deixou o filho menor, fruto da união com o homem, na casa dos avós paternos do garoto. Deste modo, Robert soube que a menina Alanna estaria sozinha em casa. Ele, então, chamou a criança pela janela, não obteve respostas, pulou o muro do quintal e abriu a porta da cozinha com uma chave que possuía.

Robert Serejo consumou o estupro de Alanna Ludmila, asfixiou a menina e escondeu o corpo no quintal da própria casa onde ela morava com a mãe e o irmão. O assassino ainda chegou a prestar depoimento na noite de quarta-feira, dia 1º, mas foi liberado em seguida. Quando foi procurado para dar novos esclarecimentos, já havia desaparecido.

O corpo de Alanna Ludmila foi encontrado na manhã do dia 3 de novembro, uma sexta-feira. No dia seguinte, ocasião do último adeus à menina, Robert Serejo foi capturado tentando deixar São Luís. O homem, até então principal suspeito de cometer o crime, estava numa van que levava policiais apaisana para uma competição esportiva no interior do estado, e foi encaminhado ao Quartel General da PM, onde confessou ter estuprado, matado e ocultado o cadáver da criança de dez anos.

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