O 8 de Março da Sororidade

Pela primeira vez em 27 anos de vida, eu não me senti sozinha e diminuída nesse dia.

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Mulheres no evento 8M realizado na ThoughtWorks no dia 8 de Março de 2017 (foto: Nicole Sojka)

Para mim, e creio que para boa parte das mulheres que conheço, o 8 de Março é sempre um dia estressante. Somos bombardeadas com felicitações, piadinhas e presentinhos que nos diminuem, nos objetificam ainda mais e nos lembram do nosso ~lugar na sociedade~. Não vou me alongar aqui em todos os motivos que fazem tudo isso ser errado, porque esse texto teria três páginas e fugiria do objetivo, mas queria lembrar sobre do que se trata o 8 de Março:

Há mais de 100 anos, na Segunda Conferência Internacional de Mulheres Socialistas em 1910, foi decidido organizar o dia internacional pela libertação das mulheres. No 8 de março de 1917 as mulheres russas saíram às ruas pedindo pão, paz e terra. Elas foram responsáveis pelo início de um processo de transformação no país e no mundo todo. Desde então o 8 de março se tornou o dia Internacional de Luta das Mulheres. (Trecho retirado de editorial do Brasil de Fato). Mais sobre isso aqui, aqui e aqui. :)

Tendo em vista todo esse histórico que eu falei ali em cima, e com as chamadas para Paralisação Internacional de Mulheres no 8 de Março, eu queria fazer algo diferente, queria fazer esse dia valer. A minha sorte é que eu trabalho em um lugar que me possibilita usar meu tempo e o espaço da empresa para fazer coisas voltadas a Justiça Econômica e Social, e assim em parceria com outras colegas e amigas de trabalho, nós planejamos um dia inteiro de atividades e debates nesse 8 de Março de 2017.

Eu não esperava que muitas mulheres comparecessem, eu não esperava que tantas desconhecidas viessem para o evento, eu não esperava nem que fosse dar tudo certo (já que organizamos tudo às pressas), mas acima de tudo, eu realmente não esperava ver tanta sororidade (clica aqui pra entender o que é isso).

Vi mulheres que não se conheciam apoiando umas as outras enquanto dividiam histórias pesadíssimas sobre suas vidas, enquanto se abriam e se deixavam expostas com todas as suas inúmeras qualidades e defeitos. E eu não vi nenhum olhar de julgamento, nenhum comentário que não fosse para apoiar e ajudar aquelas que falavam.

Naquela sala, em meio a 30–40 mulheres, eu entendi meu lugar no mundo. Entendi que jamais estarei sozinha, entendi que tenho uma legião de irmãs no mundo e que quando nos unimos podemos tudo.

E mais do que falar sobre experiências pessoais, falamos muito das dificuldades que mulheres menos privilegiadas do que nós passam e de como queremos e esperamos dar voz a essas mulheres. Fizemos uma atividade em que tentávamos imaginar as notícias que gostaríamos de ver em capas de revista em 5 anos e poucas foram as que imaginaram coisas para si, a maioria falou em legalização do aborto, igualdade de salário, representatividade no governo e coisas desse tipo, pensando no coletivo. De novo, sororidade em sua mais pura essência.

No final do dia, fomos para a Marcha das Mulheres. E manas, aquilo foi ainda mais lindo. Eram mulheres de diversas etnias, orientações sexuais, classes sociais, idades, alturas, vertentes políticas e ainda assim todas estavam ali, unidas pedindo por um mundo mais justo para as mulheres. Pedimos para que nossos direitos sejam respeitados, para que o governo não acabe com o pouco que temos, para que mulheres parem de ser mortas simplesmente por serem mulheres, pedimos que respeitem nossos corpos e nossas vidas. Não vi brigas, não vi violência. Vi só muita sororidade.

Eu cheguei em casa nesse dia com os pés doendo, suada, exausta, mas absurdamente feliz! Chorei no banho, lágrimas que segurei o dia inteiro e que precisavam sair. Chorei por todas as histórias tristes que ouvi durante o dia e que gostaria que jamais tivessem acontecido com minhas irmãs, chorei porque nosso caminho é muito longo e nossos direitos jamais estarão completamente assegurados. Eram lágrimas tristes sim, mas eram também lágrimas de esperança, por que com tudo que vi e vivi neste 8 de Março me arrisco a dizer que juntas podemos sim vencer nessa sociedade machista e patriarcal.

Esse dia me fez um pouco mais otimista. Obrigada, irmãs!

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