FRIGHT FRIDAY #3

F | G

Patrícia Lírio
Jump Cuts
4 min readJul 8, 2016

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Uma das vantagens de ser fã de cinema de Terror, é darem-me carta branca para divagar e falar descontroladamente sobre o assunto.

Perguntam-me que filme ver, que realizadores seguir, e dou por mim envolvida num monólogo interminável sobre coisas que não têm muito que ver umas com as outras, e que na realidade vão só do gosto e da vontade de cada um. Com as Fright Fridays é igual. Faço sempre um esforço muito grande por procurar títulos diferentes do habitual e partilho quase sempre as minhas experiências mais estranhas com os filmes em questão, mas acaba por ser inevitável tocar em alguns aspectos transversais da história do género.

Tendo isso em conta, fiquem com as sugestões desta sexta-feira, nunca esquecendo que às vezes sabe bem sair da nossa zona de conforto.

FROM BEYOND (1986)

Há um charme inerente aos filmes de body horror que lhe é bastante merecido.

Tal como o giallo em Itália nos anos ‘70, tínhamos o body horror por todo o mundo a encher salas de cinema na década de ‘80. From Beyond foi um dos seus protagonistas, numa fase importantíssima do subgénero de ficção científica. Fala de um médico, Dr. Pretorious, que consegue criar uma ligação entre dimensões através de uma glândula na base do nosso cérebro, e as suas experiências acabam por resultar na sua morte, mas não no seu sossego. Apetitoso.

Com From Beyond, Stuart Gordon tentou exceder o seu filme anterior, Re-Animator, mas sem comparação de sucesso. Ainda assim, e apesar de não ter atingido o mesmo sucesso, o seu esforço não deixa de ser de louvar, assim como a sofisticação dos efeitos especiais.

Bem sei que recomendar filmes de terror do Stuart Gordon é a mesma coisa que recomendar música pop a descrentes de música ligeira — suicídio. Apesar disso, quero que saibam que foi Stuart Gordon quem mais se apropriou do espírito Lovecraftiano (se não contarmos com Alien (1979) de Ridley Scott), e ainda que por vezes falhe redondamente, o seu estilo viscoso, ranhoso e escorregadio (no sentido literal dos termos) fazem-no destacar-se numa década de 80 interessada somente pelos bons efeitos especiais nos filmes de terror. O ponto fulcral do body horror é a maneira com que nos deixa repugnados com o nosso próprio corpo, e a forma como ele se pode virar contra nós — quem gosta de Cronenberg sabe perfeitamente do que falo. Stuart Gordon é só mais um bocadinho cómico e desleixado, mas não menos notável.

GOODNIGHT MOMMY (2014)

Vivemos numa altura em que a internet e o boca-a-boca têm um impacto imediato na opinião que temos sobre um filme ainda antes de o vermos, e o spoiler é tramado. A opinião dos outros sobre um filme ou sobre uma série cada vez importa mais do que as próprias obras em si, mas imploro: ignorem o que quer que tenham ouvido sobre o final deste filme.

Porque Goodnight Mommy, para além ser um dos raros exemplos da diferença entre plot twist e revelação, é também muito mais do que apenas o seu final.

A dupla de realizadores austríacos Severin Fiala e Veronika Franz trazem-nos um conto desconfortável sobre aquilo que nos é confortável — a maternidade — e falam-nos de dois irmãos gémeos cuja mãe, recentemente operada e irreconhecível, começa a mostrar indícios de que algo não está bem. Se calhar até nem é a mesma pessoa. Goodnight Mommy mostra-nos um lado mais frágil da ligação mãe-filho, desenvolvendo a arte do silêncio nesta relação de uma forma bastante educativa e assustadora. É fresco e algo inovador; está estupidamente bem escrito, representado e realizado; talvez o combo necessário para se ter um grande filme. É tenso e rígido e duro e sufocante. Tal como uma mãe.

Infelizmente, ter acesso a este tipo de obras é muito mais complicado do que devia ser, mas façamos figas para que o tragam ao MOTELX.

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