A. V. Petrovski — O novo status da teoria psicológica sobre grupos e coletivos (1983)

Publicado em Soviet Psychology, vol. 21, nº 4, pp. 57–78. Tradução por Bruno Bianchi.

Bruno Bianchi
Kátharsis
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25 min readMay 6, 2024

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A situação presente na psicologia social Soviética não pode ser avaliada isolada dos processos que ocorrem no Oeste, especialmente na psicologia social Americana.

Nos Estados Unidos, onde a psicologia social começou a se desenvolver mais cedo e onde se encontra mais avançada que em qualquer outro lugar, muitos psicólogos hoje usam a palavra fatal crise com cada vez mais frequência. Cinco anos atrás, no 20º Congresso de Psicologia, em Tóquio, um importante psicólogo social americano, McGuire, disse que o período do 18º Congresso Internacional de Psicologia, quando a psicologia social estava inundada de coronéis grisalhos, jovens empreendedores e mulheres entusiasmadas, tinham sido idílico. Ele comparou a condição da psicologia social moderna com o sono tranquilo da borboleta no sino da igreja — O que acontecerá à borboleta quando o sino começar a tocar? Para McGuire, o futuro não parece muito brilhante.

Em alguns aspectos, ele está correto. A crise metodológica corroendo a psicologia americana é evidente. Para esse fenômeno crítico, os psicólogos americanos encontraram inúmeras explicações, por exemplo, a baixa validade do experimento psicológico social (dados de laboratório não correspondem com os fatos reais da vida social), a incompetência profissional de pesquisadores que não possuem ados para a resolução de tarefas práticas, e muitos outros fatores. Mas a razão básica para as consequências infelizes do desenvolvimento intensivo da psicologia social nos Estados Unidos é sua óbvia fraqueza metodológica. Isso é provavelmente mais evidente em estudos da psicologia de pequenos grupos.

A ausência de uma base teórica unificada para a compreensão de diversos fenômenos psicológicos sociais é típica da psicologia social Ocidental. O reducionismo psicológico social rege: as leis do comportamento humano em vários grupos são reduzidas essencialmente a dependências mecânicas. Os membros do grupo se submetem, ou não, à pressão do grupo; alguns indivíduos atraem o grupo, outros o repelem, ou o grupo empurra alguns indivíduos para fora de sem ambiente; à medida que aumenta o número de contatos dentro do grupo, aumenta a solidariedade do grupo, assim como o número de membros. Os elos do grupo tornam-se finos e rompem. Houve um tempo em que o behaviorismo, uma das correntes mais influentes na psicologia americana, estava pronto para caracterizar o homem predominantemente como um mecanismo reativo a vários estímulos. Hoje, os herdeiros do behaviorismo e de outras escolas teóricas da psicologia social veem em qualquer grupo social um aparato mecânico e indivíduos conectados e interagindo superficialmente ou externamente.

Mas é verdade que tudo o que acontece em qualquer pequeno grupo acontece também na coletividade? Aqui reside a diferença metodológica, ou melhor, ideológica, entre a ciência psicológica soviética e a burguesa.

A importância primordial do problema do coletivo na psicologia social soviética está ligada às exigências da época e as tarefas colocadas pelos 24º e 25º Congressos do Partido Comunista da União Soviética: buscar e encontrar soluções adequadas, cientificamente válidas, para a formação da posição de vida ativa da pessoa através de sua educação no coletivo e através do coletivo. Necessita uma compreensão das leis psicológicas sociais do funcionamento do coletivo, e do crescimento pessoal nele. Ver e entender uma pessoa na coletividade e para ver a coletividade na pessoa (viva nele e transformando-o) significa encontrar respostas para as questões mais importantes que a psicologia social enfrenta na época do socialismo desenvolvimento. Não há dúvida de que, para resolver esse problema, é necessário romper com a tradição do número verdadeiramente infinito de estudos de processos grupais em países capitalistas e exigir um trabalho responsável dos muitos autores da psicologia social em seus trabalhos e estudos realizados neste país, em que essa tradição tem sido aceita de forma bastante acrítica.

A ideia central da abordagem que oferecemos é a seguinte: as leis psicológicas sociais do coletivo e da pessoa no coletivo são principalmente e qualitativamente das leis da dinâmica de grupos, tal como representadas pela tradição aparentemente permanente da psicologia social no Oeste. Compreender essas diferenças e interpretá-las teoricamente, estabelece-las operacionalmente, apontar seus referentes empíricos e mostrar o seu caráter sistêmico através do sistema de meios metodológicos de sua descoberta, revelar sua importância para a solução de problemas aplicados e, especialmente, problemas pedagógicos: a solução de todas essas tarefas é almejada dentro da estrutura de um conceito teórico especial que chamamos de conceito estratométrico.

Quando formulamos esse conceito em 1972–1973, estávamos pensando em desenvolver uma nova abordagem para a análise das relações interpessoais que permitiria a nós analisar uma estrutura multinível do processo grupal e realizar as medições correspondentes em seus “níveis” (estratos), com o objetivo de revelar suas principais diferenças entre grupos altamente desenvolvidos (coletivos) e grupos difusos, associações e uniões.

A abordagem estratométrica nos permite resistir tanto a: a) tentativas de aplicar uma abordagem quantitativa ao fenômeno da atividade grupal, ignorando as características qualitativas de vários grupos; e b) a tendência ignorar a característica quantitativa dos processos grupais, orientadas a uma descrição especulativa e muitas vezes puramente verbal dessas características.

Os primeiros estudos dos fenômenos psicológicos sociais, como a autodeterminação coletivista (ADC) e a unidade orientada a valores (UOV) já demonstraram que uma consideração dos valores grupais e do conteúdo da atividade grupal modificam radicalmente a noção da essência das relações interpessoais em um grupo, e que os parâmetros da atividade do grupo sob essas condições assume característica bastante distintas.

Quando buscamos interpretar os dados experimentais e as conclusões teóricas obtidas com base no conceito estratométrico no estágio atual de seu desenvolvimento, podemos ver que, por um lado, essa abordagem se provou ser frutífera e heurística para a resolução de uma série de problemas concretos e, por outro lado, nos permitiu começar a construir uma teoria psicológica completa do coletivo, que pode nos permitir contrariar todos os aspectos da teoria psicológica tradicional sobre pequenos grupos:

O fato de que o conceito estratométrico existe hoje não apenas como um sistema de suposições hipotéticas, mas como algo baseados em testes experimentais sólidos nos permite considera-los como uma das teorias especiais da psicologia social marxista e, portanto, basear nossas futuras pesquisas teóricas sob o modelo de grupo que ela oferece[1].

A teoria psicológica do coletivo baseada na abordagem estratométrica — chamemos de teoria da mediação da atividade em relações interpessoais — nos apresenta um sistema de afirmações e provas e contém métodos de explicação e previsão do aparecimento de diversos fenômenos e efeitos psicológicos sociais na atividade intragrupo. Assim, a interpretação da identificação emocional ativa de grupo (IEAG) resultante não significa uma rejeição da testagem experimental da hipótese resultante dos fatos teóricos obtidos, mas torna válidas as suposições sobre os resultados finais desses experimentos.

A tarefa da construção da teoria psicológica do coletivo exige uma comparação entre os pressupostos básicos do conceito estratométrico e as teorias psicológicas sociais populares no Oeste durante os últimos cinquenta anos, que desempenham um papel dominante na psicologia social dos países ocidentais. É a psicologia social dos Estados Unidos que definiu a tradição dos estudos psicológicos sociais que serviram de orientação para quase todos os estudos neste ramo da ciência psicológica. Já realizamos a tentativa (em diversos artigos) comparar as posições básicas da abordagem estratométrica com o interacionismo, uma das escolas mais influentes da psicologia social americana. Mas será apenas o interacionismo que pode ser objeto de comparação?

G. M. Andreeva e R. L. Krechevski discutiram as orientações teóricas básicas da moderna psicologia social americana, como o neobehaviorismo, o neofreudismo, a cognitivista e a interacional, e delinearam suas abordagem teóricas para fenômenos psicológicos sociais.

Uma análise cuidadosa dos sistemas psicológicos sociais acima mencionados, ou melhor, dos grupos de estudos empíricos unidos sob uma abordagem comum, nos levou a uma conclusão curiosa. Eles diferem essencialmente em suas formas de interpretar os dados empíricos obtidos, mas não na escola de seus objetos, tarefas e métodos de pesquisa psicológica social e, mais importante, não em sua compreensão implicitamente representada da essência das interações intragrupo. Quer comparemos a teoria de campo de Cartwright e Zander ou a teoria do reforço derivada dos conceitos skinnerianos de Thibaut e Kelley, podemos ver diferenças na interpretação das forças que entram em conflito na esfera dos processos grupais, mas não na escola de seu objeto de estudo. O objeto de estudo permanece sendo a interação individual, definido em um caso pela estrutura do campo e, em outro caso, pelo tipo e quantidade da recompensa. As vias de estudo de pequenos grupos são sempre as mesmas: são os parâmetros psicológicos da dinâmica de um grupo dependendo de seu tamanho, o nível de exigência do grupo, a intensidade da pressão do grupo, a reciprocidade nas escolhas sociométricas, e assim por diante. Tem-se a impressão de que, embora obviamente diferentes na reflexão teórica, as diferentes escolas da psicologia social ocidental fazem uso dos mesmos pressupostos metodológicos e lidam com o mesmo modelo imutável de processos grupais em seus estudos empíricos. É assim que eles fornecem dados experimentais que preenchem numerosos livros-texto e manuais americanos de psicologia social de pequenos grupos. O fato de que as orientações teóricas das várias escolas de psicologia social não refletirem dados empíricos cria uma falsa impressão de neutralidade metodológica nos dados da psicologia social experimental, e isso, como enfatizamos com frequência, às vezes ilude certos psicólogos soviéticos, que estão preparados para argumentar com as teorias neofreudianas e neobehavioristas, mas que facilmente assimilam variantes dessas teorias e aceitam seu modelo geral de processos grupos como algo adequado.

Em outras palavras, os objetos de comparação devem ser, por um lado, o modelo tradicional, dado como correto (como se fosse), de grupo (isto é, processos grupais, dinâmica de grupo, interação de grupo) que está implícito na base dos trabalhos empíricos da psicologia social no Ocidente, qualquer que seja a orientação teórica inicial do experimentador, e, por outro lado, conscientemente oposto a esse modelo, um dos processos grupais baseados no conceito estratométrico da atividade intragrupo.

Em relação com o exposto acima, tentaremos considerar as posições básicas segundo as quais a abordagem da teoria da mediação da atividade difere da psicologia social tradicional de pequenos grupos.

Enquanto a psicologia de pequenos grupos, qualquer que seja sua orientação teórica, considera tipicamente as relações interpessoais em termos de interação direta, ou seja, pressão, atração, submissão, empatia, etc., a teoria psicológica social em discussão considera as relações como mediadas pelo conteúdo da atividade grupal comum. Esta proposição, substituindo a suposição de conexões diretas dentro da estrutura o estudo psicológico social, é nosso ponto e partia primário e definitivo. A importância da mediação da atividade está presente em todos os fenômenos de relações interpessoais descritos em nossos estudos. Graus contrastantes de conformidade e não conformidade com a autodeterminação coletivista (A. V. Petrovski, I. A. Obuturova, L. A. Tuvovskaia, L. A. Glazova) são possíveis porque a resistência à pressão do grupo é definida por meio do fator que medeia a pressão do grupo, isto é, os objetivos e valores da atividade comum. A unidade orientada a valores como uma forma de solidariedade do grupo é revelada nos objetivos e valores da atividade comum (V. V. Shpalinski). A unidade dos valores do objeto — um parâmetro que desenvolve a ideia do estudo da unidade da orientação por valores — é revelada nos atos de mediação das atividades individuais através do conteúdo de valores unitários do objeto na atividade comum (A. I. Dontsov). Registrado como um fenômeno psicológico social (R. S. Vaisman, L. E. Komarova), a apercepção social atrai a atenção do grupo para a avaliação das qualidades pessoais dos membros do grupo, que são determinadas pelo conteúdo da atividade do grupo. A identificação emocional ativa do grupo (IEAG) pressupõe levar em consideração valores morais, que medeiam os atos de identificação interpessoal (V. A. Petrovski, A. I. Papkin, M. A. Turevski). Voltando nossa atenção para os motivos da escola, focamos não no fato da escola no sistema de relações interpessoais, mas nos motivos como um elo que medeiam a escola e a diferenciação do grupo (V. A. Petrovski, N. M. Shvaleva). Poderíamos dar ainda mais exemplos.

A ideia da mediação da atividade é heurística para a criação de novos conceitos. Assim, G. M. Andreeva, ao esboçar um esquema teórico para o estudo da percepção social, fornece uma análise metodológica da existência de uma certa separação de diferenciação na psicologia social ocidental, de, por um lado, estudar grupos (estruturas grupais, solidariedade, normas, pressões, etc.) e, por outro lado, estudar processos (comunicação, interação, percepção socia, e assim por diante).

Com tal coexistência relativamente independente de dois tipos de estudos, a categoria mais importante da análise psicológica social, as relações interpessoais, é forçada, por assim dizer, a uma esfera separada de estudo, enquanto poderia ser o elo no estudo de grupos e processos. As relações interpessoais são naturalmente pensadas como relações dentro de certos grupos e como os processos de comunicação e interação; mas um problema é que a questão da conexão entre as relações interpessoais no grupo e sua atividade permanece aberto, assim como a questão de como as relações interpessoais são realizadas nas comunicações e interações quando membros individuais realizam alguma atividade comum. O fator das relações interpessoais pode vincular a compreensão dos grupos e a compreensão dos processos que ocorrem nos grupos apenas quando as próprias relações são interpretadas como sendo mediadas pelas atividades comuns[2].

Não podemos deixar de concordar com sua posição.

A mediação da atividade como princípio explicativo para a compreensão da essência das relações interpessoais nos grupos dá origem a todas as outras diferenças principais entre os modelos de grupo e de processos grupais por nós aceitos, o que contraria a abordagem tradicional de análise de fenômenos psicológicos sociais na psicologia ocidental. Em primeiro lugar, manifesta-se no fato de que a psicologia ocidental interpreta o grupo como a soma dos atos comunicativos e atrações emocionais, o que lhe confere a natureza de uma comunidade emocional-psicológica. Em relação a isso, não encontramos diferenças entre os adeptos da teoria do campo, da dinâmica de grupo, do interacionismo, dos conceitos sociométricos, etc. Em contraste com isso, na teoria estratométrica, o grupo é considerado como parte da sociedade, com características significativas relacionadas com sua atividade e valores, e portanto é interpretada como uma comunidade psicológica social. Tal abordagem do grupo é evidente na sua diferença entre solidariedade como unidade de orientação de valores e solidariedade como resultado da frequência dos atos comunicativos e dos contatos emocionais, ou como dependente do aumento do número de atos de autodeterminação coletivista e redução no número de reações de conformidade, devido à intensidade da atividade direcionada para a obtenção de objetivos socialmente importantes. O mesmo pode ser observado em vários outros aspectos.

A psicologia social tradicional (ocidental) considera o pequeno grupo como representativo das características mais importantes das interrelações e interações das pessoas na sociedade. A literatura sociológica e psicológica social soviética (B. D. Parigin, A. S. Kuzmin, e outros) enfatizou frequentemente os aspectos ideológicos dessa interpretação infundada das características de pequenos grupos, e apontou corretamente para o erro de substituir relações psicológicas por relações socioeconômicas. No entanto, outro lado dessa posição errônea não foi lidado: o lugar ocupado pelo pequeno grupo tradicionalmente estudado e descrito entre outras comunidades que constituem um complexo sistema social. Do ponto de vista do conceito estratométrico, um grupo pequeno não é um modelo representativo de uma típica comunidade humana, mas um exemplo particular de um nível inferior do desenvolvimento grupal. O seguinte paralelo pode parecer muito ousado: julgar a psicologia de grupo apenas com base no estudo clássico de pequenos grupos tem quase a mesma validade que julgar a psicologia humana com base no comportamento dos macacos.

Deve-se enfatizar que a psicologia social tradicional, embora distinga vários grupos de acordo com seu tamanho, duração de sua existência, tipo de liderança, grau de solidariedade, composição, etc., não os diferencia de acordo com seu nível de desenvolvimento. Não distingue grupos de nível superior, que, em termos de seus parâmetros, são qualitativamente distintos dos grupos pequenos tradicionalmente estudados. A esse respeito, todas as teorias psicológicas sociais ocidentais contêm a noção implícita de que as leis das relações interpessoais reveladas em um pequeno grupo podem ser extrapoladas para qualquer outro grupo do mesmo tamanho, da mesma duração de existência, da mesma composição, etc. Se, por exemplo, um experimento psicológico social revela que a percepção de um líder de grupo pelos membros individuais depende do tamanho do grupo, e que, com o aumento do tamanho do grupo, seus membros diminuem a avaliação das “características humanas” do líder (Medalia, 1954), então tradicionalmente não há dúvida de que esta lei pode ser universalizada e extrapolada para qualquer outro grupo. De forma semelhante, se Flanders & Havermark (1960) demonstram que o elogio pelo líder de vários membros selecionados do grupo atua como um princípio de “dividir para conquistar” e gera diferenças no status sociométricos dos membros do grupo, novamente, essa constatação funciona como uma lei psicológica social geral, igualmente aplicável a um grupo casual ou a um grupo com alto grau de solidariedade, unido por objetivos e valores comuns. Sem sequer mencionar a esfera limitada de sua ação, essas “leis universais” aparecem nas páginas dos livros e manuais da psicologia social.

O conceito estratométrico, diferentemente da psicologia social tradicional, distingue entre grupos de vários níveis de desenvolvimento com a ajuda de apenas dois critérios. Em primeiro lugar, a ausência ou presença da mediação das relações interpessoais através do conteúdo da atividade de grupo (assim, grupos difusos são separados de outros grupos mais desenvolvidos) e, segundo, pela importância social da atividade de grupo (que torna possível distinguir um coletivo de outros grupos altamente desenvolvidos). Claramente, é possível construir um modelo teórico de grupos e, com sua ajuda, entender melhor a oposição dos parâmetros psicológicos sociais básicos de grupos em diferentes níveis de desenvolvimento. Este modelo permite definir geometricamente o espaço onde qualquer tipo de grupo pode estar localizado. Os vetores formadores desse espaço são, por um lado, o grau de mediação nas relações interpessoais (vetor C) e, por outro lado, a questão do conteúdo da mediação, desenvolvendo-se em duas direções opostas: a) na direção consistente (em sua forma mais geral) com o progresso social (para uma sociedade socialista desenvolvida, “progresso social” significa, a longo prazo, a construção do comunismo); b) em uma direção inconsistente com o progresso social. Chamaremos o vetor A de desenvolvimento social dos fatores mediadores e o vetor B de seu desenvolvimento antissocial.

Figura 1. Vetores que definem o espaço no qual grupos em diferentes níveis de desenvolvimento modem estar localizados.

Agora, usando três vetores, A, B e C, construímos a figura 1 e analisamos seus componentes. O quadrado I na figura 1 possui todos os sinais necessários da consistência coletiva com as demandas do progresso social: importância social alta (neste caso, máxima) dos fatores definidores e mediadores das relações interpessoais ao maior grau. Este é um coletivo com um alto grau de solidariedade. O quadrado 2 representa uma comunidade em que um alto grau de desenvolvimento de valores sociais é mediador de forma insuficiente nos processos grupais. É possível que esse grupo tenha se estabelecido recentemente e suas atividades em comum ainda não foram propriamente estabelecidas. Aqui, por exemplo, podemos esperar uma unidade da orientação de valores relativamente aula, em termos de valores morais gerais, mas uma unidade de orientação a valores relativamente baixa em relação aos objetivos da atividade grupal (se já estiverem presentes) e aos participantes do processo de trabalho. Aqui, o sucesso de um membro não garante o sucesso da atividade dos outros, e o fracasso de um membro não influencia os resultados dos outros. Os valores morais funcionam em tal grupo, mas não são o resultado de um longo processo de comunicação e trabalho em comum, mas são trazidos para dentro a partir do amplo ambiente social, e seu futuro destino depende se a atividade coletiva continuará e se será reforçada diariamente.

O quadrado III representa um grupo com um alto nível de mediação nas relações interpessoais, mas os fatores pelos quais são mediados são altamente antissociais, reacionários, e hostis em relação ao progresso social. A Máfia, uma quadrilha organizada e ativamente funcional, ou qualquer outra associação antissocial poderia assumir a posição correspondente à localização desta figura. O quadrado IV representa uma comunidade em que as relações humanas não são realmente mediadas pelos fatores comuns de sua atividade comum; mesmo que tal mediação possa ser registrada, a natureza antissocial desses fatores mediadores priva essa atividade de qualquer valor social e a canaliza na direção da realização dos interesses privados e estreitos de cada membro individual.

Finalmente, o quadrado V representa um grupo difuso típico, em que tanto o valor social dos fatores mediadores e o grau de sua expressão no sistema de interação interpessoal encontra-se no ponto zero. Um exemplo excelente disso seria um grupo experimental composto de várias pessoas que recebem uma tarefa sem importância social (como é feito nos estudos de conformidade, por exemplo).

Qualquer grupo social pode ser colocado no espaço acima. Todo tipo de atividade possui sua própria escala de mediação das relações interpessoais, seus valores sociais e sua força formadora do coletivo.

A especificação do coletivo como um grupo no qual os processos grupais são mediados pelo conteúdo da atividade comum e socialmente valiosa introduz um novo objeto de estudo anteriormente desconhecido na psicologia ocidental tradicional. A mediação da atividade funciona como uma característica formadora do sistema da coletividade.

Certamente, seria exagero dizer que o conceito estratométrico revelou o coletivo como objeto de estudo da psicologia social. O estudo do coletivo sempre ocupou um papel significativo nas obras dos psicólogos soviéticos (K. K. Platonov, L. I. Umanski, E. S. Kuzmin, E. V. Shorokhova, etc.), que enfatizaram a atividade socialmente dirigida do coletivo como um grupo do mais alto nível de desenvolvimento e estudou as vias de sua formação. Esses trabalhos, no entanto, não identificaram as características psicológicas qualitativas das relações interpessoais em um coletivo em comparação com outros grupos. Também não demonstraram as peculiaridades da estrutura das atividades grupais no coletivo, ou enfatizaram a impossibilidade de transferir as regularidades próprias de um grupo de baixo nível de desenvolvimento para o coletivo (nem, ao contrário, do coletivo ao grupo difuso). Não foram sugeridos métodos de estudo relativos à compreensão da essência dos processos grupais no coletivo, nem foram selecionados índices quantitativos que refletissem os fenômenos psicológicos sociais no coletivo. Tudo isso se tornou possível, como ficará claro, pelas posições da abordagem estratométrica.

Uma primeira posição a esse respeito consiste no fato de que a psicologia tradicional sustentava a noção equivocada de que as regularidades psicológicas sociais em qualquer grupo poderiam, por princípio, ser reduzidas às regularidades ou leis gerais das dinâmicas do grupo. Os fenômenos psicológicos sociais do coletivo não podem ser descobertos em grupos de baixo nível de desenvolvimento. Por exemplo, o primeiro fenômeno descoberto por nós, da autodeterminação coletivista, não poderia ser descoberto em um grupo difuso, no qual não há um elo comum mediando o comportamento individual e a única e inevitável alternativo ao conformismo é, portanto, o não-conformismo. Isso também vale para o fenômeno da identificação emocional ativa do grupo e para todos os outros fenômenos na esfera das relações interpessoais do coletivo.

Uma segunda posição é a seguinte: contrário à opinião aceita, segundo a qual as leis psicológicas sociais consideradas verdadeiras para qualquer grupo em geral são idênticas para o coletivo ou, mesmo que diferentes, variam insignificantemente em relação ao fenômeno das relações interpessoais e das leis a que estão sujeitas, essas leis não são apenas diferentes das dos grupos difusos, mas qualitativamente diferentes, às vezes como que viradas de cabeça para baixo ou com “sinal oposto”.

Esta afirmação pode ser ilustrada pelo seguinte exemplo, em que usamos um modelo puramente hipotético, ainda não verificado experimentalmente, mas que é, no entanto, bastante provável (do ponto de vista da teoria em questão) e também muito facilmente demonstrável visualmente.

Relações interpessoais (interindividuais) podem ser representadas por duas linhas de conexão: linhas ativas (de acordo com a “dependência responsável” de Makarenko) e linhas puramente pessoais. Neste caso, a influência mútua destas duas linhas de relações interpessoais, no coletivo e em uma comunidade casual, será caracterizada por uma evidente assimetria.

Acreditamos que em um grupo difuso de conexões necessariamente emergentes durante a atividade grupal (isto é, se começar a se formar) ainda não são capazes de influenciar significativamente as relações interpessoais entre os membros individuais, e suas relações pessoais, tais como gostos e desgostos, maior ou menor submissão, e assim por diante, facilmente quebram as conexões estabelecidas durante a atividade comum. Esperamos uma relação oposta no coletivo: as relações de dependência responsável recém-formadas exercerão uma influência importante nas conexões pessoais, mas estas últimas não podem destruir o sistema de atividade grupal e suas interrelações baseadas no trabalho. Há razões para se acreditar que a testagem experimental provará a existência de tal assimetria.

A tese acima sobre a “inversão” dos fenômenos em grupos de diferentes níveis de desenvolvimento se torna o ponto de partida para novas descobertas e reinterpretações de já conhecidos fenômenos psicológicos sociais. De fato, todos os fatos obtidos com base no conceito estratométrico confirmam isto. Mencionaremos apenas alguns. Ao introduzir a definição de identificação emocional ativa de grupo, descobrimos imediatamente grandes diferenças em seu funcionamento em grupos de diferentes níveis de desenvolvimento. Ela se manifesta não apenas no fato de que a identificação emocional ativa do grupo prevalece no coletivo e é muito fraca em um grupo difuso; em última análise esta dependência poderia ser considerada como puramente quantitativa. Mas uma diferença qualitativa é encontrada no fato de que, no coletivo, não haverá uma clara dependência entre a intensidade da identificação emocional ativa do grupo e o número de membros do grupo, enquanto no grupo difuso, deve haver uma dependência inversamente proporcional entre a intensidade da identificação emocional ativa do grupo e o número de membros individuais.

Como outro exemplo, o efeito Ringelmann[3], conhecido desde os anos 1920, que enfatiza a dependência da eficiência dos membros individuais no número dentro do grupo, não deve ocorrer em um coletivo, de acordo com nossa premissa teórica original, seja por causa de uma certa abundância, ou superabundância, da atividade coletiva, suas características suprasituacionais, ou, mais precisamente, sua “supernormatividade”. Aqui nos referimos à orientação básica da pessoa, encorajando-a, sob as condições do trabalho comunista, a “quebrar” as normas (estabelecidas pelos superiores industriais) e ultrapassar os limites da tarefa planejada, a se voluntariar para normas e deveres mais elevados (sem os quais o Stakhanovismo[4] e fenômenos similares são impossíveis de se imaginar).

Uma importante circunstância a este respeito é uma oportunidade de reinterpretar fenômenos de grupo de uma forma que elimine contradições em vários dados obtidos por diferentes pesquisadores em dinâmicas de grupo. Um estudo importante da correlação entre a intensidade da comunicação emocional no grupo e sua eficiência foi conduzido (por R. S. Vaisman) em nosso laboratório, Psicologia da personalidade no coletivo. Uma revisão da literatura sobre este problema produz resultados contraditórios. Alguns pesquisadores encontram uma correlação positiva, enquanto outros descobrem uma correlação negativa entre as variáveis acima. A causa desta contradição reside em suas tentativas de aplicar suas conclusões a grupos “em geral”. A diferenciação dos grupos de acordo com o fator de mediação através do conteúdo da atividade comum elimina esta aparente contradição. Como o experimento demonstrou, a relação entre a eficiência do trabalho e a natureza benéfica das interrelações emocionais-psicológicas no coletivo foi positiva, enquanto que em grupos menos desenvolvidos, foi negativa. A natureza contraditória das conclusões alcançadas pelos pesquisadores que trabalham no âmbito da abordagem tradicional dos fenômenos de dinâmicas de grupo não é, geralmente, uma exceção, mas a regra. Isto não é surpreendente. Independentemente do fato de que o paradigma da pesquisa do psicólogo que segue o esquema tradicional não leva em consideração as diferenças entre os vários grupos com base em seu nível de desenvolvimento nas relações de trabalho, os próprios grupos objetivamente possuem estas diferenças, em maior ou menos grau, e o demonstram nos experimentos, que produzem essa contradição nos resultados. Isto certamente acontece quando o experimentador trabalha não em um laboratório, mas com um grupo real. Assim, Sherif, em seus experimentos sobre as formas de eliminar os conflitos de grupo, acerta na ideia da organização da atividade comum como meio de resolver um conflito e eliminar a tensão nas relações de grupo. Naturalmente, as características do grupo antes e depois da atividade grupal serão diferentes, e sua correlação com outras variáveis produzirá resultados opostos. Portanto, a psicologia social tradicional está com problemas, não porque ela não reflete em seu paradigma de pesquisa experimental os parâmetros da atividade dos processos grupais, mas porque mesmo se esses parâmetros são levados em consideração, ela não se orienta em direção a eles como base para uma abordagem diferencial de grupos de vários níveis de desenvolvimento. Tudo isso dá à teoria da mediação da atividade o direito e a base metodológica para realizar uma revisão cardinal da imensa quantidade de fatos experimentais acumulados pela psicologia social tradicional, dando especial atenção ao caráter contraditório das conclusões alcançadas por vários pesquisadores.

A terceira posição do conceito estratométrico é fixa em seu próprio nome. Enquanto na psicologia social tradicional os processos de grupo não são hierárquicos em relação à atividade do grupo, seus objetivos e princípios, estão na coletividade hierárquica, formando uma estrutura multicamadas. Nesta estrutura multicamadas podemos descobrir diversos estratos, possuindo diversas características psicológicas, que ilustram variadas regularidades psicológicas sociais. Descreveremos estes estratos conforme eles aparecem a nós nesta etapa do desenvolvimento da teoria da mediação da atividade.

Figura 2. Níveis do conceito estratométrico do coletivo

O elo central da estrutura grupal A (ver figura 2) é formado pela atividade grupal em si mesma, seu objeto, suas características socioeconômicas e sociopolíticas. Em sua essência, este é um núcleo relativo a todos os outros estratos psicológicos sociais, mas é uma formação não-psicológica. São as características de conteúdo de um grupo como um coletivo que faz parte do sistema social. Em nosso laboratório, A. S. Morozov, em A psicologia da pessoa em um coletivo, fez uma primeira tentativa de conceber índices empíricos que pudessem ser reduzidos a indicadores mais gerais de áreas de avaliação da atividade coletiva objetiva, isto é, estabelecer as características mais gerais desse núcleo não-psicológico de processos grupais no coletivo. Assim, três critérios de avaliação do grupo como coletivo foram articulados: primeiro, avaliação do cumprimento da principal função social pelo coletivo (o sucesso na participação na divisão social do trabalho); segundo, a avaliação da adesão do grupo às normas sociais (para os coletivos em nossa sociedade, adesão ao modo de vida socialista); terceiro, avaliação das capacidades do grupo de garantir que todos os seus membros tenham oportunidades de desenvolvimento pessoal de suas personalidades. Todas as características psicológicas do coletivo dependem dessas formações nucleares e não psicológicas. O sócio-histórico determina o psicológico; esta tese marxista é o fundamento da teoria da mediação da atividade. Revelar as áreas de avaliação acima da atividade objetiva do coletivo fornece validade aos parâmetros psicológicos sociais do grupo em um nível diferente de desenvolvimento, classificando um grupo como um coletivo (quando os três critérios são suficientemente altos).

Após o estrato não-psicológico está a camada nuclear B. É a primeira camada essencialmente psicológica, na qual são fixadas as relações de cada membro individual com a atividade do grupo — suas tarefas, objetivos, princípios em que se baseia, a motivação da atividade, seu significado social para cada membro individual.

Pesquisas estão em andamento na elaboração de programas de pesquisa que levariam em consideração o papel dominante da atitude dos membros do coletivo em relação à atividade grupal no desenvolvimento do sistema de relações interpessoais no coletivo.

O segundo estrato psicológico, C, localiza as características das relações interpessoais mediadas pelo conteúdo da atividade comum (seus objetivos, tarefas e progresso) e os princípios e orientações de valores aceitos no grupo, que são, na análise final, as projeções de constructos ideológicos operantes na sociedade. É aqui, como foi mencionado acima, que todos os fenômenos descritos da atividade de grupo devem pertencer. A mediação da atividade é o princípio da existência e da compreensão dos fenômenos da segunda camada psicológica.

Recentemente, R. S. Vaisman discutiu a possibilidade de dividir a camada C em duas partes, C1 e C2, sugerindo que C1 representaria a mediação das relações interpessoais diretamente através do conteúdo da atividade (indivíduo — objetivos e tarefas da atividade, seu significado social, etc., — indivíduo), e a camada C2, a mediação das relações interpessoais através de valores sociais geralmente importantes (indivíduo — orientações de valores geralmente importantes, princípios morais aceitos no grupo — indivíduo). Poderíamos assumir, então, que o fenômeno da autodeterminação coletivista registrado por L. A. Turovskaia estava no nível C1, enquanto o fenômeno da autodeterminação coletivista registrado na obra de I. A. Obuturova estava no nível C2. Ainda que tenhamos o presente caráter convencional da estratificação da camada C (os objetivos da atividade coletiva são, na prática, muito difíceis de separar de seus valores e princípios), a estratificação proposta justifica-se se levarmos em consideração o processo de formação coletiva, em que, acreditamos, a camada C2 é formada primeiro (por exemplo, a unidade orientada por valores em relação ao valor moral da atividade, que é explicada pela presença da unidade ideológica em todas as sociedades socialistas, e que é aceito durante o processo de educação do homem soviético); então a camada C1 é formada como resultado da aceitação de cada membro dos objetivos da atividade coletiva concreta (por exemplo, a unidade orientada por valores em relação aos objetivos, tarefas da atividade, seus membros, etc.).

Finalmente, a última e superficial camada das relações interpessoais, D, pressupõe a presença de conexões onde nem os objetivos coletivos da atividade, nem as orientações de valores geralmente importantes do coletivo funcionam como um fator importante mediando os contatos pessoais dos membros do grupo. Como já enfatizamos, isso não significa que as conexões aqui sejam diretas, no sentido pleno da palavra. Dificilmente podemos presumir que as relações entre quaisquer duas pessoas não teriam um elo mediador na forma de alguns interesses, gostos, atrações empáticas, influências sugestivas, expectativas habituais e assim por diante. Mas essas conexões não são realmente influenciadas pelo conteúdo da atividade do grupo, ou são influenciadas apenas muito ligeiramente (consistente com nossa hipótese de um certo efeito de “aquecimento” dos estratos mais profundos sobre os mais externos). Graficamente, todos os estratos acima estão representados na figura 2.

Assim como é inadmissível transferir as leis do grupo difuso para o coletivo, também é injustificado atribuir um sentido universal às conclusões tiradas dos estudos dos fenômenos da camada superficial, das relações interpessoais no coletivo, e considera-los suficientes para a caracterização da essência das relações interpessoais no coletivo. Mas as conexões no segundo estrato, C (C1 e C2), são indispensáveis para definir um coletivo, embora sejam insuficientes sem levar em consideração os dados da primeira camada, ou seja, sem revelar o significado social de sua atividade para seus membros, a natureza de sua motivação, etc.

Infelizmente, em numerosos estudos de psicologia social (industrial, acadêmicos, esportivos, etc.), especialmente os de natureza aplicada, vemos esse uso injustificado dos índices da camada superficial para a caracterização do coletivo em geral. Neles é atribuído um papel dominante às escolhas sociométricas, uma escala de aceitação, comunicabilidade e outros fatores alheios à atividade objetal do grupo. Evidentemente que as avaliações psicológicas oferecidas como resultado desses estudos às pessoas interessadas e organizações não são adequados e, às vezes, podem ser mesmo confusas. Do nosso ponto de vista, a mais rápida disseminação na esfera da pesquisa aplicada dos princípios teóricos do conceito de psicologia social discutido neste artigo é necessária para colocar esta importante área da prática psicológica no quadro das demandas de confiabilidade e objetividade científica.

Finalmente, gostaríamos de dizer algumas palavras sobre o desacordo mais recente da teoria acima com a psicologia social tradicional. Em todos os conceitos teóricos aceitos pela psicologia social ocidental, seja da escola sociométricas (Moreno), da abordagem do modelo formal (Heider, French), do conceito interacionista (Bales, Homans), da teoria dos sistemas (Newcomb, Moscowitz), e assim por diante, acredita-se que os principais determinantes dos processos grupais sejam o tamanho do grupo, sua estrutura, hierarquia de status, natureza e frequência das comunicações, etc., e todos os fenômenos psicológicos de integração e diferenciação são considerados variáveis intermediárias. O conceito estratométrico estipula outro sistema de determinantes dos processos grupais em grupos altamente desenvolvidos. O principal determinante dos processos grupais no coletivo é a atitude em relação ao conteúdo da atividade coletiva, sua motivação, seu significado social, as normas e valores aceitos pelo grupo, que são exibidos nos atos de relações interpessoais servindo como “variáveis intervenientes”. Estas últimas são os atos de autodeterminação coletivista, a unidade orientada por valores, a identificação emocional ativa do grupo, a natureza de atribuir e aceitar a responsabilidade pelos sucessos e fracassos da atividade comum, a motivação da escolha interpessoal, a presença ou ausência de valores de referência, etc. Quanto ao tamanho do grupo e à intensidade da comunicação, essas características clássicas de um grupo pequeno, enfatizadas por todos os pesquisadores em psicologia social, atribuímos um papel modesto, dependente do acima mencionado. Para confirmar e provar esta tese, estamos conduzindo uma série de experimentos.

A teoria da psicologia social baseada nos princípios da mediação da atividade ainda está em fase de desenvolvimento de suas posições básicas. A busca por formas metodologicamente adequadas de resolver os problemas da psicologia de grupos e coletivos discutidos neste artigo é um pré-requisito para um maior progresso nesta importante área da ciência psicológica.

NOTAS

[1] ANDREEVA, G. M., Voprosi Psikhologii, 1977, nº 2, p. 9.

[2] ANDREEVA, G. M., Ibid., p. 4.

[3] O Efeito Ringelmann foi estabelecido pelo engenheiro francês Max Ringelmann em 1913. Nele, supostamente, se verificou que sujeitos em grupo tendem a um estado de inércia social, realizando menos esforço em grupo do que individualmente — N. E.

[4] O Stakhanovismo foi um movimento soviético inspirado em Alexei Stakhanov nos anos 1930, e orientava o aumento da produtividade operária com base na intensificação voluntária do trabalho realizado para o desenvolvimento do Estado Socialista Soviético. Apesar de críticas de alguns setores do proletariado soviético, o movimento foi responsável pelo desenvolvimento de uma maior organização do trabalho operário na URSS — N. E.

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Bruno Bianchi
Kátharsis

Pai. Psicólogo e especialista em gestão pública. Tradutor e militante do PCB