O RETARGETING DE OLAVO DE CARVALHO (ou nem tanto assim)

Leonardo Fouchard
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3 min readJun 4, 2019

Não há empresa que sustente sua existência no desconhecimento do público que a suporta. A durabilidade no mercado é intrínseca à percepção do contexto sustentável. E não no sentido verde da palavra, mas na resolução mais simples. Porque não existe venda sem diálogo e não existe diálogo sem público — de uma, duas, 20 ou milhares de pessoas.

Parece tão óbvio que afasta brevemente a virtude da estratégia. Pois, ora, nos aliamos naturalmente com quem compartilha de ideais similares e, sendo assim, o pensar suspende-se na ilusão do reflexo biológico. Mas a natureza não é facilmente manipulada. É necessário perceber as variações das correntes onde navegam os grupos que lhe pertencem. Pois, de outra forma, o contexto social absorve o indivíduo e elege novo representante — mais articulado, mais inovador, mais preparado. Em termos gerais, todo líder precisa significar o F5 do seu discurso repetidamente. Isso, claro, se buscar a continuidade de sua liderança dentro do mesmo target. Não existem idiotas úteis. O que existe são ciclos sociais que compartilham da mesma ideologia, liderados, agora sim, geralmente, por um idiota estratégico.

O que diferencia líderes de liderados é a existência de estratégia e sua aplicação.

A imagem, de CPF ou de CNPJ, está muito mais volátil. Não só é extremamente difícil mantê-la, como é infinitamente fácil perdê-la. Os posicionamentos caminham para flertes ideológicos e complicam a polarização absoluta do indivíduo. Pois ainda discutimos rumos, e não destinos. E, enquanto correr dessa forma, toda comunicação carrega o risco da contradição. Detalhe importante para filósofos políticos e partidos canalhas é que a confusão generalizada entre “o quê” e “como” transforma a construção estratégica em pensar fácil e direto. Na medida em que se torna nítida a divisão de classes, cleros e crenças.

Olavo de Carvalho não é desprovido de capacidade cognitiva. Em absoluto. Burrice não asfalta estrada de sucesso. Assim como Bolsonaro, mas este é enredo para outras linhas. Olavo sabe do seu enfraquecimento. Não por diminuição do número de adeptos, pois construiu sua reputação de forma sólida na base que lhe compete. Mas pelo aumento exponencial daqueles que o desaprovam. Superficialmente, o entender pode equivocar-se na leitura, pois, não havendo mudança direta nos apoiadores, aparentemente se segue com a mesma importância. Porém, o acréscimo de dislikes desgasta uma imagem que passa a exigir mais energia na defesa do que no apoio. Desgaste do líder reflete em cansaço dos liderados.

Então, ele agiu. Posicionou-se mais ao lado da ignorância. Flexionou os neurônios para encurtá-los e acolheu os terraplanistas em um abraço curto e tímido. Alterações na reputação não podem ser bruscas. Apenas em alguns casos, quando a mudança ordinária do pensamento já aconteceu. Olavo de Carvalho decidiu que sua estratégia de renovação é aliar-se ainda mais a ausência da ciência. Porque não existe desgaste nas mentes que excluem a habilidade de pensar.

Olavo é um dos nossos maiores crimes sociais.

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