Como não levar sua empresa à ruína em 2019

Khevin Mituti
Khevin‘s Blog
Published in
21 min readAug 22, 2019

2019 é um ano marcante para o profissional moderno.

É o ano da virada de chave de pequenos empreendedores e empresas que conseguem agora facilmente subir um website e divulgar seus produtos nas redes sociais com baixíssimo custo.

O sonho de iniciar um negócio de sua autoria e ver ele crescer é ordens de grandeza mais tentador do que trabalhar em uma empresa maior e mais burocrática.

Temos às vezes até aspirações mais ambiciosas.

Sonhamos com escritórios gigantes e arrumados, equipes centenas de vezes maiores, inúmeras ideias de sucesso para nossas empresas.

Sabemos, no entanto que a história não é exatamente assim. Para muitos.

A época de ouro das startups, como vinha se falando, chegou a um declínio significante nos últimos dois anos.

As empresas que cresceram, cresceram muito.

As que falharam não saíram nas notícias. Mas não conseguimos desviar de histórias de amigos, familiares, pessoas no geral que falharam ou tiveram suas empresas encerradas.

Tenho opiniões pessoais sobre o que pode ter acontecido com muitas dessas empresas.

Podemos até tentar adivinhar alguns problemas comuns, como o mau planejamento de recursos em um ambiente acelerado e contando com a “eterna esperança de encontrar um investidor”; ou até produtos, serviços e um modelo de negócios que simplesmente não virou.

Em ambos os casos, creio que o problema seja o mesmo. E o buraco é um pouco mais fundo.

Consigo facilmente generalizar minha escrita neste artigo, sem ainda apontar exemplos, porque creio que isto pode se aplicar a todas as áreas.

A premissa para todas elas é a mesma.

Sua empresa só vai obter sucesso de verdade se ela for espetacular.

E digo isso com a maior confiança do mundo.

Pense em quantas empresas espetaculares conseguimos citar e quantas vêm à mente.

Empresas de tecnologia, de vestimentas, de alimentação, de quantas outras áreas.

É fácil de identificar as latinhas da Coca-Cola Company mesmo em outro idioma.

Podemos dizer que espetacular é atingível.

Conseguimos citar até contra-exemplos. Padarias locais, bancas de hot-dog, tendas de pastel na feira. São ótimos, fazem seu papel, mas dificilmente se destacam o suficiente.

Claro, a tenda de pastel desse lado da rua pode vender pastéis com recheio menos gorduroso e uma massa mais gostosa do que a do fim da rua.

Mas isso são detalhes.

No fim, um pastel de feira é quase sempre um pastel de feira.

Não quero criar uma contradição aqui.

Creio que existem inúmeras possibilidades para aprimorar a experiência de pastel de feira e torná-la notável, espetacular.

Mas nenhuma é aplicada. Ninguém liga.

A pergunta “É possível chegar em espetacular?”, portanto, já vem respondida.

Sim. Temos muitos exemplos ao nosso redor que validam essa hipótese.

Precisamos, então, de perguntas melhores:

O que estamos fazendo de errado?

Por que pouquíssimas empresas se tornam espetaculares?

Você é chato. Nada pessoal.

Comecemos uma reflexão.

A distinção entre algo notável e algo ótimo é o que levamos conosco disso.

É possível que você nem se lembre das últimas coisas ótimas que comprou ou consumiu. E sem esforço se recorde de algumas compras notáveis.

É possível também que essas compras notáveis se enquadrem em objetos de alto valor, de baixa quantidade, apego emocional, uma história peculiar, conquista pessoal. Qualquer motivo.

Elas são notáveis porque se destacam dentre a massa.

No livro “Purple Cow” de Seth Godin, o autor cita uma analogia perfeita para descrever o ambiente em que vivemos.

Imaginemos uma viagem ao interior com a família ou amigos e estamos no carro olhando para a janela.

Depois de alguns quilômetros de plantações, um grande pasto.

Nesse pasto, aparecem algumas vacas, todas com manchas diferentes.

Umas pretas, outras marrons, padrões diferentes de branco. Até uns bezerrinhos mesclados em meio à multidão bovina.

O dia bonito e ensolarado cria um ambiente agradável e as vaquinhas complementam isso.

Lá pelos dez minutos depois de olhar para aquele pasto, as vacas já são um saco. As vacas novas são iguais às antigas. O que antes era legal agora é repetitivo.

É chato.

Vacas, depois que você as viu por um tempo, são chatas. Podem ser vacas perfeitas, bonitas, simpáticas, mas ainda são chatas.

Uma vaca roxa, no entanto, isso sim seria interessante.
(Por um tempo, pelo menos)

O que quero dizer é que sua empresa é uma vaca.

Mentira.

Mas a analogia é essa. Uma vaca em um pasto com milhares de outras vacas. Diferente do seu jeito, mas semelhante em meio à imensidão.

Se ela fosse uma vaca roxa, verde, de duas cabeças, com asas. Aí isso seria diferente. Espetacular.

Seria notável.

Algo espetacular é algo que vale a pena falar sobre. Notável. Excepcional. Interessante.

As coisas chatas são invisíveis.

Vacas não são negócios. Não, pera.

Voltando para o mundo real, não creio que todas as empresas e startups sejam tão semelhantes das vacas, nem perto disso.

Mas em um presente mundo dinâmico em que empresas disputam por segundos de sua atenção — literalmente — só o espetacular é notável.

As pessoas também já começaram a se ligar das técnicas mais recentes de marketing nas redes sociais. Caem cada vez menos nos truques psicológicos dos marketeiros que os prendem em seu funil de vendas e tentam mantê-los lá para sempre.

“Receba este ebook de graça! Digite seu email neste formulário, depois te mandamos alguns emails falando sobre suas dores e como tivemos uma história de sucesso depois de cair no poço de estrume da vida. Clique no link para ver meu curso sobre coaching de produtividade!”

Isso é chato. É enrolação. É mais do mesmo.

E te prende em um ciclo vicioso e inútil.

Quantos emails vocês vão se desinscrever depois de ler um artigo porque eles não têm mais nada a agregar? Quantos vocês nem se lembram de terem se inscrito? Quantos vocês se inscrevem para permitir fazer algo — como baixar um arquivo ou se inscrever em um site — e logo em seguida já pedem para cancelar a inscrição?

Eu faço isso muito. Porque esses emails são um saco.

São notáveis por serem desagradáveis e inúteis em sua grande maioria. O que nós, usuários da internet, queremos é valor agregado. Benefícios diretos. Não queremos enrolação.

No primeiro instante em que eu me sentir enrolado, vou cair fora. Você não?

Parece que as empresas se esqueceram por quê existem.

Marketing não é milagroso.

Empresas deixam de crescer porque querem crescer demais ou muito rápido.

Seus fundadores pensam em crescer antes de resolver um problema bem. Se apaixonam por números, métricas, tem a maior pressa do mundo para ‘obter sucesso’.

Pesquisam qual a melhor forma de ‘aumentar suas vendas’, anotam algumas metodologias de segmentação de leads, montam eles mesmo um site no Wix ou alteram um template no Wordpress e começam a operar.

E aí investem pesado em marketing sem antes trabalhar melhor no problema.

Consequentemente criam campanhas e começam a investir recursos para divulgar seus produtos e serviços ordinários para pessoas que não os querem.

O problema aqui é grave porque esse ciclo pode se estender para sempre.

O buraco é mais fundo porque investir mais em marketing não resolve serviços ruins.

Divulgar mais para mais pessoas, direcionar seus leads, criar sua base de e-mails, desenvolver landing pages segmentadas… todas essas ferramentas fazem sentido somente quando as pessoas querem fazer uso daquele produto ou serviço.

Não me leve a mal, creio que todas essas estratégias têm seu papel na distribuição de informações em canais digitais.

Mas existem grandes chances das prioridades não serem essas.

Afinal, a ideia é divulgar um produto ótimo, ou uma solução notável?

Vamos falar de coisa boa.

Boatos que a publicidade tradicional morreu.

Com o apelo da internet e redes sociais, os canais tradicionais — TV, Rádio e Jornal, caríssimos e distribuídos desorganizadamente para públicos em massa — ficaram menos atraentes comparados às plataformas digitais e a acessível e segmentada distribuição de ads nas redes sociais.

Hoje em dia há uma quantidade e diversidade de dados muito grande em relação a como as pessoas interagem ao marketing, se comparado à ‘época de ouro’ das mídias de massa.

O marketing sabe muito mais sobre o seu público. E temos resultados disso.

Vemos conteúdo personalizado gerado por inteligência artificial em serviços de streaming de vídeo, anúncios personalizados nas redes sociais e até playlists personalizadas nos serviços de streaming de música.

Esses serviços tomaram o mercado jovem e já planejam a data que dominarão a maioria do mercado de transmissão.

Aos poucos, foram se assemelhando dos modelos que tornavam os canais tradicionais rentáveis. YouTube e Spotify, por exemplo, mostram comerciais entre vídeos e músicas para quem não paga sua assinatura.

É visível que ambos os modelos são mais escaláveis que televisão e rádio, pois criam uma comunidade fiel e tentam sempre estar próximos dela.

Entender, no entanto, que o marketing digital também está em crise é entender porque “Vamos falar de coisa boa” te lembra Tekpix mas você mal lembra do último anúncio notável do seu feed.

Seja um anúncio pago no Facebook/Instagram ou um vídeo de anúncio no YouTube/Netflix, é possível que você tenha passado despercebido da grande maioria deles nos últimos meses.

E a Tekpix?

Lembramos da chamada, mesmo depois de anos sem divulgação forte.

As câmeras não fizeram exatamente sucesso depois. Ela tinha uma chamada espetacular, mas não deu conta de entregar um produto espetacular.

Focou e investiu muito bem em marketing, mas não entregou um produto à altura.

As câmeras da empresa chegavam a custar mais de R$ 3.500 — mais do que o dobro de uma Samsung da mesma categoria com funcionalidades até melhores ou mais confiáveis, e que estava na faixa dos R$ 1.500 em 2012 quando a Tekpix estava “em alta”.

A campanha funcionou. Estamos falando dela até hoje.

Mas o modelo de negócios não deu conta.

Talvez a Tekpix nem soubesse muito sobre quem comprasse suas câmeras, já que a televisão distribui para todo mundo e não retorna muita informação sobre o que as pessoas acharam.

Lembra quem morreu?

Um pouco antes da revolução digital, a Kodak resolveu apostar no filme de rolo e revelação de fotos ao invés das câmeras digitais em grande emergência.

Uma década depois quase declarou falência.

Você pode dizer que a Kodak fazia as melhores câmeras e rolos de filme do século passado.

Com a era digital, no entanto, ela apanhou bastante de seus concorrentes ao apostar nesses próprios rolos de filme e pontos de revelação.

A Fujifilm, que era uma concorrente direta da empresa, também fazia câmeras e rolos de filme.

Mas adotou uma estratégia um pouco diferente.

O presidente da época viu que a Fujifilm poderia ser adaptada para mercados emergentes, como o de farmacêuticos, cosméticos e materiais altamente funcionais.

A companhia conseguiu prever o boom das telas LCD e investiu pesadamente nesse mercado.

Com a bagagem de tecnologia de foto e filme, criou o FUJITAC, uma variedade de filmes de alta-performance essenciais para criar painéis LCD para TVs, computadores e smartphones.

Em 2018, o FUJITAC ocupava 70% do mercado de películas de protecção polarizadoras LCD.

A Fujifilm obteve sucesso porque viu que podia atender pessoas com o que tinha, mesmo alterando um pouco seus produtos.

Foi atrás de resolver o problema das pessoas.

A Kodak declinou porque apostou que seus clientes seriam fiéis independente de outros benefícios de concorrentes pela qualidade do filme de rolo e revelação.

Não entendeu o que queriam e perdeu o mercado.

Podemos dizer que a Kodak deixou de ser espetacular.

Quanto custa uma experiência?

Do outro lado do espectro, uma das marcas mais fortes no ramo das câmeras hoje em dia é a GoPro.

Há quem diga que a GoPro proporciona às pessoas liberdade para curtir o momento e inspirar outras pessoas a fazer o mesmo, pois compartilhar experiências as torna mais significativas.

Vejam como não falei nada de câmeras?

O posicionamento de marketing da GoPro não a associa a somente um tipo de produto.

Tudo o que criam é elaborado para ajudar as pessoas a capturar a vida, compartilhar essa experiência e transmitir sua emoção para outras pessoas.

E se houver uma forma melhor de capturar e compartilhar esse momento, sinto do fundo da minha alma que a GoPro estará de olho.

O vídeo abaixo, comemorativo de 2 bilhões de visualizações do canal da GoPro, mostra tudo que suas câmeras possibilitam. Desde o salto da estratosfera da NASA, por aventuras radicais até filmagens incríveis de animais exóticos.

A GoPro deixa claro que pode capturar experiências incríveis com seus produtos. Frequentemente lança vídeos mostrando câmeras novas com funcionalidades para permitir isso.

Menores e mais resistentes, filmagens mais suaves, estabilizadas e com qualidade melhor.

Também entraram no mercado dos drones para possibilitar que a experiência GoPro fosse possível de ângulos diferentes.

A GoPro não é só fiel aos seus clientes, também é fiel à sua missão.

E essas pessoas acreditam nessa missão.

Não é sua culpa. Mesmo.

Neste momento você pode estar pensando “Que absurdo!” — “É claro que estou criando algo incrível, nunca antes feito. As pessoas precisam saber do que eu estou criando e vão querer quando virem, apenas não me conhecem.”

Você pode sentir e até saber que já existe uma série de pessoas interessadas em sua ideia de negócio ou até em sua empresa atual. E que elas precisam se informar de sua grande iniciativa.

E você pode estar certo!

Mas acho importante dar um passo para trás e refletir sobre essas pessoas.

Muitas vezes criamos suposições em nossas cabeças de que conhecemos as pessoas que servimos, mas nunca listamos isso no papel.

É interessante guardar informações sobre seu público como referência para aprimorar seu produto ou serviço com base em seus pedidos e desejos.

Perguntas que podem ser úteis:

  1. O que você sabe sobre esses interessados? Quem são, de que idade, quais seus hábitos comportamentais, que aspirações têm?
  2. Alguma vez pôde observar como agiram ao usar seus serviços? O que não estavam familiarizados, o que gostaram, o que não gostaram e como reagiram?
  3. perguntou o que pensam e como se sentem sobre seus serviços e sua empresa? As pessoas dizem e agem coisas diferentes, então é importante levar em consideração os dois casos. Elas podem se sentir incomodadas e não apresentar sinais claros disso, e se tomaram tempo a comentar é porque foi notavelmente desagradável.
Entrevistas são legais. Suposições são outra coisa.

É possível que eles fariam algo bem diferente e teriam ótimos motivos de por que fariam de outra maneira. E por que isso seria melhor para suas vidas.

Talvez você pense que entende melhor do problema que seus usuários.

Em “Rápido e Devagar”, Daniel Kahneman fala sobre como o viés de confirmação é um fenômeno recorrente em nosso cérebro, em que favorecemos argumentos que validam nossas atuais crenças e suposições.

Por exemplo quando temos posições políticas procuramos formas de validar e reafirmar que candidato A é melhor que candidato B. Buscamos maneiras de exaltar o candidato que gostamos e de denegrir o que não queremos no poder.

Por interpretar informação de uma maneira que só suporta nossas próprias crenças e lembrando os detalhes que sustentam essas crenças, muitas vezes perdemos informações importantes.

Não buscamos fatos com objetividade.

Esses detalhes e fatos poderiam ter influenciado a decisão de qual candidato apoiar. Isso faz com que percamos a objetividade com o problema real que é a pauta em discussão.

Nos perdemos em nossas próprias suposições e enxergamos o problema aos nossos olhos, não como ele é.

Há formas de driblar o viés de confirmação e validar se estamos apenas confirmando o que já acreditamos ser verdade.

Confrontar nossas próprias ideias melhor estabelecidas também pode ser um bom exercício mental.

Artistas e filósofos vêm a ser as profissões mais adaptadas a esse confronto constante de ideias.

É clichê sabido que Leonardo da Vinci costumava posicionar um espelho ao lado de suas pinturas para observá-las espelhadas, pois escrevia sobre isso em seus diários que são amplamente divulgados pelo mundo e internet afora.

Observava suas pinturas em um espelho enquanto as produzia. Assim, as observava de outra perspectiva, com olhos frescos, como se outro artista tivesse as pintado.

Procurava imperfeições por outro ângulo e fugia dos vieses de olhar para o mesmo quadro por horas seguidas.

Quando se trabalha na mesma empresa ou faz-se a mesma coisa por meses seguidos, o efeito do viés na pintura que Leonardo tenta evitar é o mesmo.

Você não vê algumas imperfeições ou detalhes a corrigir. Ou despercebe até a composição por inteira porque está acostumado com a obra.

Acredita fortemente em uma ideia e pode estar preso a ela. Até de forma danosa.

Essa é a má notícia.

A boa notícia é que existe uma forma simples de iniciar a resolução desse problema.

Não, não vou pedir seu e-mail ou tentar divulgar um curso ou ebook.

É mais sobre pessoas do que vacas.

Até agora vimos que:

  • Apenas uma vaca roxa se destaca no pasto — apenas produtos e serviços notáveis, espetaculares, excepcionais vão obter sucesso exponencial.
  • O pasto está cheio de estrume — as pessoas não caem mais nas armadilhas costumeiras do marketing que engana.
  • Ter mais vacas é ir na direção errada — marketing não é milagroso e investir mais em ads não vai necessariamente te dar resultados melhores.
  • O que as vacas pensam do pasto? — atente-se ao viés de confirmação e tente olhar o problema por outra perspectiva, como a do cliente.

Devemos entender que estamos criando soluções para outras pessoas, não para nós mesmos. E com certeza existe um grupo de pessoas interessadas em sua ideia, produto, marca, empresa, o que você quiser.

Vocês podem discordar de detalhes da solução, mas pelo menos têm o mesmo objetivo de resolver o problema X ou a dor Y.

Entraremos em uma análise mais técnica do que pode estar acontecendo, mas prometo não me aprofundar nem complicar demais no assunto.

A curva abaixo é só uma representação visual de como funciona a adoção de inovação por um público.

Não é uma representação real idêntica, mas funciona para explicar nosso conceito.

Inovadores (2.5%), Adeptos Iniciais (13.5%), Maioria Inicial (34%), Maioria Tardia (34%), Retardatários (16%)

À esquerda do ‘abismo’, encontramos as primeiras pessoas que entram em contato com as marcas, os inovadores e os adeptos iniciais.

São eles quem estão torcendo para sua empresa existir e serão os primeiros a te encontrar na internet e querer comprar seus serviços.

À direita, os dois fragmentos do meio do gráfico, as pessoas que usam o produto depois que ele já pegou.

Estes são influenciados pelos primeiros e por eles mesmos, mas não se arriscam a usar o produto de início e também não divulgam ele tanto.

Por fim, os retardatários, que só começam a utilizar um produto novo quando a tecnologia que usavam já está completamente ultrapassada.

Peço que se atentem aos dois primeiros grupos, da esquerda do abismo.

Os inovadores e adeptos iniciais são os mais importantes em toda a trajetória de sua empresa, porque são eles quem vão a acompanhar até o fim.

Seja o seu fim, ou o deles.

E pode ser seu fim para eles, caso você deixe de ser notável.

O abismo também existe porque deve existir um tempo considerável para refinar o produto ou serviço com os inovadores e adeptos iniciais antes de distribuir para as massas.

Você está criando algo para o grupo que é mais fiel a você.

Esse é o grupo que divulga seu negócio por você. Que comenta nas suas publicações. Que te dá feedback de graça.

Essas pessoas querem seu sucesso tanto quanto você.

Menos é mais.

Acontece que as empresas adotam uma estratégia que de início parece lógica: distribuir para as “maiorias”, — ápices do gráfico — pois é onde se concentra a maior quantidade de pessoas.

Têm pressa e ansiedade para agir.

“Precisamos iniciar as vendas! Depois resolvemos as coisas aos poucos”.

Com recursos suficientes de marketing, é sim possível distribuir e rentabilizar um produto para qualquer grupo.

Mas atacar as massas com um produto falho possibilita uma série de problemas associados à sua distribuição. Isso prejudica a própria escalabilidade da empresa, já que fica refém dos mesmos processos danosos.

Distribuir um produto problemático em grande escala pode gerar uma imensidão de problemas.

Dependendo da gravidade da falha, pode haver recall, redistribuição, devolução, problemas de logística, pessoas podem se sentir ofendidas com seu posicionamento, pessoas podem se machucar… dentre inúmeros outros problemas.

Lembram dos Galaxy S7 explodindo? Não é legal distribuir produtos problemáticos em escala.

Explosões de celulares são problemáticas.

Sabemos que nossos produtos não têm a complexidade de um smartphone ou a escala de distribuição da Samsung.

Mas a entrega de um produto com uma falha de segurança gravíssima pode causar a ruína de uma empresa em ascensão.

Por isso, no início, queremos nos aproximar ao máximo desse grupo de inovadores e adeptos iniciais e não da grande maioria das pessoas.

Eles provavelmente estarão bem mais interessados em seu produto ou serviço e em como ajudar a adaptá-lo para a realidade.

É entendendo quem são, que problemas enfrentam e o que têm a dizer sobre isso que podemos elaborar soluções realmente criativas e úteis, que estão mais próximas de resolverem os problemas que se propõe a resolver.

Sua prioridade é servir. Se conseguir resolver o problema de uma pessoa muito bem, outras irão atrás de você.

Esse é o canal para criar uma solução realmente direcionada para um público. Buscar a perspectiva deles.

Esse público quer seu sucesso tanto quanto você.

Talvez você não entenda o que é seu sucesso para eles ainda.

O que chega ao ponto do artigo.

Vocês estão trabalhando ao contrário.

Em uma de suas inúmeras entrevistas, o fundador da Amazon, Jeff Bezos, tocou em algumas lições atemporais que aprendeu e considera importantes para seu sucesso contínuo e em diferentes áreas.

As três grandes ideias são: (1) pense em uma escala de tempo diferente, (2), coloque o cliente em primeiro lugar, e (3) invente.

“Estamos focados no pensamento ao longo-prazo, colocando o usuário no centro de nosso universo e inventando. Essas são as três grandes ideias para pensar a longo termo, porque invenção demais não funciona. Se você vai inventar, significa que você vai experimentar, você tem que pensar a longo-prazo. Os três conceitos, foco no cliente, pensamento a longo prazo e paixão por invenção, vão juntos. É assim que fazemos e, a propósito, nos divertimos muito trabalhando dessa maneira.”

Pensar a longo prazo nada é que ter objetivos estratégicos e uma visão/missão a longo prazo que queremos cumprir.

Focar no cliente significa entender que estamos projetando soluções para pessoas reais e que são elas que ditam o que é ou não é útil.

E inventar é procurar soluções diferentes e mais eficazes para os problemas que enfrentamos.

Podemos verificar que essas três ideias também são encontradas de formas diferentes em outras grandes empresas de tecnologia que podemos considerar de ‘sucesso’.

Outra empresa que sempre foi conhecida por inovar, pensar no longo prazo e tomar conta de seus usuários é a Apple.

Desde a época de Steve Jobs, a empresa sempre focou em soluções intuitivas, minimizar problemas e fricção, criar experiências consistentes e de qualidade.

É inegável que essas empresas tenham uma preocupação grande em ter design como pilar da empresa. Procuram entender seus usuários, criar produtos inovadores e excepcionais e mantém uma estética consistente com a imagem que a empresa quer passar.

Eis, portanto, o ponto:

A velha conversa de ‘só precisa ajustar o design’ precisa acabar.

Em outro artigo, expliquei a diferença entre design e arte e como o primeiro foi feito para solucionar problemas e cumprir objetivos de negócios.

O senso comum contraditório acontece quando as pessoas enxergam design como algo que “embeleza” as coisas. Que aprimora a estética.

“Já fiz metade aqui, preenchi com o que eu pensei e conseguia fazer, se der para arrumar e deixar bonito…”

Claro, podemos ajustar o visual, tornar alguns padrões mais consistentes e ajustar as proporções de qualquer peça. Um poster, um logo, um website, um anúncio. Terão conhecimento técnico para ‘embelezar e dar vida às coisas’.

Mas aí desconsideramos todo o alinhamento estratégico entre os objetivos da empresa e o que o design deve cumprir de fato.

Wireframes — pensando na solução como um todo antes de implementar cada tela.

Enxergar design como a peça final que resolve alguns problemas estéticos depois da implementação inicial é como colocar a estrutura de ferro de um prédio depois do concreto.

Sem a estrutura inicial não temos a base suficiente para dar sustentação nem direção para a estrutura final.

Vou usar aqui a mesma analogia de meu outro artigo.

Design é como arquitetura.

Existem objetivos, restrições que controlamos e que não controlamos, informações históricas que podemos levar em consideração no projeto, conceito, especificações de cômodos, andares, enfim.

Não se resolve a estética de um prédio ou de uma ponte no fim de sua implementação.

Assim como não se pede para um arquiteto ‘terminar seu projeto de escritório’. Ele vai fazer outro do zero, mas se baseando no que você queria cumprir no primeiro projeto.

Estou errado?

O conceito inteiro deve ser apenas um. E alinhado com os objetivos da empresa, desde sua concepção até sua implementação final.

Claro, existirão mudanças, problemas e imprevistos. Mas a base do projeto, os objetivos e o conceito se mantém.

Por que empresas, marcas e experiências deveriam ser diferentes?

Pense antes de agir.

Não estamos falando de visuais super estilizados ou montar um sistema de design hiper complexo desde o início da empresa.

Não.

Mas envolver design desde o começo, como um dos pilares da empresa, possibilita uma comunicação melhor entre estratégia e implementação.

Designers farão perguntas pontuais sobre sua empresa, o contexto do mercado, seus competidores, seu público. Essas informações são importantes para eles e para você.

São informações que você precisa saber para saber onde irá chegar.

E são informações que eles precisam saber para tomar decisões técnicas de verdade.

Designers são comunicadores. Utilizam elementos verbais e visuais para entregar mensagens de um indivíduo (ou empresa) a outro.

Para repassar essas mensagens de uma forma clara e apelativa, deverão fazer perguntas sobre seus serviços, quem usa eles e o que pensam dos serviços, quais os benefícios associados ao uso desses serviços, e como vocês pretendem se posicionar no mercado.

A meta é gerar uma estratégia que cumpra os objetivos de negócio iniciais, baseada em informações reais. Não em suposições.

E depois implementar essa estratégia em algo visual e verbal.

A ideia não é só desenhar antes e implementar depois.

É pensar antes de agir.

Alinhar objetivos de negócios com estratégia criativa.

É importante que existam designers envolvidos no projeto desde o início e que eles estejam familiarizados com estratégia criativa.

Isso deve ser um pilar de qualquer empresa.

Podemos começar simples. Existem inúmeras metodologias de estratégia criativa. Uma delas ainda está na moda e é bem simples de passar o conceito.

Design Thinking nada mais é do que uma metodologia de definição de problemas e gerenciamento de soluções.

É um framework para ouvir pessoas, definir problemas e continuamente gerar soluções para esses problemas, validando realmente qual o problema a ser resolvido.

Certos designers e empreendedores mais novos ovacionam o design thinking como algo mágico e inovador. Mas nada mais é do que uma forma organizada de definir um problema e gradualmente gerar uma solução direcionada para ele.

Essa metodologia de trabalho também vem sendo utilizado por profissionais criativos há décadas.

Então não é nada de nova. Mas ainda é atual.

Design Thinking pode ser resumido em cinco passos, percorridos em ordem.

Serei breve, prometo.

  1. Empatizar — entender o problema e criar empatia pelo público, observando e engajando com ele para entender experiências e motivações.
  2. Definir — reunir a informação que você criou no primeiro estágio e sintetizar ela para definir problemas chave.
  3. Idear — gerar ideias e identificar soluções para os problemas encontrados no segundo estágio e maneiras diferentes de encarar esses problemas.
  4. Prototipar — produzir versões simples e de baixo custo do produto com funcionalidades específicas para validar as hipóteses das soluções no terceiro estágio.
  5. Testar — é um processo iterativo que analisa um ou mais problemas, soluções e o entendimento dos usuários para então gerar medidas a serem tomadas.

A ideia é isso ser um ciclo. Terminando o último passo voltamos para o primeiro com conhecimento incrementado.

Ao definir nosso público e constantemente iterar nossos problemas e soluções, nos vemos atendendo a pessoas ao invés de criar soluções sem uso.

Não criei esse artigo inteiro para te passar o conceito de Design Thinking.

Podemos pensar nessa metodologia ou em qualquer outra semelhante como exemplo. O importante é entender que ela é uma base para resolver problemas, gerenciar projetos ou crescer empresas.

Existem outros frameworks que não são design thinking e que podem ser aplicados no lugar e também obterão resultados positivos.

Seja qual for a metodologia, garanto que ela vai priorizar entender o problema muito bem logo de início e transformar essas informações gradualmente em uma solução utilizável.

Pense antes de agir.

A premissa sempre será essa.

Uma solução que é utilizada por pessoas e que é constantemente aprimorada pensando nos problemas dessas pessoas pode enfim se tornar espetacular.

São elas quem dizem o que é ou não espetacular.

Portfolio e ferramentas para designers e artistas:
www.khevin.com

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