Iu. F. Poliakov — Leis gerais da patologia dos processos cognitivos em pacientes com esquizofrenia (1974)

Publicado em Patologiia poznatavelnoi deiatelnosti pri shizofrenii. M: Meditsina, 1974, pp. 112–126. Tradução por Helio Cavalcante Donadi.

Bruno Bianchi
Kátharsis
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18 min readMay 20, 2024

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Além de identificar novas características factuais e descobrir particularidades na organização dos processos de pensamento e percepção em pacientes com esquizofrenia, a pesquisa realizada permitiu estabelecer regularidades mais gerais na atividade cognitiva nessa patologia.

Os dados experimentais indicam diferenças substanciais entre os resultados e manifestações da atividade cognitiva em pacientes e pessoas saudáveis. No entanto, ao tentar generalizar e sintetizar esses fatos, surge uma imagem bastante complexa, variada e contraditória das manifestações da atividade comprometida em pacientes, mostrando estranheza e peculiaridades em suas generalizações e comparações, ao mesmo tempo em que demonstram capacidade não inferior, e às vezes até superior, na realização de tarefas de pensamento bastante complexas. Aqui encontramos aumento do limiar de percepção, diminuição da precisão no reconhecimento e muito mais.

Tentar comparar e generalizar essas características dos próprios resultados da atividade dos pacientes, sem analisar a natureza dos processos cognitivos comprometidos, dos quais eles são expressões, pode levar a conclusões sobre contradições, incompatibilidades e desarmonia. Na realidade, porém, é possível perceber uma “ordem” e regularidade determinadas não negativamente. Essa regularidade não está nas características das manifestações, mas sim nas características da mudança na estrutura dos processos mentais que se ocultam por trás delas e as condicionam.

Como evidenciado pelos fatos experimentais, o curso de certos processos (tipos de atividade) em pacientes com esquizofrenia é alterado, levando a diferenças nos resultados da atividade em comparação com os resultados em sujeitos saudáveis, enquanto em outros tipos de atividade não são observadas diferenças entre pacientes e pessoas saudáveis. As perturbações não dependem da “modalidade” dos processos cognitivos — processos de pensamento, como comparação, generalização, resolução de problemas, e processos perceptivos, como percepção visual e auditiva, são afetados. Em cada um desses tipos de atividade, diferenças entre pacientes e pessoas saudáveis são possíveis. As perturbações também não estão diretamente ligadas à complexidade da tarefa executada. Elas são detectadas ao realizar tarefas muito elementares e podem estar ausentes ao resolver tarefas bastante complexas.

A principal regularidade que emerge da análise dos dados experimentais é a relação entre os distúrbios de certos tipos de atividade cognitiva em pacientes com esquizofrenia, sua natureza e grau de expressão, por um lado, e a peculiaridade da estrutura dessa atividade específica, por outro.

A análise dos dados experimentais mostra que todos os processos cognitivos (tanto os processos de pensamento quanto os perceptivos), cujo curso é alterado em pacientes com esquizofrenia, têm um elemento comum em sua estrutura. Uma característica comum das atividades comprometidas é que, em uma determinada fase do processo (em um “momento” específico da atividade), surge a possibilidade e a necessidade de envolver a memória (atualização) de um conjunto de informações quando a situação atual e a análise das condições não fornecem orientações suficientes para remover a incerteza na escolha, para favorecer a atualização. Em alguns casos, isso pode ser um determinado conjunto de propriedades, relações de objetos, necessárias para sua comparação, classificação ou resolução de um problema, em outros casos, pode ser um conjunto específico de elementos linguísticos necessários para completar uma palavra ou frase e, em terceiro lugar, pode ser um sistema específico de imagens padrão, engramas, usados na identificação de estímulos de difícil discernimento.

A atividade dos sujeitos saudáveis nessas condições é caracterizada pela seletividade da atualização, pela preferência em atrair um ou outro conjunto de informações da memória (embora as exigências da instrução e a análise das condições do problema permitam “igualdade” na atualização do conjunto de conhecimentos). Isso é evidenciado pelos resultados de todas as principais séries experimentais, onde para pessoas saudáveis a limitação do conjunto de informações acessadas na memória e a probabilidade diferente (destaque) de sua atualização foram características distintivas.

A atividade cognitiva sempre ocorre por meio do uso de conhecimento (informações, dados) adquiridos na experiência passada do sujeito, condicionada pela sociedade. No entanto, não se resume à mera reprodução mecânica de todo o conjunto de conhecimentos armazenados na memória, mas envolve um processo seletivo baseado em vários fatores determinados pela situação atual, pelas demandas da tarefa, pelo curso da análise e pela experiência anterior do sujeito.

É evidente que diferentes tipos de processos cognitivos (realização de diferentes atividades) estão associados a condições diversas na determinação da atualização do conhecimento. Nesse aspecto, os desafios das principais séries experimentais apresentam semelhanças específicas. A análise dos resultados da atividade de pessoas saudáveis mostra que, nesses casos, a atualização do conhecimento é significativamente influenciada pela experiência anterior, e com base em diferentes fatores, ocorre a seletividade e preferência pela ativação de informações da memória. A experiência passada sempre media a atividade do ser humano e suas reações ao ambiente, mas o papel e a natureza dessa mediação podem variar.

Nos tipos de atividades que estamos considerando (alteradas na esquizofrenia), o papel da experiência anterior reside no fato de que ela influencia significativamente as probabilidades de atualização, a preferência na atração de informações da memória, quando a situação, as condições da tarefa, o curso anterior da atividade, permitindo o uso de um conjunto específico de informações da memória, não fornecem fundamentos suficientes para remover a incerteza na ativação (em alguns casos, devido a instruções “vagas” na realização de tarefas cognitivas e linguísticas, em outros, devido à ambiguidade do sinal reconhecido mascarado, etc.). Os fatores da experiência passada que influenciam a seletividade e a preferência de ativação podem variar. Em nossos experimentos, esses fatores incluíam, por exemplo, ao comparar e classificar objetos, o significado prático-social de suas propriedades e relações; ao completar palavras com base em uma sílaba específica; ao prever a aparição de imagens de letras do alfabeto russo — a frequência de uso na atividade de fala; ao completar frases — a probabilidade lexical, e assim por diante. Em todos esses casos, a probabilidade diferente, a preferência pela atração de informações (dados) da memória é principalmente uma função de fatores que estão além da situação, da instrução, do estímulo específico, etc.

Portanto, os resultados da pesquisa e a análise correspondente permitem identificar o elemento que é comum na estrutura dos processos cognitivos alterados na esquizofrenia, como a ativação seletiva de informações da memória com base na experiência passada.

É exatamente com a presença desse elemento na estrutura (composição) da atividade cognitiva realizada que se nota sua mudança em pacientes com esquizofrenia em comparação com pessoas saudáveis. Os tipos de atividades nos quais o papel desse elemento é insignificante acontecem em pacientes com esquizofrenia sem diferenças significativas em relação aos sujeitos saudáveis.

Simultaneamente à identificação da relação entre a perturbação dos processos cognitivos e a presença de um elemento específico em sua estrutura, os dados experimentais permitem caracterizar a mudança desse próprio elemento. A análise mostra que, em todos os casos em que as pessoas saudáveis demonstram seletividade na atualização de informações com base na experiência passada, há uma alteração no sistema de informações atraídas da memória em pacientes com esquizofrenia. Torna-se regular a expansão, em comparação com sujeitos saudáveis, do conjunto de informações ativadas e utilizadas, juntamente com a tendência à igualdade nas probabilidades de ativação de diferentes conhecimentos. A probabilidade de ativação das informações preferencialmente ativadas por pessoas saudáveis diminui, enquanto a probabilidade de ativação de informações latentes e pouco utilizadas por pessoas saudáveis aumenta. Isso foi diretamente evidenciado na análise das características de frequência das informações atraídas da memória em tarefas relacionadas à ativação de conexões verbais e em várias séries experimentais relacionadas ao estudo de processos de pensamento. Indiretamente, isso é confirmado pelas diferenças encontradas nos limiares de reconhecimento de sinais visuais e sonoros em pacientes com esquizofrenia e pessoas saudáveis. A credibilidade disso é reforçada pelos resultados de uma série experimental, na qual a depressão do ritmo alfa foi usada como indicador involuntário no estudo do processo de reconhecimento de sinais de fala ruidosos.

Dessa forma, os dados experimentais indicam que em pacientes com esquizofrenia há uma deterioração na seletividade das informações, atraídas com base na experiência passada, resultando na diminuição da preferência na ativação do conhecimento. Tudo isso permite considerar que a perturbação dos processos cognitivos em pacientes com esquizofrenia está significativamente associada à deterioração da seletividade na atração de informações da memória com base na experiência passada.

A partir dessa perspectiva, torna-se possível abranger e compreender todo o círculo complexo de manifestações, resultados da atividade mental e perceptiva fixados durante a pesquisa experimental de pacientes, que, sem levar em conta a regularidade identificada, causam a impressão de serem heterogêneos, desordenados, contraditórios e unidos apenas com base em características negativas como “ataxia intrapsíquica”, “discordância”, “esquizia”. A dependência descoberta em pacientes com esquizofrenia entre a perturbação dos processos cognitivos e a alteração de um elemento específico em sua estrutura permite entender por que alguns processos são modificados enquanto outros não o são, por que as perturbações se manifestam mais ou menos claramente, por que elas se mostram em algumas características da atividade (indicadores) e em outras, por que as alterações ocorrem tanto na direção da deterioração quanto na da melhoria dos resultados da atividade, etc. A complexidade e, ao mesmo tempo, a possibilidade de síntese de todas essas características estão relacionadas ao fato de que o elemento mencionado, que faz parte da estrutura de um amplo conjunto de diferentes processos cognitivos, desempenha um papel diferente (qualitativo e quantitativo) em sua implementação. É evidente que, em conexão com isso, esses processos devem mudar e se reestruturar de maneira diferente. Dependendo do lugar (papel) e da “contribuição específica” desse elemento na estrutura de uma atividade específica, está a natureza da sua perturbação, o grau de manifestação da perturbação e em que ela se manifesta.

As diferenças no lugar, na “função” desse elemento na estrutura de diferentes processos mentais se manifestam no fato de que as manifestações de sua perturbação podem ser muito variadas. Por exemplo, ao perceber estímulos de difícil discernimento de diferentes modalidades, esse elemento está relacionado à organização do sistema de padrões atraídos para a comparação com o estímulo apresentado; nos processos de comparação, classificação, etc., está relacionado à ativação variável das propriedades e características dos objetos usados como base para abstração e generalização; ao realizar tarefas que exigem o preenchimento de palavras, frases, etc., está relacionado à ativação de conexões verbais necessárias para a resposta, e assim por diante. Naturalmente, devido à alteração desse elemento em pacientes com esquizofrenia, em todos os casos de perturbação dos processos cognitivos que incluem esse elemento em sua estrutura, as manifestações serão diferentes, apresentando-se em diferentes indicadores. Em alguns casos, ao resolver certas tarefas, a perturbação será evidente em características como generalizações, comparações, etc., em pacientes com esquizofrenia; em outros casos, será observada no efeito de percepção (precisão do reconhecimento, velocidade de reconhecimento, etc.); em terceiros, nas características da distribuição estatística de respostas, em quartos, na eficácia da resolução de tarefas de pensamento, etc.

As diferenças no “peso específico” desse elemento na estrutura de diferentes processos afetam o grau de perturbação de um ou outro processo e se manifestam em diferentes graus de diferença nos resultados desses processos em pacientes em comparação com pessoas saudáveis. Com base nisso, torna-se compreensível por que, por exemplo, pode ou não haver diferenças nos resultados da atividade de pacientes e pessoas saudáveis. A análise mostra que a ausência de diferenças nas manifestações de uma atividade específica em pacientes com esquizofrenia está relacionada à ausência ou ao valor mínimo desse elemento na estrutura dessa atividade (processo).

Também é explicada a irregularidade no grau de diferença nos resultados de pacientes em relação a pessoas saudáveis, quando na execução de uma atividade homogênea (por exemplo, ao estudar processos de percepção), a diferença ora é óbvia, ora é pouco perceptível. Conforme indicado pelos resultados, ao reconhecer estímulos visuais e auditivos, as diferenças aumentam à medida que a informação disponível sobre o objeto de reconhecimento diminui (aumento do ruído, redução do contorno da letra, maior desfocagem). Com o aumento da informação disponível sobre o objeto reconhecido, a diferença nos resultados da atividade entre pacientes e pessoas saudáveis diminui. A explicação para essa dependência está no fato de que com a mudança do grau de incerteza da situação (incompletude das informações disponíveis sobre o estímulo), o peso específico na estrutura do processo de reconhecimento do elemento perturbado muda, o que determina o grau de mudança desse processo como um todo, refletido no grau de diferenças nos resultados da atividade entre pacientes com esquizofrenia e pessoas saudáveis.

A regularidade identificada permite compreender a natureza qualitativa das diferenças nos resultados da atividade entre doentes e saudáveis e entender por que, ao lado do declínio na atividade cognitiva, em algumas situações os doentes apresentam resultados melhores do que os saudáveis. Para garantir isso, é necessário levar em conta e relacionar a regularidade identificada na perturbação dos processos cognitivos em pacientes com esquizofrenia (uma mudança específica na estrutura de seus processos de pensamento e percepção) com as exigências objetivas de uma tarefa específica executada na atividade.

É evidente que em “tarefas” (mentais, perceptivas) que exigem a identificação (ativação) e uso de propriedades mais comuns, conexões entre objetos e fenômenos, os resultados da atividade dos doentes devem ser piores em comparação com os saudáveis. Em pessoas saudáveis, a probabilidade de ativação com base na experiência passada dessas informações é alta, o que facilita significativamente a resolução dessas tarefas, determinando a natureza latente, “subdominante” das informações pouco prováveis baseadas na experiência passada, cuja ativação complicaria e dificultaria a execução da atividade. No entanto, essa mesma característica de organização da experiência passada em pessoas saudáveis serve como uma espécie de obstáculo ao enfrentar tarefas que exigem uma consideração banal, incomum das propriedades e conexões entre objetos. No entanto, a alta utilidade dessa seletividade cerebral reside no fato de que na vida cotidiana as pessoas estão constantemente enfrentando precisamente esse tipo de tarefa, e é delas que consiste principalmente a atividade humana diária.

Da regularidade formulada acima sobre a mudança nos processos cognitivos em pacientes com esquizofrenia, segue-se que ao realizar atividades “cotidianas” desse tipo, seus resultados devem ser piores do que os dos saudáveis. Isso decorre da tendência identificada nos pacientes à igualação das probabilidades de ativação com base na experiência passada (significando uma redução na probabilidade de ativação de informações mais prováveis, ou seja, as necessárias para a execução desse tipo de atividade). Em nossos experimentos, essa piora se manifestou em diferentes indicadores (precisão na resolução de problemas, precisão no reconhecimento, tempo de reação). Isso foi particularmente evidente nas tarefas de reconhecimento, onde, ao perceber estímulos acústicos ruidosos e visuais desfocados, os resultados dos pacientes foram piores do que os dos saudáveis ao apresentar estímulos mais prováveis, “modelos”, normais (palavras, imagens, objetos).

Com base na mesma regularidade, torna-se compreensível que em alguns casos, onde a principal dificuldade na resolução da tarefa reside na necessidade de identificar (ativar) propriedades, conexões, aspectos incomuns, pouco prováveis dos objetos, os pacientes com esquizofrenia possam ter alguma vantagem sobre os saudáveis. Devido à equalização das probabilidades de ativação de informações com base na experiência passada, o que significa o aumento das probabilidades de ativação de informações pouco prováveis, os pacientes podem encontrar a informação necessária para resolver essas tarefas melhor (mais rapidamente) do que os saudáveis. Em experimentos de reconhecimento, isso se manifestou no fato de que os resultados da percepção nos pacientes foram melhores do que nos saudáveis ao apresentar estímulos incomuns e improváveis. No estudo dos processos de pensamento, isso se manifestou em certa vantagem dos pacientes sobre os saudáveis ao resolver tarefas de raciocínio, onde a principal dificuldade reside na necessidade de usar propriedades de uma vela bastante incomuns e insignificantes em termos de uso prático.

A análise realizada desse tipo de patologia da atividade cerebral (psíquica) indica que, estritamente falando, são mal utilizadas, pouco produtivas, as características amplamente utilizadas dos processos cognitivos em doenças mentais, como “diminuição”, “queda”, “deterioração” e similares.

Os processos cognitivos em patologias cerebrais não “diminuem”, não “caem”, não diminuem ou pioram, mas são caracterizados por uma mudança específica (sujeita a um estudo especial em cada tipo de patologia) em seu curso, uma reestruturação de sua estrutura. Essa mudança no curso dos processos cognitivos pode levar a “diminuição”, “diminuição” ou piora nos resultados da atividade. Em relação à avaliação do efeito, o resultado da atividade.

A inadequação e a improdutividade de seu uso para caracterizar as características da própria perturbação dos processos cognitivos estão relacionadas a duas circunstâncias:

Primeiro, “diminuição”, “deterioração” e similares nos resultados da atividade cognitiva podem ser consequência de diferentes tipos de perturbação nos processos cognitivos, que são bastante diversos em sua natureza e regularidade. É precisamente com isso que a infertilidade dos estudos psicométricos está mais relacionada, baseando-se na “medição” do efeito da atividade, ao estudar as características, a singularidade das perturbações da atividade cognitiva (em geral, psíquica) em diferentes tipos de lesões cerebrais e, em particular, na esquizofrenia. É significativo, nesse sentido, que Winder (1960), autor de uma revisão de numerosos estudos sobre a medição do “déficit intelectual” na esquizofrenia, ao avaliar o valor prático desses trabalhos, chega a uma conclusão cética de que “a utilidade do conceito clínico vago de ‘deterioração intelectual’, cuja definição clássica está relacionada ao conceito de perda progressiva e irreversível de habilidades com base em alterações orgânicas destrutivas, é na realidade pequena. O termo ‘deterioração’ é realmente apenas uma formulação do problema.”

Segundo, como os resultados de nossa pesquisa mostram, o uso dos conceitos de “diminuição”, “deterioração”, “piora” e similares para caracterizar os processos cognitivos perturbados na esquizofrenia é impossível porque não há uma dependência direta entre a mudança no curso dos processos cognitivos e os resultados da atividade. A conexão entre eles é mediada pelas características e requisitos específicos de tipos concretos de atividade (tarefas realizadas). Essa mediação leva ao fato de que, com um determinado tipo de perturbação no curso dos processos cognitivos, ao realizar um tipo de atividade, os resultados dos pacientes podem ser “piores” do que os dos saudáveis, enquanto na realização de outras tarefas podem ser até “melhores”.

Tudo isso indica, em particular, a importância especial do estudo experimental-psicológico das regularidades na perturbação dos processos cognitivos em diferentes tipos de patologia cerebral para uma solução cientificamente fundamentada das questões de readaptação ao trabalho e social de pessoas mentalmente doentes. Torna-se óbvio que, para encontrar caminhos adequados para resolver essas questões práticas, para desenvolver recomendações profissionais correspondentes, é necessário (além da análise clínica das características individuais da personalidade) um desenvolvimento científico-investigativo das regularidades na perturbação do curso dos processos cognitivos em diferentes categorias de pessoas mentalmente doentes, que permitiria uma avaliação diferenciada do grau de sucesso na realização de tipos específicos de atividade por eles.

A conexão descoberta como resultado de nossa pesquisa entre a perturbação dos processos cognitivos em pacientes com esquizofrenia e a alteração de uma parte específica de sua estrutura, assim como a dependência entre o efeito de uma atividade específica e o lugar (papel) dessa parte em sua composição, torna compreensível a ineficácia de muitas tentativas experimentais de identificar perturbações nos processos cognitivos na esquizofrenia sem considerar e analisar as características da estrutura psicológica da atividade realizada. Agora está claro, com base em nossos dados, que nas tentativas, por exemplo, de constatar em pacientes com esquizofrenia uma mudança no limiar de percepção, independentemente das condições de percepção e da natureza do estímulo apresentado, mesmo ao estudar um grupo clinicamente homogêneo de pacientes, os resultados da pesquisa devem ser ambíguos. Os limiares de percepção (reconhecimento) em pacientes com esquizofrenia podem ser tanto mais altos quanto mais baixos do que em pessoas saudáveis e, em certas condições, podem não diferir dos limiares em pessoas saudáveis. A mesma situação caracteriza as tentativas de examinar os resultados da atividade mental em pacientes com esquizofrenia, onde não é possível chegar a uma conclusão inequívoca, já que os pacientes podem demonstrar tanto resultados de atividade piores quanto melhores do que as pessoas saudáveis e, em alguns casos, não diferem dos resultados da atividade delas. Naturalmente, sem analisar a estrutura psicológica dos tipos de atividade realizados pelos pacientes, tal quadro poderia levar à conclusão da ausência de regularidades, à “ataxia”, ao desordenamento dos processos mentais nesses pacientes. A mesma dificuldade em identificar regularidades suficientemente claras se aplica aos estudos das características da atividade mental de pacientes com esquizofrenia, onde o tempo de reação, a avaliação do nível de abstração etc., serviram como indicadores.

À luz dos resultados desta pesquisa, todas essas características da atividade cognitiva (limiares de reconhecimento, tempo de reação, “clareza” na resolução de problemas etc.) em pacientes esquizofrênicos não são alteradas de maneira geral ou unidimensional, mas dependem do peso específico e do papel do elemento perturbado na estrutura daquela atividade específica que está sendo usada na pesquisa experimental. A complexidade em identificar regularidades gerais na perturbação dos processos cognitivos na esquizofrenia está associada à complexidade e à variedade na estrutura de diferentes tipos de atividade cognitiva, à variabilidade do lugar e papel do elemento perturbado na estrutura de diferentes processos, levando a diferentes tipos de perturbações (e, consequentemente, a diferentes manifestações) de cada tipo de atividade.

Isso indica a importância especial do sucesso na pesquisa desse tipo de patologia da atividade mental com a alta adequação de métodos experimentais à natureza desse tipo de patologia, sua orientação estreita, juntamente com a seleção adequada de indicadores e métodos de análise de dados experimentais-psicológicos ao estudar pacientes esquizofrênicos.

A dependência identificada entre a natureza e a manifestação da perturbação dos processos cognitivos e as características de sua estrutura permite entender em certa medida a razão das dificuldades na detecção clínica de alterações na atividade cognitiva (especialmente no pensamento) em pacientes com esquizofrenia, o que frequentemente complica a resolução de questões diagnósticas diferenciais na prática clínica. As perturbações no pensamento, consideradas na prática psiquiátrica como um dos critérios fundamentais para definir a esquizofrenia e sendo um sinal psicopatológico essencial que facilita o diagnóstico, nem sempre são claramente identificáveis nas condições de observação clínica, complicando a posição do médico que lida com questões diagnósticas diferenciais. As manifestações das perturbações no pensamento adquirem um significado especial como pontos de apoio no diagnóstico em casos de um curso lento de esquizofrenia continuamente progressiva, onde a sintomatologia psicótica produtiva está ausente. No entanto, em tais casos, muitas vezes é muito difícil detectar, na observação clínica, os sinais de perturbações na atividade do pensamento sem um estudo experimental-psicológico especial.

Os resultados desta pesquisa permitem considerar que a dificuldade na detecção clínica das perturbações no pensamento na esquizofrenia em casos de patologia não grave e não claramente expressa está mais relacionada ao fato de que a detecção desse tipo de patologia na atividade do pensamento requer a criação intencional de certas “condições” que nem sempre surgem nas formas usuais de exame clínico (psicopatológico) de pacientes. Como as perturbações no pensamento nesses pacientes dependem da estrutura da atividade realizada, em determinados tipos de conversas clínicas com os pacientes, elas podem não ser detectadas. Não é por acaso que, nesses casos, clínicos mais experientes tentam fazer perguntas não apenas claramente formuladas, que exigem uma resposta definida e única, mas também perguntas menos claras, de natureza mais “abstrata”, permitindo ao paciente “pensar”, desenvolver a resposta em diferentes planos, o que ajuda a identificar características do pensamento dos pacientes.

Em casos que causam as maiores dificuldades diagnósticas, a assistência mais significativa pode vir da pesquisa experimental-psicológica, baseada no conhecimento das regularidades da perturbação dos processos cognitivos na esquizofrenia e utilizando-as para criar intencionalmente condições experimentais para detectar perturbações no pensamento clinicamente não expressas.

Nesse sentido, os resultados da pesquisa podem ser utilizados na construção e seleção de metodologias experimentais-psicológicas ao estudar perturbações no pensamento clinicamente pouco expressas em pacientes esquizofrênicos. A dependência identificada entre a perturbação dos processos cognitivos em pacientes esquizofrênicos e a alteração de um elemento específico em sua estrutura permite delinear um conjunto de metodologias (tarefas experimentais) cujo uso é mais apropriado ao estudar esse tipo de paciente.

A aplicação de muitas das técnicas amplamente utilizadas, relacionadas à realização de atividades em que o papel do “elemento” perturbado é insignificante (tais como tarefas construtivas-espaciais, operações de contagem, tarefas de memorização e reprodução, tarefas formal-lógicas etc.), com o objetivo de identificar alterações no pensamento de pacientes esquizofrênicos, é pouco bem-sucedida, pois são exatamente esses tipos de atividades que ocorrem nos pacientes sem perturbações. Isso não significa abandonar o uso dessas técnicas para obter dados negativos na diferenciação diagnóstica, por exemplo, na distinção entre esquizofrenia e doenças orgânicas cerebrais, onde essas técnicas identificam a patologia do pensamento.

As tarefas mais eficazes para detectar perturbações pouco expressas no pensamento na esquizofrenia estão ligadas à criação de situações de escolha indefinida, com instruções vagas, onde o participante não recebe orientações suficientes para escolher o princípio de resolução, a base para a classificação, generalização etc. Dentro desse conjunto de metodologias estão aquelas relacionadas à possibilidade de soluções múltiplas para a tarefa, à ausência de uma única solução rigidamente determinada como “correta” (método de classificação subjetiva com instruções vagas, método de comparação de objetos e fenômenos, método de “exclusão de um objeto”, método de pictogramas etc.). Ao escolher variantes específicas dessas metodologias, deve-se considerar que as características do pensamento de pacientes esquizofrênicos são mais claramente reveladas quando há necessidade de estabelecer conexões e relações (durante comparação, classificação etc.) entre objetos e fenômenos diversos, “distantes” um do outro.

A análise do sistema de dados experimentais obtidos, ao confirmar a conclusão sobre a existência de uma relação entre a perturbação de uma ampla gama de processos cognitivos e a alteração de um elemento específico em sua estrutura, ao mesmo tempo, revela a inconsistência factual das tentativas de explicar as peculiaridades dos processos cognitivos na esquizofrenia através da consideração do impacto de um processo mental (esfera) sobre outro.

As tentativas de considerar essas relações (o impacto das características da atenção, emoções, intencionalidade etc.) como causais para a perturbação da atividade cognitiva na esquizofrenia entram em contradição com os fatos observados. A análise do sistema de dados experimentais, por exemplo, das características da atenção, levaria à conclusão de que a atenção dos pacientes, mesmo durante a realização da mesma atividade, pode ser tanto melhor quanto pior do que o normal, ou até não diferir da norma. As tentativas de explicar os resultados pelas características da intencionalidade dos pacientes levariam à conclusão de que a intencionalidade dos pacientes pode tanto prejudicar seus resultados quanto não afetá-los, ou até mesmo melhorá-los.

Além disso, os resultados de uma série de experimentos (por exemplo, completar palavras com uma sílaba fornecida, prever letras, etc.) nos parecem impossíveis de explicar dessa maneira, pois é difícil imaginar qualquer “relação” com uma sílaba ou com uma única letra.

Essencialmente, os dados obtidos mostram a inapropriabilidade de outra posição existente — tentativas de deduzir a perturbação de “níveis” mais altos de cognição (pensamento) das características de “níveis” mais baixos (percepção, sensação). Os dados experimentais indicam que, nessa patologia cerebral, entre a perturbação nos processos de percepção e pensamento, as relações não são de causa e efeito, mas outra — a perturbação em ambos os tipos de processos está principalmente relacionada à alteração de um “radical” comum que faz parte de sua estrutura.

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Bruno Bianchi
Kátharsis

Pai. Psicólogo e especialista em gestão pública. Tradutor e militante do PCB