Como gerar impactos como equipe de UX Research de uma só pessoa?

Crícia
junodesignteam
Published in
8 min readFeb 12, 2021

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Vou te contar nesse artigo alguns aprendizados que me levaram a reduzir a ansiedade e preocupações nesses passos iniciais como UX Researcher em uma Fintech de Pagamentos.Também vou apresentar algumas estratégias que utilizei para causar maior impacto mesmo sendo uma equipe de UX Research de uma pessoa só.

Imagem ilustrativa contendo diversos livros em forma de um espiral, com intuito de demonstrar caos.

Em maio do ano passado, após 1 ano e 9 meses atuando como UX Designer, topei o desafio de migrar de área mais uma vez e assumir a função de UX Researcher na Juno.

Com a chegada da pandemia, passamos a trabalhar em casa e isso me possibilitou atuar de longe em um time com 6 Product Designers que estavam sonhando com a chegada de uma especialista em Pesquisas.

Um detalhe importante: Enquanto eles aguardavam ansiosamente, eu, a "especialista em Pesquisas" estava morrendo de medo de toda essa expectativa. Sempre aquela velha Síndrome da Impostora né pessoas?

Em cerca de um ano como UX Researcher na Juno, em meio a uma pandemia e um caos interno, sinto que aprendi muito, muito mesmo! Por isso, decidi reunir alguns aprendizados e compartilhar com pessoas que se encontram nesse mesmo cenário de uma “euequipe” de Pesquisa ou que têm curiosidade em saber um pouquinho mais sobre minha história ;)

Na imagem há o seguinte título: jornada inicial, logo abaixo, é apresentado os tópicos abaixo: Explorar — Explore o terreno! Capture percepções, principais dores, necessidades e prioridades para o negócio. Planejar — Organize, planeje e centralize suas pesquisas. Ouvir e envolver — Ouça seus pares e envolva as pessoas de diferentes áreas em diferentes momentos de suas pesquisas. Autoconhecimento — Se conheça, faça autoanálises sobre seus viéses, visões de mundo e pré concepções existentes.
A imagem ilustra alguns passos importantes nesse início de percurso como UX Researcher, eles foram: precisei explorar as principais percepções e dores do meu time, me organizar e planejar bem as pesquisas, ouvir e envolver diferentes pessoas e áreas nos processos de descobertas e por fim autoconhecimento para reduzir viéses nas pesquisas.

Sobre migrar para pesquisa

Eu sempre fui uma pesquisadora! É uma afirmativa muito certeira, mas hoje consigo dizer isso sem ter mais tanto medo de ser julgada (obrigada, terapia!). Digo isso porque sempre fui uma pessoa muito curiosa, ouvinte e que gostava de compartilhar coisas novas que aprendia ao longo das minhas experiências. Essas habilidades também me ajudaram a criar estratégias de sobrevivência para lidar com as adversidades e desafios ao longo da minha trajetória como mulher afroindígena, periférica e nordestina.

Nem só de curiosidade, escuta ativa e compartilhamento de conhecimentos são feitas as pessoas pesquisadoras, mas considero habilidades essenciais pra atuar como UX Researcher.

Após migrar de Suporte Técnico pra UX Designer e atuar em diferentes etapas do processo de design, redescobri a pesquisadora que havia em mim e entendi que queria me aprofundar um pouco mais em dados, histórias e pessoas.

Plano de fuga! Ops, estratégia ;)

Como mencionei no início, o termo “especialista em pesquisas” me assustou, e isso resultou em horas e horas lendo livros, revisando Toolkits e lendo artigos aqui no Medium. Na minha experiência anterior, atuei em projetos de pesquisas, mas não focada e por este motivo tive a sensação que não daria conta. Com o passar do tempo, fui me encontrando e entendendo o que o meu time almejava, o que a empresa necessitava e o que de fato eu tinha pra oferecer.

Ao longo dessa trajetória, reuni alguns aprendizados que foram essenciais para alcançar bons avanços e impactos como equipe de UX Research de uma só pessoa, em ordem porque aqui a ordem importa. A partir daqui, você vai encontrar dicas que julgo importantes para que inicie uma prática de pesquisa em seu time e para que como profissional, não seja tomado pela insegurança e ansiedade ao longo dessa jornada:

#1 Explorar para desbravar

Quando entrei na Juno, o time de Produto era composto por 7 Product Managers, 1 Product Lead e 6 Product Designers. Nosso time de tecnologia ainda trabalhava separadamente, mas estava sempre em contato alinhando as entregas e projetos. Nessa época, devido a quantidade de demandas, nosso time de Design não conseguia realizar pesquisas com frequência e por esse motivo a contratação de uma UX Researcher representou um grande marco.

Sabendo que a intenção do meu time era mostrar o valor de realizar pesquisas com nossos usuários para o time de Produto, iniciei uma etapa de entender o solo que estava pisando. Inicialmente, confesso que me senti perdida, sem saber como começar, por onde começar e o que traria mais valor para o negócio. Para me assegurar melhor disso, foi importante:

👉 Entender os nossos produtos, os nossos desafios internos e externos e o que já tínhamos de dados sobre nossos usuários;

👉 Compreender o que minha liderança imediata e meu time esperava do meu trabalho e a respeito de pesquisas;

👉 Mapear principais percepções, necessidades e prioridades do negócio;

Na prática, é pesquisar para compreender seu time e também a empresa que está adentrando. Confesso que não tenho uma fórmula pronta, contei com o apoio de diferentes pessoas e não acertei de primeira. Li livros, artigos e conversei com outros profissionais, mas foi experienciando e testando que fui entendendo os próximos passos.

Hoje vejo que coletar e capturar essas percepções e pretensões me ajudaram a perceber que o impacto não seria imediato e sim pouco a pouco. Também pude identificar onde investir maior esforço, como por exemplo, apostando em apresentações mais elaboradas para produzir resultados relevantes e interessantes para o momento do time.

#2 Planejar para impactar

Após explorar, você vai criar oportunidades de pesquisas, seus colegas vão começar te envolver em seus projetos e os Product Managers vão começar a trazer algumas demandas. Nesse momento, pode ser que você vá fazer algumas pesquisas rápidas, assim como vai precisar explicar e mostrar para eles que a pesquisa demanda tempo, planejamento e estratégia.

Construir desde o começo seus planos de pesquisas colaborativamente é o melhor caminho para trazer grandes impactos.

Além desse planejamento da pesquisa, tem alguns pontos que pessoalmente percebo que foram fundamentais para reduzir minhas preocupações como profissional e também para escalar os nossos processos de pesquisas:

👉 Se organize e ache um processo para chamar de seu: Pra mim, organização é um desafio! Mas a cada dia aprendo que me organizar reduz minha ansiedade e evita esquecimentos. Ao longo desse tempo, fui testando um processo de pesquisa que me ajudou a conscientizar as pessoas sobre as etapas das pesquisas e também me ajudou a manter confiança no que estou entregando.

👉 Otimize seus processos, crie templates e centralize suas pesquisas: No contexto que estou inserida, as coisas acontecem muito rápido e, por esse motivo, precisei compreender como poderia otimizar meus processos. O meu jeito foi criar templates para meus processos cotidianos como relatórios, análises e planos de pesquisas. Isso economizou algumas horinhas para investir em atividades mais estratégicas. Além de centralizar todas as nossas pesquisas em um único lugar, isso culminou em um Espaço de Pesquisas (que em outro momento conto aqui ;)

É importante dizer que esses dois pontos são bem específicos do meu contexto atual. Teste e experimente para entender se faz sentido pra você. O importante é que você compreenda como tornar suas atividades e entregas menos estressantes. Por experiência própria, você só encontra uma solução bacana experimentando.

#3 Envolver e Escutar Ativamente para alavancar

Ouvir para entender seus colegas, líderes e usuários. Ouvir para compreender as necessidades da empresa.

Inclua diferentes pessoas na definição do escopo de sua pesquisa, convide-as para assistir suas pesquisas, chame-as para atividades colaborativas. Teste diferentes maneiras de compartilhar suas percepções e insights. Ouça e envolva diferentes pessoas em diferentes fases de sua pesquisa.

Quando você faz esse exercício de escutar mais ativamente as pessoas ao seu redor, você entende como co-criar processos, forma parcerias eficazes e isso resultará em mais impacto para a sua pesquisa do que fazê-la sozinho.

E apesar de estar em uma equipe de UX Research de uma só pessoa você é pesquisadora para as pessoas, para seu time e sua empresa. Isso quer dizer que seu trabalho precisa ser feito de forma coletiva e não sozinho (apesar de no momento está só como time). Algumas práticas que me ajudaram e continuam me ajudando nesse sentido, foram:

👉 Feedback: Peça feedback aos seus colegas e também aos seus pares sobre suas entregas. Mais do que isso: preste atenção aos comentários e sugestões que surgirem ao longo de suas apresentações e vá aperfeiçoando o seu trabalho a partir disso;

👉 Trocas com outros profissionais: Dialogue com outros profissionais, compreenda como são seus processos, quais são seus desafios, o que deu certo ou não. Conversar com outras pessoas que atuam com pesquisa, em diferentes frentes e segmentos, pode te trazer inúmeros aprendizados e insights.

👉 Mentoria: Converse com sua liderança, conte seus anseios e inseguranças. Conte suas ideias e pretensões. Ouça e seja ouvida! Obrigada Juliana Nieri por cada 1:1 e momentos de conversas e trocas

Para alavancar os resultados das suas pesquisas e descobertas: Sempre certifique-se de levar outras pessoas junto contigo, seja nos testes de usabilidade, nas pesquisas exploratórias ou mesmo em alinhamentos. O que aprendi ao longo desses meses, foi que os melhores resultados que obtive vieram quando envolvi diferentes áreas nos nossos processos de pesquisas.

#4 Autoconhecimento para não surtar

Meu surtos são calmos e silenciosos, mas acontecem! Como uma profissional de pesquisas precisei aprender na marra que a pesquisa é para tudo nessa vida, inclusive para autodescoberta. Uma migração em meio a uma pandemia, desafios novos como profissional, uma perda de um ente querido e uma vida inteira de inseguranças exige dias de terapias, momentos de autoquestionamentos e exercícios de autocompreensão.

Como pesquisadores, não somos passivos ou neutros em nossas pesquisas. Descobrir o que pode nos levar a viéses e determinações baseadas em nossas próprias vivências é essencial.

Todos esses atravessamentos fazem parte de mim e da minha trajetória como pessoa e profissional. Entender que eles poderiam decorrer em impactos nas minhas pesquisas, assim como descobrir quais eram as etapas que mais me deixavam ansiosas ou como podia reduzir viéses e momentos de ansiedades foi e tem sido o desafio. Um pouco doloroso né? Mas, super necessário.

Se você está se perguntando como fazer isso, comece por perguntas como:

👉 Qual é o seu momento? Quais são os seus atravessamentos?

👉 Quais são as fases do seu trabalho que te causam maior ansiedade ou frustração? Qual é a sua “zona de conforto” em pesquisa?

👉 Qual são suas opiniões e convicções e como elas podem interferir nos seus resultados? Quais são as suas pré concepções?

Esses foram alguns questionamentos que levantei, levei para minha terapia e acredite muitos outros surgiram. Vieram diversas descobertas assim como estratégias para lidar com elas. O percurso de autodescoberta é tão importante quanto ter conhecimento de técnicas e ferramentas, então invista um tempo pra navegar nessa autoanálise.

Por fim, aqui estou!

A imagem traz os seguintes dados referentes a 2020: 07 projetos de pesquisas qualitativas, 01 espaço de pesquisa no Google Sites para compartilhar nossos resultados de pesquisas, + de 05 pesquisas qualitativas realizadas e + 170 usuários envolvidos em nossos processos de forma geral.
A imagem traz os seguintes dados referentes a 2020: 07 projetos de pesquisas qualitativas, 01 espaço de pesquisa no Google Sites para compartilhar nossos resultados de pesquisas, + de 05 pesquisas qualitativas realizadas e + 170 usuários envolvidos em nossos processos de forma geral.

Agradeço imensamente se chegou até aqui! Foi um ano intenso, aprendi muito, descobri, surtei e sorri :)

Após mais de 170 usuários envolvidos em nossas projeções e muitas iniciativas em andamento, consigo visualizar muitos avanços e impactos. Nosso time de Produto hoje já não é o mesmo e nem eu. Estou ansiosa para os próximos passos. Até aqui, gratidão pelo processo, pelas pessoas que caminharam comigo e pelas oportunidades que estão por vir ♡

Eaí, como foi sua caminhada para implementar pesquisa na sua empresa? Quais foram seus aprendizados? Como lidou com seus anseios e ansiedades? Deixe aqui nos comentários vou amar ler e conhecer um pouquinho da sua trajetória!

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Crícia
junodesignteam

Pesquisadora - UX Researcher, Facilitadora e Consultora de Projetos Socioculturais https://linktr.ee/cricia.silva