CURTAS 2016: Encontrámos a Dory em Vila do Conde

O novo filme da Pixar dá o pontapé de partida ao festival de cinema português.

Ana Rita Costa
Jump Cuts
4 min readJul 11, 2016

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sempre uma familiaridade indulgente num regresso ao Curtas, aquele festival que furta sem vergonha os melhores dias de praia do ano e sabe a uma maratona de Senhor dos Anéis em casa de um amigo. Isto, se esse amigo habitar um teatro em Vila do Conde e tiver o superpoder de sacar filmes que não têm página no IMDb.

Este ano, o Curtas levantou o pó da sua sala principal numa sacudidela bem irónica com o blockbuster À Procura de Dory. O programa do Curtinhas arrancou com uma longa dos génios da Pixar e admitamos que arrancou em força com uma sala a abarrotar de crianças impacientes que procuravam o peixinho azul entre a passarada de Piper, mas não tardaram a deixar-se conquistar pela peculiar personagem de Alan Barillaro.

Este é mais um testemunho à excelência da Pixar, que não se poupa nem na meia dúzia de minutos que antecede o filme que todos pagaram para ver. Piper é uma curta deliciosa sobre superação, que não se cansa de encher a vista, dos grãos de areia à espuma das ondas. Provavelmente, um filme de impacto superior à trama nova de Dory e Marlin e talvez seja essa a verdade menos doce da questão.

A escolha de passar filmes comerciais para abrir o apetite de quem visita o Curtas não é nova, tampouco será de eficácia questionável. Há bem pouco tempo era a Ovelha Choné que animava a malta, este ano é a Pixar que põe os pais a explicar aos mais pequenos a diferença entre uma curta e uma longa-metragem: “Então o filme da Dory é uma curta.” “Não, já te expliquei que as curtas só têm alguns minutos. Isto é uma longa-metragem.” “Mas então como é que está a abrir o Curtinhas?” Excelente pergunta, Maria, vamos passar essa à organização do Curtas Vila do Conde.

À Procura de Dory é uma sequela.

Não, a sério. É mesmo só isso.

Está bem, mãe, eu explico. Uma sequela bastante inútil, na minha opinião, não fosse esse o mal maior de grande parte das sequelas. Não me levem a mal, o filme é lindo, visualmente é um mimo, apesar dos flashbacks meio duvidosos e o aspeto da corrente simplesmente estranho. No entanto, isso não deixa de ser o esperado, pelo menos para os estúdios que capitalizam duma qualidade absurdamente incontestável.

Podíamos ficar encantados com as pequenas referências ao sucesso monumental de 2003, não fosse o filme ser completamente repescado de À Procura de Nemo. Das sequências de desafios cada vez mais impossíveis, que deixam de ser impossíveis só porque sim, passando pelas personagens secundárias e adoráveis que não passam disso, à amostra única de personagem relevante que não tenha o nome no título. História de origem do Hank daqui a 13 anos, quem sabe.

Atenção, eu não tenho nada contra repetições do original vendidas como sequelas por mais uns trocos. Como poderia? Representam metade dos filmes que estreiam hoje em dia, como é que poderia ter um problema com metade dos filmes que estreiam hoje em dia e a falta de originalidade e este lixo em que Hollywood se tornou e… Divago.

À Procura de Dory é OK. Tão engraçado e encantador quanto um miúdo de seis anos pode exigir, afinal quem sou eu para julgar um filme que não me inclui no público alvo. Imprevisível na mesma medida, já que o Afonso da quinta fila conseguiu desvendar alto e bom som a totalidade dos encontros falhados da Dory com os pais e introduzir um efusivo “Os pais dela estão ali” a mais de um minuto da primeira concha. Ou o ministério adicionou teoria do cinema ao programa da escola primária ou estamos cada vez menos inventivos.

O que é certo é que o Curtas principiou em família e prevê-se que siga esta tendência até Domingo. Entre sestas na sala 2 embaladas pela cacofonia indie de um país europeu qualquer e a dúvida entre olhar para o ecrã e olhar para a banda que paira em cada filme-concerto, em Vila do Conde há de tudo para todas as idades. Curtas, Curtinhas e conversas de esplanada com o Josh Mond sobre a morte velada do Paul McCartney (vocês vão-me desculpar, mas eu já estava na mesa antes de chegarem e falaram super alto).

Só no Curtas.

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Ana Rita Costa
Jump Cuts

Full time Storyteller and Dream Maker, part time Genius. Also, extremely Modest.