Viva Alan Rickman

João Silva Santos
Jump Cuts
Published in
2 min readJan 14, 2016

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Era 2001 quando o meu pai me chegou com um novo DVD a casa, sobre um pequeno feiticeiro e a luta contra o mal. Coloquei o DVD na bugiganga, todo ansioso, e sentei-me para a sessão de cinema caseira de que mais me recordo.

Duas horas e meia depois, odiava o Alan Rickman. Não sabia quem era o Alan Rickman; naquela altura ele era só o Snape. O Snape: aquele gajo que me parecia mau, depois bom, depois mau outra vez. A sua ambiguidade foi algo que me acompanhou durante todos os meus anos pré-pubescentes, não só pela moralidade atípica da personagem criada por J.K. Rowling, mas também porque Alan Rickman, ator impecável que ele é, sabia imbuir aquele homem frio e cínico da quantidade necessária de vulnerabilidade para apaixonar com emoções contraditórias uma criança irrequieta.

E, então, aprendi a amar o Alan Rickman. Aprendi a amar o Snape. Os filmes do Harry Potter sucederam-se em catadupa, e apesar de todo o crescente virtuosismo visual, e da alegria de ver aqueles atores a envelhecer comigo, o que ainda me fica é o quanto Snape, ele próprio, muda; talvez não como pessoa, mas a nossa atitude em relação a ele. Sem Snape não há Harry Potter: o professor de Poções é uma personagem tão integral à saga como o próprio Dumbledore. Snape é a âncora emocional do que por vezes não passa de uma amálgama improvisada de feitiços e hormonas adolescentes; é o humano que mais representa o quão multifacetada é a idade adulta, a idade para a qual todos caminhávamos, e para a qual ainda caminhamos.

Mas Rickman é mais que Snape, é mais que Hans Gruber, é mais do que qualquer representação mental que podemos ter do homem, após tantos filmes com ele a acompanhar o crescimento do nosso universo visual.

Viva Alan Rickman.

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