OUTCAST: Baratas, Lágrimas e Demónios

A nova série da FOX diz-nos que bater em crianças chatas é legítimo — apenas se estiverem possuídas pelo demónio.

João Silva Santos
Jump Cuts
3 min readJun 7, 2016

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Aterrorizador como poucas séries (ou filmes, para todo o caso) conseguem ser, Outcast brilha pelo ambiente intenso que estabelece de imediato com a primeira cena.

Nela, um rapaz olha para uma barata na parede do seu quarto, enquanto a sua mãe discute com a irmã. A barata move-se, até que o rapaz a esborracha repentinamente com uma cabeçada. É um momento inesperado, e apesar deste episódio piloto nunca o conseguir igualar em termos de intensidade, cria uma urgência narrativa e a sensação de que Outcast não joga pelas mesmas regras do que é considerado “aterrador”.

Até porque, minutos mais tarde, encontramos o nosso protagonista, Kyle Barnes, a espancar violentamente esta criança possuída pelo demo.

Barnes é interpretado pelo adequadamente creepy Patrick Fugit, um golpe de casting genial que se sente ao longo do elenco inteiro: caras como a de Reg E. Cathey (sempre bem-vindo no meu ecrã) surgem para dar vida à pequena cidade de Rome, onde a narrativa de Outcast se desenrola.

De facto, o primeiro episódio apoia-se na performance sólida destes atores para cuspir algum palavreado expositivo mas necessário, como a história de abuso de Barnes e outros acontecimentos estranhos em Rome. Quando era criança, Barnes foi violentado pela sua mãe, que descobrimos também ter sido possuída por uma espécie de demónio. Outcast carrega o seu lado supernatural com franqueza, sem medo de atirar a audiência para um mundo povoado pelo histerismo religioso e criaturas malévolas de que a Bíblia tanto nos fala.

É refrescante uma série deste género não tentar enganar as personagens (e a audiência) com meras alusões ao extraordinário, limitando-se a um realismo aborrecido que acaba por não ir dar a lado nenhum. Já Outcast atira-se de cabeça para uma realidade diferente e genuinamente aterradora. Como a criança da cena inicial, não tem medo de se encher de sangue e de líquidos viscosos, assustando a audiência com uma espontaneidade que muitos dos filmes de terror hoje em dia, viciados em jump scares, simplesmente não são capazes.

No entanto, apesar desta abordagem relativamente original, o enredo de Outcast acaba por não divergir muito das inúmeras histórias de exorcismos que vemos por aí. Adam Wingard (um dos criadores da série e o realizador deste primeiro episódio), estabelece um tom opressivo, com uma cinematografia melancólica e estilo para dar e vender nas cenas de terror, mas muito do humor cáustico que caracteriza as suas obras não existe em Outcast, o que a longo prazo pode tornar a série noutro extravasamento deprimente como The Walking Dead.

Por enquanto, é suficientemente interessante (e assustadora) para continuar a ligar a FOX às segundas, sem receio de poder estar a fazer algo melhor. Ficamos à espera do próximo episódio.

E vocês, o que acharam?

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