Museus e exposições como impulsadores do diálogo entre arte e moda

Kaiqui Macaulay
KAIQUI MACAULAY
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3 min readDec 19, 2019

Nos últimos anos as exposições de moda têm sido um recurso comum utilizado por várias instituições para atrair público, pautando a opinião pública, ao mesmo tempo que se consolidam como referentes na reconstrução da história

Exposição Camp: Notes on Fashion organizada pelo Costume Institute de MET Museum (2019)

O museu é uma instituição dedicada à pesquisa, conservação e exposição de bens de interesse cultural — artísticos e científicos. O Ashmolean, museo de arte e arqueologia da Universidade de Oxford no Reino Unido foi fundado em 1638 já respeitando o conceito de museu como se conhece na atualidade e consequentemente é considerado o primeiro museu moderno.

Na sociedade contemporânea o museu tem conquistado um estatus de instituição responsável por “ilustrar a identidade nacional” (ou local, no caso de museus municipais). As instituições com caráter internacional se guiam por questões sociais globais já que têm acesso à coleções de várias partes do mundo, sendo assim também o museu um lugar para se discutir tanto a formação da sociedade quanto problemáticas contemporâneas.

Dessa forma, a indumentária se estabelece como uma parte fundamental para o estudo e compreensão de algumas civilizações, repercutindo na criação de museus nacionais dedicados à moda ou sessões específicas dentro de instituições já estabelecidas. Por outro lado, as exposições de moda têm sido um recurso utilizado por muitos museus para atualizar o diálogo da instituição com a sociedade e trazer o público de volta. A exposição anual que o Costume Institute do MET organiza em colaboração com a Vogue Americana é um exemplo desse fenômeno que sem dúvida tem influenciado na programação de outras instituições ao redor do mundo.

Diana Vreeland na inauguração da Exposição The Glory of Russian Costume (1976)

O Costume Institute foi fundado em 1937 como uma instituição independente, em 1946 foi incorporado ao Museu Metropolitano de New York (MET Museum) com o suporte financeiro da indústria da moda americana que havia se encarregado de manter a instituição naquela época. Em 1959 se tornou um departamento curatorial dentro da instituição que, em colaboração com a lendária editora da Vogue America, Diana Vreeland, organizou exposições memoráveis como “The World of Balenciaga” em 1973 e “The Glory of Russian Costume” em 1976.

Depois de uma reforma estrutural que durou dois anos, o Costume Institute reabriu ao público em 2014 renomeado “Anna Wintour Costume Center” com uma exposição dedicada ao estilista americano Charles James. Anualmente a instituição celebra o MET Gala, baile organizado para arrecadar fundos para manter a instituição ao longo do ano, além de marcar a inauguração da exposição anual de primavera. Em 2016 a exposição “Manus X Machina: Fashion in an Age of Technology” explorava a relação entre os criadores da alta costura que desenvolvem peças ricamente trabalhadas manualmente, e estilistas que desenvolvem peças vanguardista com recursos tecnológicos inovadores.

Exposição Manus X Machina: Fashion in an Age of Technology (2016)

Andrew Bolton, curador da exposição “Manus X Machina: Fashion in an Age of Technology” declarou que o título da exposição faz alusão à Metrópolis, clássico da ficção científica dirigido pelo diretor austríaco Fritz Lang em 1927. O filme começa com um epigrama que diz “O mediador entre a cabeça e a mão é o coração”. Tratando-se de uma “distopia tecnológica” faz sentido que o ponto de partida para o debate que propunha a exposição relacione estes três pontos tão complexos, mas ao mesmo tempo tão próximos, tecnologia, trabalho manual e sentimento.

150 peças produzidas entre os séculos XIX e XXI por mais de 40 estilistas ao redor do mundo foram reunidas para ilustrar diversos segmentos dentro do tema. Além disso, o discurso expositivo também convidava os visitantes a pensarem sobre os limites que separam a alta costura do “ready to wear” que atualmente recorrem ao mesmo tipo de tecnologia para a produção de peças mais, ou menos, elaboradas.

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Kaiqui Macaulay
KAIQUI MACAULAY

Journalist, master's degree in History of Art and Visual Culture (Universitat de València). Areas of interest: Contemporary Art | Queer | LGBTQIA+ | Fashion