UM EXERCÍCIO DE PACIÊNCIA

Edu Alves
kayua
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3 min readApr 12, 2019
Fonte: Pexel

Era 7h15 da manhã e o aplicativo de trânsito havia me dito que eu chegaria em pouco menos de 30 minutos ao meu destino. No entanto, já se passavam 40 minutos da minha presença dentro de um veículo rumo ao meu compromisso. E, por mais de uma vez, me vi sendo consumido pela busca de explicações para o motivo da minha paciência terminar tão rápido quando o assunto é trânsito.

Não sou adepto ao volante e um dos motivos é o receio de onde minha falta de paciência me leva quando ela é extremamente desafiada. Entenda que, morando em São Paulo, lidar com o trânsito não deveria ser algo tão estressante assim, mas, no meu caso, é, sim, um tema que me incomoda bastante. A sensação de estar ali, parado, e não poder fazer nada para mudar me deixa um tanto inquieto.

Já pelas tantas, meus dedos rolavam na tela do celular buscando não sei o quê. Não passo muito tempo ao celular em movimento, me dá náuseas, mas, naquele momento, me parecia o mais certo a fazer. Abri os zíperes da mochila buscando algo mais palpável, que eu pudesse, literalmente, folhear e me dei conta que havia abandonado este hábito, o da leitura, no uber e adotado a meditação.

Encontro comigo mesmo

Fechado no veículo, busquei, mentalmente, anular a presença de buzinas e zunidos vindos do lado de fora, dos outros carros. O motorista, muito sensato, percebeu que eu buscava me conectar com algo e silenciou. Talvez ele não soubesse o que, mas entendia que aquilo seria importante no momento.

No início, sentia precisar canalizar toda a minha energia para tal atividade: meditar. Mentalmente, subi e subi. Subi mais e mais, rumo ao campo perolado. Sou Thetahealer e a meditação utilizada nessa técnica terapêutica é a que mais me adaptei. Ela abre campo para a minha intuição, tão inquieta e expressiva, aflorar. E ela saberia o que fazer naquele momento por mim. Subi mais e assim fui adiante. Até o coração acalmar. Até ele se sentir conectado com algo que transcendia aquele emaranhado que me envolvia.

Naquele lugar, ouvi de mim mesmo: “respeite o tempo, respeite o imprevisto, abra mão do controle e lide com o que se apresenta agora”. Meu corpo se acalmou, a tensão nos meus ombros diminuiu e, aos poucos, abriu espaço para a leveza ir me ocupando.

A espera

A paciência é uma virtude muito presente em mim, mas, naquelas circunstâncias, ela nunca se apresentava. Naquele momento, percebi que ela lutava com algo muito forte. A sensação de que aquele contexto me tira o controle. Percebi que a minha virtude da paciência está confortável quando navega por mares conhecidos, dos quais o Google Maps não recalcula a rota (ou o tempo).

O trânsito apresentava um papel em minha vida naquele momento. Ele não me ensinou só sobre esperar, ele estava me mostrando como lidar com o desafio de abrir mão do controle. De lidar com o que se tem, de acumular aprendizado diante da nova situação e liberá-la de carregar o peso do erro, o peso do “eu deveria ter pensado nisso”, ou, pior “por quê eu não saí mais cedo como eu previa e CONFIEI no que vi?”. O trânsito me ensina sobre confiança. Sobre não jogar fora a otimismo depositado, mas, sim, entender o que melhor ele trouxe, mesmo não sendo preciso como a minha expectativa gostaria.

Ainda em meditação, vi outros momentos dos quais questionei porque pessoas não estão no mesmo compasso que eu, porque sentia uma certa inércia espalhada por aí? Aquele exercício de paciência no trânsito estava ali para me recordar sobre isso. Me mostrar que não é o meu ritmo que define o mundo, mas que as coisas acontecem em sua perfeição para incluir no meu caminho (e nos dos outros) o que precisamos para evoluir. E que o tempo que fiquei ali, naquele veículo, era o necessário para eu me conectar comigo mesmo.

Desci do carro no meu destino e fui, leve, tomar um belo café da manhã com uma grande amiga e falar da vida. Na volta para casa, nem percebi se havia trânsito ou não.

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Edu Alves
kayua
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