Os Melhores Vilões de Infância

A essência dos pesadelos — com sadismo e humor.

Patrícia Lírio
Jump Cuts
6 min readJun 30, 2016

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Talvez seja por observar demasiado e falar sobre o assunto com muita gente, mas parece-me que existe um certo desconforto de muitos em idolatrar vilões. Não sei se por incómodo ou por pouca familiaridade com maldades, mas de uma forma ou de outra o clube de fãs dos vilões tem muito poucos adeptos. É complicado encontrarmos alguém que te diga que adora a Cruella DeVille mais do que os dálmatas, ou que a sua personagem favorita do Corcunda de Notre Damme é o Frollo por ter desejos carnais mesmo sendo padre.

Só que apesar de pequeno, este fan club tem adeptos fervorosos e convictos (eu incluída). Às vezes sabe bem dar voz aos fracos e aos oprimidos — o que no fundo é o que muitos dos vilões acabam por ser.

Encarem este artigo como uma espécie de apoio moral a muitas dessas personagens, e dêem as vossas sugestões!

Sid Phillips (Toy Story, 1995)

Toda as crianças tinham pesadelos com isto. Repito, todas.

Já era mau o suficiente o Woody e o Buzz estarem zangados por causa de crises existenciais, e completamente perdidos do Andy e dos outros brinquedos, ainda tinham que ir parar a casa do miúdo mais sádico de todos os tempos. Quem não ficava com medo do riso maléfico do Sid não era gente.

Apesar de assustador, o Sid até tinha a sua piada (dizia que queria andar de pónei e tinha aparelho nos dentes), e vamos confessar que todos nós fazíamos operações plásticas aos brinquedos ou lhes cortávamos o cabelo, o que nos aproxima um pouco dele. Sempre foi, sem dúvida, a minha personagem de eleição do primeiro filme, e embora num cameo muito curto, soube bem vê-lo no último.

Red (Cow & Chicken 1995 — 2004)

Neste caso estamos perante um senhor vermelho que, apesar de tentar seduzir a nossa Vaca e o nosso Galo para a má vida, até tem o seu je ne sais quoi que acabava por deliciar os miúdos. O Red faz-me lembrar a personagem do Tim Curry no The Rocky Horror Picture Show (1975), de saltos altos vermelhos e linguagem sensual. Mesmo que por vezes se tornasse irritante e maçador, a verdade é que todos o adorávamos por ter classe.

Drama queen por natureza, ele andava todo nu, de rabo ao léu, ou vestido de mulher ou de enfermeira, mas sempre com um nome diferente em cada episódio e a tentar enganar e a infernizar toda a gente à sua volta. Vilão que é vilão fica na memória de todos, sem excepção.

Eris (Sinbad, A Lenda dos Sete Mares, 2003)

Já para a civilização grega a Eris era a Deusa do caos e da discórdia, por isso é mais do que legítimo o seu potencial de feiticeira e vilã exemplar para as crianças. Para além de bonita era também sedutora, e por essa mesma razão o pobre Sinbad, ladrão e mentiroso exímio, se trama. A sua música de introdução ainda hoje me entra pela espinha e me dá vontade de ir pela rua a causar a confusão.

Sinto-me sugada para adorar esta personagem, por ser confiante e poderosa, má, impiedosa e cheia de fúria, mesmo que nem todos a conheçam ou se lembrem dela. Como sou adepta de ver animação até no leito da nossa morte, aconselho que vejam pelo menos um pouco de Sinbad, A Lenda dos Sete Mares na vossa língua de preferência e se deliciem com as maldades pecaminosas com que Eris nos brinda.

Ursula (A Pequena Sereia, 1989)

Ainda em lides femininas e cheias de poder e maldade, entra a Ursula, bruxa do mar e dos peixes, a mulher-polvo sem escrúpulos que se aproveita do amor e da paixão só mesmo por ser má. Sempre que se brincava aos filmes no recreio do pré-escolar ninguém queria fazer de Ursula e isso é mais do que justificado pelo poder das circunstâncias; mas em tom de brincadeira, acho que o que lhe fazem é bullying e preconceito, só porque a Ariel era bonita e esta era feia.

No entanto, se repararem bem, a Ursula até tinha sua pinga de sensualidade, ali cheia de curvas e de peito fogoso, e qualquer mulher se lembra de idolatrar aquele colocar de batom de coral, aquela dança de ancas e aquele cabelo branco invejável. Sim, era poderosa, mas também era de sentir raiva e frustração sempre que a mulher começava a mostrar as suas garras.

Scar (Rei Leão, 1994)

Sou um pouco suspeita, mas digam o que disserem, é mais do que sabido e de concordância geral que o Scar é o pior (ou melhor) vilão que a Disney já criou ou está para criar; e quem não achar o mesmo não tem coração. O leão era cheio de classe, persuasivo, maquiavélico, feio e ruim, e ainda por cima tinha como carrascos o conjunto de personagens mais eficaz de sempre: as hienas Shenzi, Banzai e Ed. A ironia e o sarcasmo estavam presentes em cada palavra que proferia, e os seus planos do mal afectavam qualquer criança de seu perfeito juízo.

Como se isso não fosse suficiente para o detestar, matou o pai do Simba e mentiu às leoas, suprimiu a comida do reino e ainda deixou os bichos entregues às hienas que, coitadas, sendo um animal muito pouco inteligente, só se revoltaram pelo bem do clímax final. Nunca é tarde, amigas.

Buu (Dragon Ball Z, 1996 — 2003)

Eu bem que podia falar no Cell, no Frieza, ou no próprio Vegeta... mas como que para sádicos, drama queens e reis do sarcasmo já temos alguns dos vilões anteriores, fica a representar Dragon Ball Z aquele que foi o mais marcante, característico e imprevisível de todos.

Este vilão cor-de-rosa aparentemente inofensivo surge durante a saga mais comprida da história da série. A reacção ao seu nascimento foi transversal a todos os miúdos e graúdos: risos. Mas os risos terminam a partir do momento em que percebemos que aquele bocado de plasticina que deita fumo pelos buraquinhos não passa de uma máquina de matar, comandado por um verme-barata irritante que só faz lembrar aquele primo que todos temos que recebe os presentes todos e ainda inveja o nosso par de peúgas.

As suas fases intermináveis de mutação e transformação, sempre para um nível superior com combos e ataques mais agressivos e destrutivos, mantinham-nos coladíssimos ao ecrã todas as tardes. Se por uns o acharem amigo e os outros inimigo, ou porque na altura não havia mesmo mais nada para fazer, as discussões no recreio andavam sempre à sua volta e da sua maldade, ou então das piadas que mandava na versão portuguesa. De uma maneira ou de outra, todos nos lembramos dele.

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