Yves Saint Laurent: Mondrian Collection

Kaiqui Macaulay
KAIQUI MACAULAY
Published in
4 min readApr 5, 2020
Mondrian Dresses em exposição no Museu Yves Saint Laurent Paris

Apontada pela imprensa da época como revolucionária, vanguardista e moderna, a coleção outono-inverno 1965 de Yves Saint Laurent apresentava uma série de vestidos inspirados em pinturas do artista russo Serge Poliakoff e do pintor holandês Piet Mondrian.

O desfile aconteceu no dia 6 de agosto. Um mês antes da apresentação, Saint Laurent decidiu redesenhar toda a coleção com o objetivo de adicionar mais modernidade às peças que preparava. O toque de modernidade que buscava foi encontrado no livro Mondrian, Sa vie, son oeuvre (Mondrian, sua vida, seu trabalho) de Michel Seuphor, que sua mãe lhe havia presenteado.

Dos 106 looks que integravam a coleção, 26 deles foram inspirados nas pinturas de Mondrian, mais precisamente no caráter geométrico de sua obra. Consequentemente, a partir desse momento Saint Laurent começa uma investigação focada no desenvolvimento de cortes simples e linhas geométricas nos seus designs.

Para o desenvolvimento da coleção, Saint Laurent uniu através de costuras invisíveis peças de jersey de lã em cores primárias. Dessa forma o estilista não somente estava se apropriando da composição estética das obras de Mondrian, mas também empregando o mesmo princípio de redução das formas característico do abstracionismo do pintor holandês, o que consequentemente convertia os vestidos em verdadeiras pinturas em 3D.

A aclamação do desfile na imprensa francesa e estadunidense foi unânime, repercutindo numa maior assimilação do trabalho de Saint Laurent pelo público em geral, visto que o estilista buscava popularizar a moda, evitando a elitização do setor fomentada pela alta costura. Ademais os vestidos popularizaram a obra de Mondrian que não era tão conhecido na época como na atualidade.

Projet Yves Saint Laurent — Robes Mondrian (2009) Nicolas Saint Grégoire

Os vestidos foram massivamente copiados ao redor do mundo, principalmente nos EUA, os convertendo na peça mais copiada da história da moda e o estabelecendo como um ícone mundial da cultura popular, sendo reinterpretado inúmeras vezes por artistas contemporâneos, como no caso da obra Projet Yves Saint Laurent — Robes Mondrian (2009), do artista francês Nicolas Saint Grégoire.

Em 1931, Mondrian afirmava sobre a indústria da moda: “A moda não somente reflete com precisão uma era, ela também é uma das formas mais diretas de expressão visual na cultura humana”. Os vestidos Mondrian foram desenvolvidos numa silhueta bastante característica dos anos 60, que denotava modernidade e futurismo e que pode ser vista em numerosas peças de outros grandes referentes da época como Pierre Cardin e Paco Rabanne. A coleção de Saint Laurent foi responsável pelo crescente interesse dos jovens por moda, assim como também pelas formas minimalistas na época.

Ao longo de sua carreira, Saint Laurent cultivou uma estreita relação com o mundo da arte. Foi um exímio colecionador, se inspirou em obras e movimentos artísticos e inclusive desenvolveu peças em colaboração com artistas.

Para o desenvolvimento da coleção outono-inverno 1966 o estilista se inspirou na Pop Art estadunidense, que naquele momento ainda não representava um movimento consolidado. Porém dessa coleção podemos apontar como ela influenciou na amizade que o estilista desenvolveu com Andy Warhol posteriormente. Já na coleção outono-inverno 1969 ele trabalhou em colaboração com o escultor francês Claude Lalanne para o desenvolvimento de um par de esculturas feitas a partir do molde do corpo de uma modelo que integrou dois looks da coleção.

Pop Art Collection outono-inverno 1966; Esculturas de Claude Lalanne para o outono-inverno 1969

Ao lado de seu companheiro, Pierre Bergé, Saint Laurent desenvolveu uma das coleções de arte mais destacáveis do mundo do colecionismo privado. Em 2009 o Grand Palais em Paris sediou o leilão de 733 obras da coleção, quebrando recorde de vendas que alcançaram 375 milhões de euros.

Sobre a coleção outono-inverno 1965 Saint Laurent declarou: “Para mim, transformar um Mondrian ou um Poliakoff em um vestido é sobre fazer seus quadros se moverem… Poliakoff e Mondrian foram extraordinariamente rejuvenescedor e refrescante para mim: eles me ensinaram pureza e equilíbrio”.

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Kaiqui Macaulay
KAIQUI MACAULAY

Journalist, master's degree in History of Art and Visual Culture (Universitat de València). Areas of interest: Contemporary Art | Queer | LGBTQIA+ | Fashion