Barril e arrebentação

Edu Alves
kayua
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3 min readNov 3, 2019
Imagem: Stijn Swinnen

Era segunda-feira e faltavam poucos dias para acontecer a 2ª edição da Oficina SELFIE: retrato por escrito. Em minha cabeça, após já ter realizado um encontro, pensei que a ansiedade e a preocupação não estariam ali, me esperando. Mas estavam.

Realizar mais este evento, onde falamos da expressão como forma de autoconhecimento era algo que eu vinha ensaiando e desenvolvendo os detalhes há tempos. Quando me dei conta que o que fazia parte do meu cotidiano poderia ser compartilhado, fiquei muito feliz, mas, ao mesmo tempo, senti medo. Medo daquilo não fazer sentido para além da minha imaginação.

Na última semana que antecedia a 2ª turma do curso, muita coisa ainda parecia líquida. Muito do que sentia que seria mais fácil desta vez estava me desafiando ainda. Pensei em desistir e tirar um tempo para refletir sobre. Se era o caminho a ser seguido. Se tudo aquilo fazia sentido.

Nestes dias, também me observei vendo outras coisas que havia planejado escorregando entre os dedos feito areia. Meditei sobre aquilo. Lembrei-me que, quando criança, quando as coisas fugiam do meu entendimento, eu parava e as observava.

Com essa memória em mãos, hoje penso que foi como se eu estivesse decorando os passos de dança da vida. Mais do que gravar em minha mente, era como se eu vivesse aquela valsa para poder entrar e criar o próximo ato com ela, de um lugar mais calmo.

Então, ao invés de desistir da Oficina, percebi que, assim como na infância, as coisas não acontecem sempre como projetamos, mas nem por isso fecham portas. Podemos ver isso como caminhos, inclusive para poder compreender estes incômodos que surgem.

O dia da Oficina chegou e, assim como da primeira vez, meu coração, que vinha agitado, encontrou paz. Sintonizou com o momento e o movimento e foi criando passo a passo.

Afinal, aprofundar nos nossos escritos como se fossem espelhos da gente mesmo, nos ver como história de vida e valorizar nossos aprendizados de vida cotidiana é o que sempre aconteceu em minha jornada com a escrita, com a expressão. Ser escutado, ser escutador, para mim, já estava por aí de algum modo.

Este texto mesmo é uma reflexão sobre isso. Sobre alguém que se percebeu ao longo destes dias. É um lembrete. Durante este encontro aprendi muito. E aprendi ouvindo as histórias de vida que ali estavam presentes. E levo para casa duas palavras que fazem parte desse momento.

Um dos participantes, trouxe para o meu dicionário o regionalismo “Barril”. Essa gíria baiana é utilizada muitas vezes para significar “difícil”, disse ele. E também podemos falar “Barril dobrado” — quando algo está muito difícil. E foi assim que me senti dias antes do nosso encontro e agora sei um nova forma de falar dessa sensação.

Mas também fui lembrado na Oficina, por outra marinheira dessa jornada, que existem dias em que estamos na arrebentação. Sabe quando você entra no mar e, para alcançar um lugar calmo entre as águas, precisa passar pelas ondas que te pegam ali no começo? Pois então, por vezes, estamos ali. E precisamos respirar e nos concentrar, aprender com essa fase para alcançar a calmaria.

Não precisamos sempre partir da crença que tudo na vida passa por um lugar de esforço ou de dificuldades (de barriada) se nos colocarmos na posição de curioso diante da vida. Mais no aprender do que no resistir.

Aprendi muito naquele fim de semana. E seguirei curioso e contemplando um mundo muito interessante que existe dentro e fora da gente. Aguardem, logo mais temos mais oficinas acontecendo.

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Edu Alves
kayua
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