Vanessa Beecroft: moda, arte e performance
A performer italiana tem protagonizado um movimento crescente no mundo da moda: a utilização de performances artísticas como recurso publicitário
Vanessa Beecroft é uma artista multidisciplinar italiana que vive e atua em New York. Devido a uma série de transtornos alimentares desenvolvidos ao longo de sua adolescência, Vanessa criou “The Book of Food”, um diário onde registrou todos os alimentos que ingeriu nesse período. A partir dessa experiência a artista idealizou sua primeira performance em 1993, intitulada VB01. Nessa ocasião, ela reuniu um grupo de 30 mulheres, que vestidas com roupas da artista, permaneciam enfileiradas, em pé, durante um longo período de tempo numa das salas da Galleria Inga-Pin em Milão.
O controle obsessivo da alimentação e da própria imagem, assim como a importância que se dá a estética feminina na sociedade, motivou Beecroft a seguir investigando essas questões através de suas performances. Em 2008, Kanye West convidou a artista para realizar uma performance no lançamento do CD “808s & Heartbreak” na Ace Gallery em Los Angeles, dando início a uma longeva parceria, assim como também à polêmica relação da artista com a moda e a publicidade. Polêmica porque se considerava que era justamente esses sistemas de opressão estética que a artista criticava em suas performances.
Quando Kanye West contatou Vanessa Beecroft, ele havia acabado de perder sua mãe que morreu durante um procedimento estético. Esse acontecimento marcou o cantor profundamente, e através dessa performance eles buscavam fazer um alerta sobre a busca insaciável por beleza, assim como também sobre a violência que o racismo exerce sobre pessoas não brancas.
A partir de então os dois colaboraram inúmeras vezes. É importante pontuar as mudanças que essa colaboração repercutiu no trabalho da artista, que começou a contar com mais diversidade de gênero, corpos e raças/etnias em suas performances, diferente de suas primeiras práticas que contavam majoritariamente com mulheres magras e brancas. Em 2015 Kanye West e Vanessa Beecroft se tornaram “the talk of the town” na apresentação da primeira coleção da Yeezy na semana de moda novaiorquina.
Surfando no sucesso que sua parceria com Kanye West proporcionou, Vanessa Beecroft foi convidada posteriormente por diversas casas de moda para colaborar em distintos projetos através de suas performances. Em 2016, a Valentino, então sob comando da dupla Pierpaolo Piccioli e Maria Grazia Chiuri, convidou Beecroft para o desenvolvimento da campanha da coleção “Rockstud Untitled”.
Ainda em 2016, a Tod’s também colaborou com a performer para o lançamento da coleção que apresentavam na semana de moda de Milão. Nessa ocasião, a Tod’s explicava que a performance de Vanessa tinha o objetivo de expressar o valor do trabalho dos artesãos que trabalhavam nos ateliers da marca no desenvolvimento manual de produtos, que são produzidos sobretudo a base de couro.
Em 2018, a Saint Laurent, sob o comando de Anthony Vaccarello, convidou a artista para o desenvolvimento da exposição "Self 02", apresentado na Art Basel-Miami. Assim descreviam a colaboração desde a marca: "Este projeto representa a liberdade de expressão sem censura e transmite muitas facetas diferentes da atitude Saint Laurent. Disciplinas criativas, através da moda e da arte, reforçam e nutrem o conceito de diversidade, individualidade e autoconfiança através de uma lente livre de pretensões e hipocrisia. Este projeto é um comentário artístico sobre a sociedade, enquanto enfatiza os principais valores da marca".
E finalmente, esse ano (2019) a Moncler convidou a artista para realizar uma performance na inauguração da Moncler House of Genius (lojas temporárias idealizadas para receber as coleções desenvolvidas por grandes estilistas como Pierpaolo Piccioli, Richard Quinn e Simone Rocha para a casa de doudounes italiana) na Galleria Vittorio Emanuele II em Milão.
Nessa ocasião, como em outras performances similares, a artista convida modelos, bailarinas e performers para permanecerem em pé "how long as they can", propondo dessa forma uma reflexão sobre o lugar da mulher na sociedade, a impossibilidade de respeitar todos os padrões estéticos e de comportamento que se espera, assim como também criticar esse lugar de objeto a ser contemplado que muitas vezes colocam a figura da mulher.